Anime Cultura Japonesa

“Love Live: Sunshine in the Mirror”: Um minúsculo passo na direção certa

Escrito por Vini Leonardi

Vou começar essa postagem com um aviso: Sim, estou ciente que animê de idols não é algo que todo mundo curte. Em especial, a galera que acessa esse site provavelmente nunca nem chegou perto de um. Mas tudo bem, a mensagem pode valer para qualquer coisa que seu coração desejar, se a carapuça servir.

Love Live!” é, sem sombra de dúvidas, uma das maiores franquias de idols do Japão. Com centenas de músicas, jogos, animações, shows e produtos, as garotas estão em todo o lugar que você olhar. Só que desde sua estréia, em 2010, a minha percepção da obra do conglomerado Kadokawa é uma de conservadorismo: Treze anos e quatro grupos depois (com um quinto já em trabalho), as coisas parecem não mudar e nunca tentar sair de sua zona de conforto.

Dizer que sou um “grande fã” da franquia seria exagero, mas eu a acompanho desde o original, “Love Live! School Idol Project“, de 2010. E confesso: Na época, odiei o que vi. Com o passar dos anos, novos grupos foram aparecendo, a tecnologia de CGi para danças e coreografias foi melhorando (devido ao enorme fluxo de caixa), e a qualidade do roteiro e da própria forma de se contar as histórias foi aumentando.

Captura de tela do episódio 13 de "Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror", o spin-off de Love Live, mostrando dois cervos, possuídos por uma aura maligna e olhos vermelhos.

Representação fiel do blogueiro que fala sobre futuro de franquia de idols menos insano. (Reprodução: Crunchyroll)

Com “Love Live! Sunshine!!“, o segundo grupo da franquia a ser animado, tivemos um primeiro salto: Apesar de ainda se prender muito ao que foi feito no original, tanto em ambientação como em narrativa, o quadro geral foi apresentado de forma muito superior, e mostrava ao menos um pouquinho de personalidade em suas personagens.

A terceira entrada, “Love Live! Nijigasaki High School Idol Club“, foi o ponto onde eu legitimamente comecei a gostar da franquia. Ao mudar o foco da história, deixando o conceito de “grupo de idols” de lado, e lançando a ideia de “idols solo”, o animê deu muito mais espaço para que cada personagem crescesse como si mesma, ao invés de ser uma parte de um quebra-cabeça que só faz sentido ao ser completado.

E embora ainda não tenha tido tempo hábil (ou, sendo mais sincero, “coragem”) para assistir um episódio sequer, ouço excelentes coisas sobre “Love Live! Superstar!!“, o quarto grupo da franquia.

O problema disso tudo, porém, é que, mesmo com todos os avanços e melhorias que aconteceram ano após ano. Love Live nunca ousou. Por um lado, eu entendo: O ditado diz que “em time que está ganhando, não se mexe“. Por qual motivo eles deveriam ousar? Tentar fazer algo diferente? O “mais do mesmo” está rendendo dezenas de milhares de unidades monetárias para as empresas. Meu medo é simplesmente a estagnação. Falo apenas por mim (afinal, nunca falo por outrem, não tenho esse direito), mas depois de alguns anos, ver a mesma história se desenrolando mais ou menos da mesma forma, com as personagens mais ou menos parecidas, cantando músicas mais ou menos iguais… Cansa.

Foi por isso que, ao ouvir notícias de que “Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror” iria acontecer, eu fiquei empolgado. Não tinha muitos detalhes ainda, mas ao que tudo indicava, seria um animê de fantasia, com as personagens de Sunshine!!, e que teria como protagonista a mais interessante delas. Eu estava animado! Essa era a chance que eles precisavam para explorar novos horizontes, para ousar e sair da zona de conforto.

Esse animê poderia ser qualquer coisa! Poderia ser um isekai; uma fantasia “pura”; um devaneio juvenil da mente da Yohane; uma fanfic online escrita por fãs…
O roteiro poderia ir para qualquer lugar! Poderia tratar de magia e mistérios; de ação e aventura; de receios da juventude e descobrimento interior; poderia até mesmo ser um simples suco de massavéio cheio de porradinha e música maneira…
Mas, após treze episódios, só o que eu posso dizer sobre a série é que ela decidiu… Não ser nenhuma dessas coisas. É decepcionante o tamanho do desperdício que o animê inteiro acabou sendo, pois toda a construção de mundo, os visuais e as caracterizações fantásticas das personagens já conhecidas são ótimos. Mas nada é feito com elas. Absolutamente nada.

Os primeiros episódios começam fortes, com uma crescente interessante do primeiro ao terceiro. Somos apresentados ao mundo e as garotas: Ambos são bem similares ao que já conhecemos, mas tem suas claras peculiaridades. Vemos o uso de um dos arcos mais interessantes da série original como um ponto pivotal desse spin-off, e tudo se conecta de forma fantasiosa, mas satisfatória. No episódio três, finalmente somos apresentados ao grande conflito: “A Calamidade”. Esse fenômeno é o mistério a ser resolvido, e ele apareceu com uma ótima sequência de ação. Até aqui, meu hype estava lá no alto.

Só que, depois disso, o animê desistiu. Ele levantou bandeira branca e balançou o lencinho da paz. Você imaginaria que, após conhecermos o conflito principal, nós iríamos… Eu sei lá, desenvolvê-lo? Explicá-lo? Buscar formas de resolvê-lo? Fazer literalmente qualquer coisa com ele?
Infelizmente, o que se segue são dois meses de episódios completamente aleatórios e desconexos, que lembram apenas vagamente que essa história se passa num mundo de fantasia e que existe uma calamidade se espalhando pela cidade de Numazu. O roteiro voltou a ser o de uma série “principal” de Love Live, com conflitos episódicos ou arcos extremamente curtos, que se desenvolvem superficialmente e se encerram com um clipe musical.

Captura de tela do episódio 13 de "Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror", mostrando Yohane com uma pena branca nas mãos

Bandeira branca, pena branca… Quase a mesma coisa. O simbolismo é o mesmo. (Reprodução: Crunchyroll)

Quando decide finalmente voltar a fazer alguma coisa com o tema proposto, lá pelo episódio 11, já é tarde demais. A essa altura do campeonato, eu já não me importava com o que acontecia. E eles não tinham mais tempo para fazer com que eu me importasse. A Calamidade se alastra, temos um clímax emocional entre a protagonista Yohane e sua cachorra-falante Lailaps, e a junção de todas as garotas numa emocionante canção acaba salvando o dia e a cidade. Mas nada disso importou. Eles gastaram tanto tempo com o famoso “nada acontece feijoada”, que não conseguiram desenvolver esses pontos. Não houve impacto nas revelações pois elas não foram trabalhadas ou sequer comentadas por grande parte da duração do animê.

Talvez o problema seja o meu ponto de vista. Já comentei várias vezes sobre como expectativas altas podem diminuir o proveito de algo, assim como expectativas baixas podem aumentar a diversão de uma coisa mediana. Será que eu que esperei demais de um spin-off de fantasia de Love Live? Eu que estava errado por assistir os três primeiros episódios, ver magia, tokusatsu e música reunidas em uma cena de combate bem coreografada e esperar algo tão bom quanto Symphogear? Talvez. Será que se eu tivesse, desde o começo, mantido minhas esperanças baixas, e esperado pelo pior, por um simples animê corriqueiro de Love Live, mas com uma “skin” medieval, eu teria aproveitado mais? Provavelmente.
Mas isso é apenas especulação. E eu não deixo de estar decepcionado.

Ainda assim, eu acredito que existe mérito em o que foi feito em “Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror“. Eles podem não ter utilizado nem 1% do potencial que tinham, mas o simples fato de que isso existe, que foi aprovado e produzido, que foi ao ar semanalmente por três meses, já é um avanço. Mostra que eles estão dispostos a tentar ousar. Mostra que eles têm coragem para fazer algo diferente. Talvez não muito, mas é um começo. Como disse no título, é um minúsculo passo, sim, mas é um passo na direção certa. Acredito que o futuro da franquia está um pouquinho mais garantido.

Captura de tela do episódio 12 de "Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror", O spin-off de Love Live, mostrando Mari

Ironicamente, aprender com o passado para garantir um futuro melhor é uma das lições que o animê tenta passar. Meta-comentário, talvez? (Reprodução: Crunchyroll)

O animê pode ter falhado em entregar uma história de fantasia intrigante, mas teve uma qualidade técnica altíssima, com belos visuais, excelentes músicas e coreografias tão boas quanto se espera de uma franquia de idols. Não que isso compense o enorme desperdício de potencial.
Olhando de forma positiva pra situação, e dando créditos ao que foi feito, o redator dá 2,0/5,0 para esse spin-off de Love Live!, e torce para que o próximo tenha mais do que quatro episódios decentes.

Você pode assistir “Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror” na plataforma de streaming Crunchyroll, completo em 13 episódios.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.

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