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O Menino Maluquinho, Ziraldo, Meu Pai e boas Lembranças

Escrito por Ricardo Ramos

O ano realmente eu não consigo me lembrar. Acho que eu deveria ter uns 10 ou 11 anos, ou seja, entre os anos de 1990 e 1991, realmente não lembro. Mas todos os momentos daquela leitura ficaram vivos e pulsantes na minha cabeça. Mas foi por toda atmosfera em volta e tudo aquilo que o livro O Menino Maluquinho representou para minha vida. A representação veio em formas diversas, com memórias deliciosas, conscientização de como o tempo passa, aproveitar a infância e pela divisão de leitura com o meu pai.

Contextualizando o tempo para vocês, O Menino Maluquinho me foi apresentado via os famosos livros extraclasses que as escolas pediam para ler durante o ano letivo, um adendo aqui em relação essa prática, que desculpem a ignorância, não sei se as escolas ainda adotam. Mas lembro de muitos alunos não ligarem para a leitura, por associarem aquilo à alguma prova, ou teste, e simplesmente não realizaram as leituras e por uma associação imbecil, não tiveram, e não quiseram, ter o hábito de ler na vida em geral. Mas esse método me apresentou Pedro Bandeira, Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Jorge Amado, Quino e claro Ziraldo. E assim, por meio de uma lista de material escolar, me chegou O Menino Maluquinho.

A versão que meus pais compraram foi a uma pocket, que infelizmente se perdeu com o tempo. O livro era pequeno, o que tinha se tornado uma novidade para mim, pois até então nunca tinha visto uma versão daquela. E quando chegou a época de realizar a leitura mergulhei no livro. E sim, foi uma leitura voraz e veloz. Fiquei tipo: “ué… mas já acabou?”. E retornei mais uma vez a leitura, e reli, reli, reli, reli… tinha me tornado craque no livro e extremamente apaixonado. Ali me inspirei em brincadeiras com meu irmão. Fazia mapas de tesouro e criava corridas de dados, assim como estão descritas por Ziraldo.

O Menino Maluquinho traz a história de um garoto, entre seus 8 e 9 anos, muito esperto, ativo, que usa uma panela na cabeça e se diverte muito com os amigos, sempre usando demais a imaginação, criando brincadeiras e aprontando traquinagens. E essa imaginação, típica de uma criança, é o que me fazia viajar e também me trouxe pensamentos sobre a vida. Afinal, o Menino Maluquinho, no final das contas não era Maluquinho, era um menino feliz. E isso me fez pensar muito se eu tinha essa felicidade na época. Obviamente uma coisa que uma criança de 11 ou 12 anos não deveria pensar, e resolvi aproveitar a infância.

A editora Melhoramentos está lançando uma nova edição que será um item digno de colecionador, com 120 páginas, acabamento cartonado, capa dura e miolo colorido. E tem, como complemento, um marcador de páginas especial, ao estilo do personagem, além de um paper art, que o leitor destaca e monta, formando um objeto ser guardado. Entre as curiosidades na edição,  fala que desde seu lançamento, em 1980, já teve 129 edições, em mais de 10 países, e vendeu 4 milhões de exemplares.

Em 2020 temos muito o que comemorar, o livro O Menino Maluquinho completa 40 anos e recebeu. olha só! Está com a minha idade! O mestre Ziraldo irá completar 88 anos no final de outubro e podemos e devemos sempre agradecer e repassar a sua obra para o futuro, assim como passarei O Menino Maluquinho para a minha filha de 4 anos. Assim como meu pai leu comigo na minha época. A lembrança dele alternando comigo a leitura e falando de macaquinhos no sótão ou vento nos pés são fortes e reconfortantes. Meu pai foi um cara que veio da Bahia para o Rio de Janeiro, trabalhou a vida toda atrás de um volante de ônibus e nunca deixou de apresentar cultura para mim e meus irmãos. E mesmo assim, quando dava, no meio da sua correria de trabalho, ainda realizava alguma leitura. E essa é a melhor memória que tenho d’O Menino Maluquinho. Uma leitura que abraçou pai e filho no início da década de 90.

Obrigado por ajudar realizar essa lembrança Ziraldo.

E obrigado por tudo Menino Maluquinho.

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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