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O nazismo em quadrinhos: conheça ótimas HQs sobre a Segunda Guerra

Escrito por Gabriel Faria

O nazismo tem retornado aos principais assuntos discutidos na mídia graças às recentes vertentes neonazistas dando as caras nos Estados Unidos, com protestos contra gays, judeus, negros e imigrantes. A ideologia de extrema-direita surgida no final dos anos 30 na Alemanha também é discutida em diferentes formas de arte, como no cinema, nos livros e nos quadrinhos.

Os quadrinhos em especial possuem um longo histórico de representação e batalhas contra os nazistas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os americanos utilizaram as HQs para motivarem as tropas enviadas à Guerra, e personagens como Superman e Capitão América até mesmo lidaram diretamente com figuras como Hitler. A Sociedade da Justiça atuou durante a Segunda Guerra. Na Marvel, temos vilões como o Caveira Vermelha e a Hidra, enquanto na DC Comics temos o Capitão Nazi, vilão recorrente do Shazam. Além dos super-heróis, quadrinhos de guerra também eram populares durante os anos 40 e 50, e grupos como os Falcões Negros surgiram neste período, ao lado de personagens e séries como Soldado Desconhecido, Tanque Mal Assombrado e G.I. Combat, seguindo a mesma vertente. Obviamente, o assunto é muito mais extenso, e poderíamos falar sobre ele por longos parágrafos.

Após (e até mesmo durante) os conflitos da Segunda Guerra algumas obras-primas dos quadrinhos foram surgindo, lidando com o assunto das mais variadas formas. O mercado europeu, em específico, sentiu muito mais o conflito e por conta disso boa parte dos autores são impactados e influenciados pelo tema, além de possuírem muito mais conhecimento histórico que a média de autores de outros países. O Tintim de Hergé, por exemplo, era publicado durante a ocupação da França, e enfrentou problemas como a falta de papel e a necessidade de ser publicado em jornais pró-Alemanha Nazista. Spirou, de Rob-Vel, enfrentou problemas parecidos. Autores da época, na visão menos elucidada de alguns leitores, são assumidos como nazistas, quando na verdade como fator de comparação, o próprio Hergé criou em O Cetro de Ottokar um vilão chamado Mussler, um amálgama de Mussolini com Hitler, e criticou as formas de governo totalitárias em álbuns específicos como A Estrela Misteriosa. O impacto da Segunda Guerra nos quadrinhos europeus também é um assunto extenso e interessante, esmiuçado em literaturas e documentários.

O objetivo deste post é recomendar, com pequenos textos, ótimas obras sobre o assunto, que servem como verdadeiros relatos históricos ou misturam ficção e realidade, e tornam-se fontes de aprendizado para os leitores. Abaixo, segue uma lista de recomendações, com quadrinhos publicados no Brasil e de fácil (ou relativamente fácil) acesso:

Eu Sou Legião (Panini)

Europa, 1942, tempos de Segunda Guerra Mundial. Um ritual de sangue acaba com a morte de Victor Thorpe. O crime se torna um mistério para a inteligência dos Aliados. Enquanto isso, na Transilvânia Romena, uma garota capaz de controlar outros seres vivos à distância está prestes a se transformar na mais poderosa arma dos nazistas

Sorge, O Espião (Veneta)

Mais surpreendente que tantos espiões dos livros de ficção, Richard Sorge mudou a história da Segunda Guerra Mundial. Baseada nas mais recentes descobertas e pesquisas históricas, a alemã Isabel Kreitz criou esse livro, em quadrinhos, que retrata o homem que se tornou uma lenda. E o que ela revela é um herói contraditório, desesperado, bon vivant, mulherengo, mas pronto a morrer pelos seus ideais.

A Busca O Segredo de Família (Cia. das Letras)

A Busca é um abrangente panorama da perseguição nazista e de como as ideias de um homem afetaram de modo tão brutal a vida de milhões de pessoas. Com apenas dezesseis anos, Esther é bruscamente separada de seus pais e refugia-se em uma fazenda no sul da Holanda. Muitos anos depois, em companhia do filho e do neto, Esther visita o lugar que lhe serviu de esconderijo e conta, pela primeira vez, as atrocidades que ela presenciou e viveu durante o Holocausto.

Em O Segredo de Família, fiel aos acontecimentos históricos, pessoas comuns assumem papéis variados – vítima, observador, colaborador, criminoso – e têm que tomar as decisões mais importantes e difíceis de suas vidas. Quando Jeroen vai ao sótão da avó Helena procurar algo interessante para vender, ele descobre o livro de recortes que ela manteve durante a Segunda Guerra Mundial. Esse fato desperta memórias dolorosas, e leva a avó a contar pela primeira vez a Jeroen como foi ser uma menina em Amsterdam durante a ocupação alemã da Holanda e sobre a perda de sua melhor amiga judia, Esther.

Adolf (Conrad)

Mangá de Osamu Tezuka, a história é ambientada antes da Segunda Guerra Mundial e é centralizada em três personagens de nome Adolf. Adolf Kamil é um judeu Asquenaze que mora no Japão. Seu melhor amigo, Adolf Kaufmann, é descendente de japoneses e alemães. O terceiro Adolf é Adolf Hitler, ditador da Alemanha.

Maus (Cia. das Letras)

Maus (“rato”, em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Nas tiras, os judeus são desenhados como ratos e os nazistas ganham feições de gatos; poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros.

1945 (NewPOP)

Mangá de Keiko Ichiguchi, em 1945 Elen e Max são dois irmãos, adolescentes que não gostam nada do estilo dos nazistas, partido que comanda a Alemanha. Além dos dois, há também Alec, que é um dos protagonistas. Elen e Max se conhecem e se apaixonam, mas a guerra entra na vida dos três. Max e Alex vão para a frente de batalha e lutam contra a Rússia. Max fica horrorizado com a violência das batalhas e quando retorna à Alemanha, organiza um grupo de estudantes que passa a distribuir panfletos contra o regime nazista. Por outro lado, Alex entra para a Gestapo, motivado por seu ódio aos judeus. A partir daí você segue pelo roteiro que mostram as dúvidas de todos os principais personagens frente ao conflito da guerra.

A Guerra de Alan (Zarabatana Books)

Esse livro é o relato gráfico da vida do soldado norte-americano Alan Ingram Cope durante a Segunda Guerra Mundial. A graphic novel mostra a fase de alistamento e treinamento do jovem em bases militares norte-americanas, os combates nos últimos meses da guerra na França e Alemanha, e a vida de Alan no pós-guerra na Europa.

O Boxeador (8Inverso)

Narrada pelo ponto de vista do filho do pugilista amador Hertzko Haft, a história de O Boxeador retrata um lado ainda pouco conhecido da Segunda Guerra Mundial – a prática do pugilismo como forma de sobrevivência em campos de concentração nazistas.

Campos de Batalha (Mythos Editora)

Coletânea de histórias de guerra escritas por Garth Ennis, publicadas pela editora norte-americana Dynamite, este encadernado possui histórias ambientadas no ano de 1942 e lida com esquadrões de bombardeiros, o lado oriental da guerra e todos os dramas de romance e tragédia da época.

A Força da Vida (Devir)

Em A Força da Vida o genial Will Eisner examina as vidas e os sonhos, as esperanças e os temores de personagens comuns que perseveram e sobrevivem à Grande Depressão econômica dos anos 30. Então, em meio a essa luta diária, a ascensão da Alemanha de Hitler projeta sua longa sombra sobre os moradores de um cortiço na Avenida Dropsie.

Era uma Vez na França (Galera Record)

Era uma Vez na França, de Sylvain Vallee, narra a história de Joseph Joanovici, um judeu na França ocupada na Segunda Guerra Mundial que construiu sua fortuna através dos nazistas. Mas qual será a verdade sobre sua história?

Jambocks! (Zarabatana Books)

Jambocks!, de Celso Menezes e Felipe Massafera, apresenta uma bela graphic novel sobre um tema pouco explorado nos quadrinhos brasileiros – a participação da Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra Mundial –, e que envolveu um grande trabalho de pesquisa dos autores, e conta como foram os primórdios da Força Aérea Brasileira e sua atuação na guerra.

O Mensageiro Verde-Cinza (SESI-SP Editora)

Em O Mensageiro Verde-Cinza, história situada em 1942, Bruxelas está ocupada e Spirou atua como um membro ativo da Resistência. Porém o coronel alemão Von Knochen, principal hóspede do hotel Moustic, está prestes a encurralar uma das mais importantes redes da resistência belga.

O Diário de um Ingênuo (SESI-SP Editora)

História situada em 1939, O Diário de um Ingênuo lida com o início da Segunda Guerra, sendo um dos mais premiados álbuns da série Spirou de, mostrando mais do lado e consciência política do personagem e seus coadjuvantes.


No Brasil outras editoras mais antigas, como Abril e Ebal, publicaram histórias ambientadas na Segunda Guerra Mundial. O catálogo de obras que exploram o assunto, tão antigo porém atual, é muito mais extenso. As recentes polêmicas nos EUA, que motivaram campanhas no Twitter onde pessoas publicam cenas antológicas de heróis batendo em nazistas, são retratos claros de como algumas pessoas não aprendem com os erros do passado, e também de como a ‘ideologia‘ preconceituosa ainda é tão forte no mundo, por mais surreal que isso possa parecer.

Cabe a cada um nós, como futura e atual geração, estudar sobre o assunto e tentarmos ser melhores com o passar dos anos, começando hoje mesmo. E como foi mostrado acima, muitas histórias em quadrinhos podem colaborar com essa mudança positiva e até mesmo ensinar história pra muita gente. É só saber onde procurar, evitando que se fale besteira na internet e na vida real.

Agradecimentos especiais ao Pedro “Hunter” Bouça

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.