Tela Quente

Maligno e seu potencial desperdiçado pelo roteiro

Escrito por Thaís Morgado

Chegou aos cinemas o mais novo terror de James Wan, diretor de obras aclamadas do gênero como Invocação do Mal, Jogos Mortais e ainda do filme solo do herói da DC, Aquaman. A história, sob um tom melancólico e misterioso narra a vida de Madison, interpretada por Annabelle Wallis (Peaky Blinders, Annabelle), que tem uma vida de conflitos desde a infância até a vida adulta, onde sofreu abortos e vive com seu marido abusivo e agressivo. Madison passa a ter visões brutais de homicídios, que ela vem a descobrir que realmente aconteceram. No filme, mergulhamos nessa trama que brinca com a ideia do que é psicológico e o que é sobrenatural, e o segredo dessa imersão está no fato de que quanto menos se sabe sobre a trama, mais assustadora ela é, ainda que seja desperdiçada no final.

  De imediato já é estabelecida a tensão na atmosfera, sobretudo o terror psicológico entre o casal, que se manifesta bastante no primeiro ato do longa, além da curiosidade que se desperta com a cena antes da introdução. Há no roteiro a preocupação de deixar apenas fragmentos do quebra-cabeça central, cortando a cena em momentos que provavelmente abririam portas para uma explicação. Isso porque a sensação de que estamos tateando na história junto da personagem deixa a experiência mais intrigante. O fato é que seu terror está no desconhecido, o assustador está presente por não mostrar cenas completas em sua primeira parte. Ainda, não haver jumpscares baratos é um ponto alto. Quando se trata dos filmes de terror de Wan, não há espaço para previsibilidades e, assim, não se desperdiça a tensão criada, circunstância que sempre se destaca no gênero. Porém, o roteiro parece se tornar algo totalmente diferente do que se propõe no começo, não sabendo para qual lado vai, e acaba surpreendendo negativamente, se perdendo em sua própria intenção de ser diferente e se destacar. Sua inconstância prejudica o produto final, somado ao fato de que algumas revelações não possuem o peso e atenção que deveriam. Isto devido às atuações ou os cortes bruscos de cenas, ou ainda suas aleatoriedades e humor em excesso para uma película do tipo. A revelação principal é um tanto quanto absurda e quebra toda a expectativa montada ao longo do filme, mas que pode ser relativa se assistido em diferentes pontos de vista, podendo ser visto como tosco e bizarro, ou então como uma proposta ousada e excêntrica. Além disso, a pergunta se tudo se trata do psicológico ou sobrenatural ainda paira no ar, visto que às vezes indica mais um lado do que outro e vice-versa.

  As atuações são um ponto negativo da obra e isto é notado logo de cara, e que piora no seu decorrer. Nenhum ator possui carisma nem funcionam bem em conjunto nas telas, nem mesmo as irmãs protagonistas, que deveriam possuir uma sintonia. As performances são caricatas e nem um pouco realistas e condizentes com a narrativa, além de serem acompanhadas de frases de efeito um tanto cafonas. Em muitas cenas as atuações parecem sair mais de uma paródia do que um terror sério em si  que fazem com que a história não seja levada a sério, o que pode prejudicar o conjunto. A interpretação de Annabelle Wallis passa a impressão de inexperiência e se mostra pouco convincente e expressiva. Houveram cenas em que a atriz não pareceu bem dirigida e assistida, pois aparentava não saber como agir, ou até mesmo ficando apenas parada. Pode-se exemplificar com o momento onde Madison revisita suas memórias reprimidas, que possui um peso significativo para a história e também aterrorizante, mas que perde seu crédito devido a atuação de Wallis. 

  Outro fator contribuinte para a apreensão é também o cenário, carregado com um nevoeiro que literalmente dita o ar do filme e uma casa antiga que passa a sensação de uma história de um local mal-assombrado, que torna a cenografia excelente e lembra um terror cult. Tratando de aspectos técnicos, o modo como Wan muda de câmera fixa para movimento junto com o personagem ajuda a criar a tensão de uma cena, mostrando a boa direção e controle de cena dele. A exemplo disso é a cena que acompanha a protagonista correr pela casa pegando a cena de um ângulo acima, abrangendo todo o cenário e que faz parecer que estamos correndo junto dela. Em momentos de mais ‘ação’, também não decepciona. A quebra da movimentação da câmera é uma marca muito importante para os filmes de Wan, como visto em Aquaman. Aqui, várias de suas técnicas são utilizadas, como o plano-sequência. A fotografia do filme é um dos seus principais pontos positivos –um dos raros-, onde James Wan e Michael Burgess conseguem coexistir de uma maneira extremamente sólida, acrescenta-se a isso o uso das cores e iluminação, extremamente essencial em um produto audiovisual de terror que visa realmente criar tensão e identidade. E aqui, o uso de luzes intimistas e da cor vermelha -que é como uma marca registrada do assassino- com planos abertos e fixos fazem com que crie uma imersão e a ansiedade que o clima pede. No entanto, o design de produção peca ao fazer montagens claramente mal elaboradas, ainda que não interfiram diretamente. O cgi também varia muito durante o longa, alguns poucos momentos que poderia ter se usado efeitos práticos foi substituído por um cgi não tão bem trabalhado, mas que mostra um bom desempenho no geral.

  Apesar de acertar ao propor um jogo do que é real e o que é psicológico na mente da protagonista, Maligno não se consolida como um bom filme de terror. Suas atuações enjoativas e um enredo que ‘força a barra’ e exagera em muitas cenas, sabotaram o que poderia ser um bom filme do gênero. As ressalvas se fazem pela direção de James Wan, criativa e artisticamente.

Nota: 1/5 – Bronze

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Thaís Morgado

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