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O Exorcismo de Emily Rose (2005): Ciência ou Religião?

Escrito por Tassio Luan

Você crê? Não importa a sua vertente científica e/ou religiosa, a capacidade de crer está em nossa cultura. Até mesmo podemos crer em não crer. Parece meio confuso, mas a ideia é essa. Desde que mundo é mundo, ciência e religião foram grandes antagonistas nos campos do saber. Se comportavam como água e óleo, ou seja, sem chance de mistura. Atualmente, conseguimos perceber uma mudança nesse comportamento. Só que a resistência continua ali numa intensidade menor que antigamente. Hoje em dia, podemos acreditar na evolução e no criacionismo ao mesmo tempo. O máximo é rolar um extenso debate entre os envolvidos para colocarem nas mesas seus principais argumentos para corroborar ou derrubar.

A mídia sempre tratou de forma extensa os assuntos espirituais através dos clássicos O Exorcista e Poltergeist ou os mais recentes Invocação do Mal e Host, entre inúmeros outros que entraram no nosso imaginário popular. Acompanhávamos os mesmos roteiros sobre ameaças demoníacas que causavam eventos assombrosos, porém faltava um tempero novo. A resposta veio há 15 anos com o Exorcismo de Emily Rose sob a direção de Scott Derrickson e roteiro do próprio com Paul Harris.

Como seria um julgamento construído a partir de relatos de exorcismo em detrimento com dados científicos para derrubar esta possível experiência sobrenatural? A trama tratou desse extenso debate que mencionei acima. De um lado estava Erin Bruner, advogada e agnóstica, defendendo o padre acusado por negligência que ocasionou na morte de Emily. Do outro lado, tinha Ethan Thomas, promotor e metodista, do lado da acusação.

O longa conseguiu se sobressair entre os seus deste gênero por trazer esse grande olhar jurídico para esses imponentes antagonistas. As cenas do julgamento foram executadas maravilhosamente e trouxe os dois lados da mesma moeda. O efeito disso foi uma imersão completa, tendo assim o objetivo de Scott e Paul alcançado. Apresentaram as principais provas que assassinaram Emily e deixaram o júri tomar a sua decisão final. Os telespectadores também puderam brincar um pouco com essa função, uma vez que o roteiro trabalha o tempo todo na ambiguidade. Passamos a nos questionar o que de fato ocorreu nesses eventos e colocamos o nosso credo em cheque. Distúrbio psico-epiléptico ou possessão demoníaca? Fomos obrigados a chegar no final do filme com a resposta pronta.

Outro saldo positivo é que não ocorreu o clichê do promotor ser alvo de manifestações demoníacas para começar a crer e mudar todo o seu discurso no final, garantindo assim a absolvição de Padre Moore. Sua convicção era tão inabalável, que você conseguiu sentir-se atraído em seus argumentos e nas testemunhas de cunho científico que foram apresentadas ao longo do julgamento. Ao mesmo tempo que as testemunhas de cunho espiritual também agregaram muito para a criação desse panorama sobre o desfecho trágico da jovem.

Erin também convenceu por ser aquela que sentiu a influência do mal em sua própria casa. Justo ela uma agnóstica e por conta disso, começou a repensar o seu conceito estabelecido sobre a fé. Chegou a ser um clichê, porém foi um clichê bacana de acompanhar, já que ela e o padre garantiram boa parte dos diálogos pertinentes sobre o maligno agindo contra eles.

Jennifer Carpenter também deu um show de interpretação quando Emily iniciou com toda a crise e suas expressões estavam espetaculares. Você conseguia sentir pena e medo por tudo que estava acontecendo. A  sequência sensacional que começou no quarto e terminou no celeiro expressou por si só esse misto de sentimentos.

Como todos sabem, o filme foi baseado na história de Anneliese Michel, uma jovem alemã que morreu em 1976 por desnutrição e desidratação. O caso foi julgado no tribunal e contabilizaram 67 ritos de exorcismo ao longo dos meses antes de seu falecimento. No mesmo ano, o Estado acusou de homicídio os pais de Michel, o bispo Ernst Alt e o padre Arnold Renz. Os promotores afirmaram que a morte da menina poderia ter sido evitada até uma semana antes do óbito. Durante o julgamento foram apresentados vídeos do exorcismo e imagens do estado da adolescente. A Igreja foi condenada a pagar uma multa, e os pais foram absolvidos por, segundo uma lei alemã, terem sofrido o suficiente. Informações retiradas em Aventuras na História 

Outra fonte (Info Escola) apontou que ao fim do processo, os pais de Anneliese e o padre, foram considerados culpados de negligência médica e foi determinada uma sentença de 6 meses com liberdade condicional sob fiança.

Mesmo que o filme tenha sido amplamente adaptado, o conceito principal da história real foi preservada da melhor forma. Além deste, Requiem também tratou desse caso. O diferencial foi ter usado um lado mais dramático para narrar os fatos.

Ah, quem quiser ouvir o áudio resgatado do exorcismo de Emily Rose só clicar aqui .

Imagens do exorcismo de Anneliese. Crédito: Wikimedia Commons

Visual de Anneliese antes e durante os exorcismos. Fonte: Mais Horror.

Uma curiosidade interessante é que nos dias atuais, o túmulo de Anneliese Michel, tornou-se um local de peregrinação para cristãos que a consideram uma devota que experimentou sacrifícios extremos para possibilitar a salvação espiritual de muitos (Info Escola). A adaptação norte-americana abordou isso na cena emblemática em que a personagem decide continuar viva para que sua história pudesse ser contada para todos.

O Exorcismo de Emily Rose é incrível por si só por toda atmosfera e abordagem realizadas com maestria, criando o suspense necessário e a dúvida na mente de quem assiste sobre o que foi real ou não no sofrimento que a jovem passou nas duras sessões de exorcismo antes de falecer. Agora retorno ao meu questionamento que abriu este texto para você que chegou até o fim: No que você acredita? 

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Sobre o Autor

Tassio Luan

Biólogo. Explorador do horror cósmico e de universos desconhecidos.