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Nomadland, a arte da compaixão em sua forma mais primordial

Sendo sincero, é um pouco difícil ter que falar sobre o maior vencedor da noite do Oscar 2021, Nomadland, de forma totalmente mais técnica e objetiva. Tanto quanto crítico e espectador, quando vemos um filme, nunca sabemos o que enfrentaremos ou adoraremos; com toda certeza, não estava esperando receber tamanha obra de arte, em um ano tão difícil para o audiovisual.

    O longa nos apresenta Fern (interpretada por Frances McDormand, que venceu como ‘Melhor Atriz’ no último domingo), uma mulher que perde seu marido e que deverá sair da casa onde morava, pertencente a empresa, que acabou falindo. Com isso, ela decide buscar esse novo caminho de sua vida vivendo pelas estradas dos Estados Unidos, com os nômades. Assim, começa uma grande jornada que explora lados pessoais e a tão aclamada ideia do “American Way of Life”. Desde empregos na Amazon (coisa na qual o longa foi duramente criticado no país, após polêmicas de como os funcionários são maltratados) e ajuda voluntária com outros andarilhos, vemos cada detalhe dessa vida que parece tão incomum, porém, enorme.

    É muito difícil abordar aspecto por aspecto do filme, já que o roteiro, direção e edição foram todos feitos pela aclamada Chloé Zhao. Ela consegue encaixar tão perfeitamente tudo tão bem como se fosse uma simbiose, cada pilar que sustenta a obra é firme e unido, o que é feito aqui é algo singular, coisa que vemos a cada 5, 10 anos no cinema. A direção aqui é tomada com tanta delicadeza, o ritmo do filme é lento – mas necessário. Você consegue sentir na pele, você cria uma empatia com cada personagem apresentado, e até com objetos. A imersão é humana, e tem um porquê disso.

    Uma coisa precisa ser dita que pode mudar totalmente sua experiência com o filme, e que surpreende ao ponto de ficar boquiaberto: A maioria das personagens aqui são não-atores. No máximo, somos apresentados 4 ou 5 atores de verdade. Todos os nômades aqui disseram que interpretaram a si mesmos, é por isso que quando assistimos, é tão real ao ponto de parecer um documentário. Ali são sentimentos reais, histórias reais, pessoas reais. Até mesmo ‘personagens’ em que o livro se baseia, escrito por Jessica Bruder, aparecem no longa, como o nômade Bob Wells, que ajuda a todos os seus companheiros de estrada a conseguirem se encaixar nessa vida. Mostra os motivos das pessoas estarem lá, seja por suas perdas, pelo o fator econômico; mostra que todos lá são um só, são uma família. Frances e todos seus companheiros de estrada dão o seu melhor e são a alma de tudo isso.

    A maior esnobação do Oscar, com todas suas letras em maiúsculo, devem se a fotografia dessa obra não ter ganho. O empenho de Joshua James Richards é de tirar o fôlego, cheio de close-ups, planos abertos, e independente do enquadramento, vemos a emoção e sentimento carregados aqui. A colorização também é outro ponto magnifico, desde cenas que passam solidão, até o calor da felicidade e descoberta. Um ponto também muito interessante de ser levantado, é que a diretora levou a as não-atrizes do filme, Linda May e Charlene Swankie, para o festival. E Frances, ao ganhar sua estatueta, uivou como um lobo em homenagem ao engenheiro de som, Michael Wolf Snyder, que faleceu no último mês de março.

    E com sua trilha-sonora composta por Ludovico Einaudi (Intocáveis, Samba) é também um ponto que cria uma atmosfera que dialoga com o que a protagonista sente. Com 11 faixas e tendo um foque enorme em seu piano, e sua parte em músicas autorais. É impossível não se apaixonar, se emocionar e se identificar.

CRÍTICA | Nomadland conta uma história real e invisível - Tribernna

    Vencedor de três Oscar’s, melhor filme pelo BAFTA, Globo de Ouro, Critic’s Choice Awards e outros inúmeros prêmios, Nomadland é um filme que você precisa ver pelo menos uma vez em sua vida. É uma experiência que apenas o cinema consegue transmitir, é uma montanha russa de sentimentos e descobertas.

Não há despedidas finais. Vejo você na estrada.

Nota final: 5/5 – Diamante

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A subjetividade do papel de heroína em Bela Vingança

Bela Vingança, ou “Promising Young Woman” em inglês, alcançou cinco indicações ao Oscar deste ano, vencendo na categoria de Melhor Roteiro Original. Carey Mulligan (O Grande Gatsby; Drive) é a protagonista do longa escrito e dirigido por Emerald Fennell, e seu elenco apresentou algumas outras participações de figuras já conhecidas no cinema, como Adam Brody (Shazam!), Christopher Mintz-Plasse (Kick-Ass) e Alfred Molina (Homem-Aranha). 

  Na trama, Cassandra Thomas é uma mulher que, devido aos seus traumas do passado, passa as suas noites fingindo-se de bêbada com intenção de dar uma punição nos homens que tentam assediá-la ou aproveitar-se de sua “vulnerabilidade”, além de arquitetar sua vingança contra uma pessoa do seu passado.

CRÍTICA | 'Bela Vingança': resposta ácida contra a cultura do estupro

  O filme consegue passar a noção de começo, meio e fim de forma eficiente conforme apresenta gradativamente a narrativa dos personagens, bem como demonstra toda a atmosfera carregada do drama. É difícil não se compadecer da história de vida de Cassandra e sua perda e sofrimento, de forma que não conseguimos deixar de apoiar suas ideias de castigo, por mais perturbadoras que sejam. Suas motivações parecem dignas, e toda a complexidade emocional da protagonista é totalmente compreensível e profunda, resultante de uma sociedade machista e baixa, fato retratado de forma maestral e que ainda manifesta a realidade consternada das mulheres.   

  A atuação de Mulligan não é de deixar pasmo, mas é digna de aplausos. A frieza que a atriz consegue transmitir para sua personagem e suas rápidas mudanças de expressão são impressionantes. É ainda mais empolgante como consegue passar a sensação de nervosismo e inquietação para o telespectador durante suas artimanhas. Sua vingança prende a nossa atenção para o que virá a seguir ao passo que torcemos para que ela a cumpra, se tornando talvez uma heroína, dependendo do ponto de vista.  

Bela Vingança - Quadro por Quadro

  Suas críticas sociais são bem claras desde a sinopse até trailers, e a cultura do estupro é o tema central a ser analisado e criticado na película. Quando se chega ao final da história, a mensagem a ser passada fica inteiramente clara. No entanto, quem acha que o filme se apoia no suspense ou até mesmo um pouco de terror pode se decepcionar. O longa se concentra muito mais em suas críticas e piadas ácidas com um grande fundo de verdade do que na composição do suspense em si, ainda que suas poucas cenas desse tipo consigam instaurar a agonia necessária para faltar palavras, assim como seu final, que pode dividir opiniões e te deixar boquiaberto.

   Em suas partes técnicas, a fotografia possui um perfeito enquadre, e as músicas também tem seu papel na instauração da sensação de suspense.

  Em suma, Bela Vingança é um daqueles filmes necessários para contextualizar a atualidade social, seus problemas de gênero e abusos que, infelizmente, ainda se fazem presentes. Seu roteiro original escancara essa problemática de forma singular e criativa, sem fugir ou perder a força do seu argumento, e graças a isso teve seu devido reconhecimento na premiação mais famosa.

Sob o véu do humor, 'Bela Vingança' denuncia a cultura do estupro

Veredito: 3/5 – prata

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Netflix | Lucifer, O Legado de Júpiter, Love, Death & Robots e mais novidades em maio

Uma prática usual na vida dos consumidores de conteúdo é aguardar as principais novidades que chegarão nas plataformas de streaming. São séries novas, retornos de outras e diversos filmes. Sendo assim, saiba o que a Netflix preparou para este mês de maio:

01/05

Death Note

O filme centra-se no universitário Light Yagami que decide livrar o mundo do mal com a ajuda de um caderno sobrenatural que mata qualquer pessoa cujo nome é escrito nele.

 

Death Note – O Último Nome

Light põe em prática um complexo esquema para afastar as suspeitas de que é o responsável pelas mortes. No percurso, ele conhece uma fã apaixonada e disposta a ajudá-lo.

Death Note: Iluminando um Novo Mundo

Com Light morto, a força-tarefa Death Note é reintegrada. O mundo está em alerta máximo, com novos assassinatos. Um investigador privado se junta ao grupo.

02/05

Operação Overlord

Uma tropa de paraquedistas americanos é lançada atrás das linhas inimigas para uma missão crucial. Mas, quando se aproximam do alvo, percebem que não é só uma simples operação militar e tem mais coisas acontecendo no lugar, ocupado por nazistas.

04/05

Selena: A Série (2° temporada)

Nos novos episódios, iremos ver que à medida em que a carreira da cantora ganha notoriedade, ela precisa encontrar formas de se manter fiel aos seus princípios, arranjar tempo para passar com quem ama e expandir os seus negócios.

Zé Coleta (2° temporada)

Hank é um garoto de seis anos e seu melhor amigo é um caminhão de lixo. Na companhia de animais especiais, eles exploram o mundo ao redor e vivem aventuras fantásticas!

05/05

Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração

O caso Filho de Sam se tornou uma obsessão para o jornalista Maury Terry, para quem os assassinatos estavam associados a uma seita satânica.

 

07/05

O Legado de Júpiter (1° temporada)

A primeira geração de super-heróis passa o bastão para os filhos, mas as tensões aumentam — e as regras antigas não se aplicam mais.

https://www.youtube.com/watch?v=78QltZcT7Ws

 

Garota de Fora (2° temporada)

Nanno está de volta para expor os problemas da escola e dos colegas — e, desta vez, ela não está sozinha.

 

Monstro

Um jovem estudante talentoso se vê envolvido em um roubo seguido de morte e luta para provar sua inocência contra um sistema judiciário que já o condena.

 

500 Mil Quilômetros

Depois de alcançar a marca de 500 mil quilômetros rodados, um caminhoneiro enfrenta a ameaça de perder o emprego para um novo estagiário.

08/05

The Bold Type (Temporadas 1 a 4)

Série inspirada na vida da executiva da revista Hearst, Joanna Coles, e oferece um olhar sobre os bastidores dos responsáveis de uma revista para mulheres chamada Scarlet.

10/05

Boi Neon

Iremar é um vaqueiro de curral que viaja pelo Nordeste trabalhando em vaquejadas. Seu maior sonho é largar tudo e começar uma nova carreira na moda como estilista no Polo de Confecções do Agreste.

 

11/05

Outlander (5° temporada)

Os Frasers se esforçam para prosperar dentro de uma sociedade em que, como Claire bem sabe, está marchando em direção à Revolução Americana.

Explicando…Dinheiro

Nós o gastamos, emprestamos e poupamos. Mas agora vamos falar sobre as armadilhas do dinheiro, como os cartões de crédito, os cassinos, os golpes e o crédito estudantil.

12/05

Família Upshaw

Nesta série de comédia, uma família cheia de histórias para contar tenta equilibrar os desafios e as alegrias do dia-a-dia.

https://www.youtube.com/watch?v=Rod29FKKKk0

 

Oxigênio

Uma mulher acorda em uma unidade criogênica totalmente sem memória. A reserva de oxigênio começa a se esgotar, e ela precisa se lembrar de quem é para sobreviver.

 

Peter Tatchell: Do Ódio ao Amor

Este documentário conta a história do ativista de direitos LGBTQIA+ Peter Tatchell e sua luta por justiça em meio a controvérsias e comoções políticas.

13/05

Amor, Casamento e Divórcio

A vida de três mulheres bem-sucedidas que trabalham em um programa de rádio vira de cabeça para baixo quando seus casamentos são ameaçados por segredos e reviravoltas.

Castlevania (4° temporada)

A série conta a história dos caçadores de vampiros Trevor Belmont, Sypha e Alucard, que, no começo do seriado, defendiam o condado de Valáquia do temível Drácula e do exército de demônios do lorde vampiro.

14/05

Love, Death & Robots (2° temporada)

De aventuras selvagens em planetas distantes a encontros perturbadores perto de casa: a antologia vencedora do Emmy está de volta com novas histórias instigantes.

https://www.youtube.com/watch?v=Gj2iCJkp6Ko

Eu Vi (3° temporada)

Uma mansão horripilante. Uma melodia sinistra. Um gato demoníaco. Mais pessoas comuns compartilham histórias assustadoras de seu passado — e a verdade é apavorante.

A Caminho do Céu

Existe vida nos pertences de quem já faleceu. Um jovem com síndrome de Asperger e seu tio ex-presidiário descobrem e relatam essas histórias para aqueles que ficaram.

 

A Mulher na Janela

Confinada pela agorafobia, uma psicóloga fica obcecada com seus novos vizinhos e quer resolver um crime violento que testemunhou de sua janela.

 

Ferry

Antes de construir um império das drogas, Ferry Bouman volta à sua cidade natal em uma missão de vingança que põe à prova sua lealdade — e encontra um amor que muda sua vida.

 

15/05

Sicario: Dia do Soldado

Para investigar cartéis mexicanos suspeitos de terrorismo, um agente federal pede a ajuda de um assassino. Mas essa guerra acaba virando uma batalha pessoal.

 

Irmã Dulce

A história de uma mulher que enfrentou todas as adversidades para dedicar a vida aos mais necessitados, deixando um legado que perdura até hoje.

 

Kuroko no Basket

Kuroko, Kagami e o resto do time enfrentam os adversários mais difíceis da região com um objetivo em mente: vencer o torneio de inverno.

https://www.youtube.com/watch?v=vChKfGQleqk

 

19/05

Quem Matou Sara? (2° temporada)

Para se vingar, Álex terá que revelar o lado mais sombrio da irmã e aceitar o fato de que nunca conheceu a verdadeira Sara.

The Last Days

Este documentário vencedor do Oscar conta a emocionante história de cinco judeus húngaros que resistiram ao terror do holocausto e do domínio de Hitler.

20/05

Special (2° temporada)

Afastado da mãe, Ryan continua explorando o mundo por conta própria, enfrentando todos os altos e baixos da vida e do amor.

21/05

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Após uma invasão zumbi em Las Vegas, um grupo de mercenários se aventura pela zona de exclusão para realizar o maior assalto de todos os tempos.

O Vizinho (2° temporada)

Javi achava que já tinha dominado essa coisa de ser super-herói, mas ainda vai precisar enfrentar uma concorrência improvável e alguns visitantes extraterrestres.

Jurassic World: Acampamento Jurássico (3° temporada)

Os jovens na Ilha Nublar estão de volta para mais uma temporada em que, juntos, tentam fugir da ilha habitada por dinossauros.

 

22/05

Olá? Sou Eu!

Fracassada e infeliz, uma mulher sente que perdeu a alegria de viver — até dar de cara com uma versão mais jovem de si mesma, que aparece exigindo mudanças.

26/05

O Divino Baggio

Um relato dos 22 anos de carreira do craque italiano Roberto Baggio, incluindo a difícil estreia nos campos e os conflitos com alguns de seus treinadores.

 

Da África aos EUA: Uma Jornada Gastronômica

Arroz, quiabo, até mesmo o famoso macarrão com queijo. A culinária afro-americana teve (e tem) grande importância no cenário gastronômico dos Estados Unidos. Nesta minissérie, Stephen Satterfield analisa esse impacto.

Atentados em Londres

Este documentário conta a história dos atentados contra minorias em Londres, em 1999, e a corrida para encontrar o extremista de extrema-direita responsável pelas explosões.

27/05

Milagre Azul

Um grupo de crianças e o dono do orfanato onde moram se unem a um marinheiro rabugento para uma lucrativa competição de pesca esportiva, na tentativa de salvar a instituição.

Soy Rada: Serendipia

O humorista argentino Agustín Aristarán, conhecido como Soy Rada, está de volta para falar sobre família, filhos, magia e música.

Eden (1° temporada)

A história de robôs que cuidam da última criança humana.

https://www.youtube.com/watch?v=q3oekuh5Vyw

28/05

Lucifer (5B)

Lucifer protagoniza um retorno memorável à terra dos vivos para fazer as pazes com Chloe. E vem pegando fogo.

O Método Kominsky (3° temporada)

Um novo capítulo se abre para Sandy, que deve lidar com uma difícil perda, um problema financeiro, uma reunião importante e um grande impulso na carreira.

EncrenCão

A vida privilegiada de um cão mimado vira de cabeça para baixo quando ele se perde e precisa aprender a sobreviver nas ruas da cidade grande.

29/05

O Mito de Sísifo

Depois de um incidente estranho, um engenheiro descobre segredos perigosos e conhece uma mulher que veio do futuro procurar por ele.

31/05

Imóveis de Luxo em Família

Este reality show acompanha a família Kretz e sua imobiliária de luxo em Paris.

Isso é tudo, vigilantes. Próximo mês estará caprichado de produções para agradar todo o tipo de público e agora é se programar, pois maio está logo aí. Boa maratona para todos!

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Godzilla vs. Kong: Uma Trama de Titãs Prejudicada pelos Humanos

Desde os créditos de Godzilla: Rei dos Monstros (2019), onde observamos o titã enfrentando Kong em uma pintura rupestre, os fãs do Monstroverso – este oficializado em 2017 com a cena pós-créditos de Kong: Ilha da Caveira – ficaram ansiosos esperando o confronto dos dois personagens. Finalmente, após muita discussão na internet acerca de quem ganharia a batalha, a espera acabou com o lançamento de Godzilla vs Kong em Abril deste ano.

Dirigido por Adam Wingard, responsável pela adaptação live-action de Death Note na Netflix, o título entrega uma diversão honesta com sequências bem construídas e com uma trama sólida, mas infelizmente comete os mesmos erros que o seu antecessor do universo compartilhado.

Na trama, Godzilla ataca a sede da Apex Cybernetics e, logo após isso, o presidente da mesma procura investigar com segundas intenções as origens dos monstros e da energia do titã presentes no planeta através de uma teoria denominada ‘Terra Oca’. Para isso, utilizam Kong como guia para o determinado local e isso provoca o confronto entre os dois titãs – que por si só já são inimigos naturais. Em paralelo, um grupo de humanos procura investigar as conspirações envolvendo a mesma.

O roteiro apresenta um argumento sólido, porém, é desenvolvido de forma expositiva e conveniente com todos os personagens envolvidos. Seguindo os mesmos problemas de Godzilla: Rei dos Monstros, os diálogos extremamente clichês entre os personagens servem apenas para explicar algo que já foi exposto visualmente ou para quebrar o clímax do longa com piadas sem graça. O ponto de vista dos humanos apresenta dois lados: um deles sendo protagonizado pelos personagens envolvidos com a Monarch e com a Apex Cybernetics, empresa envolvida com o plot do título, enquanto o outro dá ênfase na personagem de Millie Bobby Brown e seus amigos.

Enquanto o primeiro – apresentando os problemas estruturais de roteiro descritos acima – cumpre um papel importante para o desenrolar da trama e para o confronto dos titãs, o outro serve apenas para aumentar o tempo de tela do filme e não acrescenta em nada para o desenrolar da história, não contribuindo para o seu desenvolvimento. Caso os personagens do núcleo de Millie fossem removidos na edição final do título, a trama continuaria a mesma. Por último os humanos por si só não cativam o telespectador e fazem com que o desenrolar do filme seja arrastado em certos momentos, um exemplo disso é o primeiro ato do título que arrasta a trama até que ela consiga apresentar um ritmo, sendo este interrompido em diversas vezes pelos diálogos e interações entre os mesmos.

Em suma, o roteiro utiliza os humanos e suas interações para deixar tudo mastigado ao público como se o mesmo não fosse capaz de tirar suas próprias conclusões acerca do que ocorre em tela – o que acaba prejudicando e muito a experiência pois, em quase duas horas de filme, 75% de sua duração conta com as interações entre os personagens.

Godzilla vs. Kong' Review: Let's You and Him Fight - The New York Times

Kong e sua história acabam sendo o centro da trama e o que cativa o telespectador a descobrir mais sobre o universo exposto desde 2014 nas telas e, por mais óbvio que seja o fato que Godzilla é o mais forte do confronto, é inegável dizer que o carisma e a humanização do primeiro personagem não faça com que a torcida se volte para ele. Dito isso, Godzilla vs Kong acaba se tornando uma trama de titãs prejudicada pela participação dos humanos – assim como os dois filmes do titã nuclear, cujo no primeiro só aparece em tela durante oito minutos de longa.

Deixando o roteiro de lado, os confrontos entre os monstros são épicos e os efeitos visuais, em conjunto com a fotografia, são sensacionais. Toda a enrolação provocada pela trama no ponto de vista humano e pelos quarenta minutos iniciais, que são extremamente maçantes, acaba sendo compensada quando ocorre o primeiro encontro entre os dois e nas cenas de ação seguintes.

Godzilla vs Kong Early Buzz: What the Critics Are Saying – /Film

Então, é bom?

Por mais que a trama envolvendo o ponto de vista humano estrague grande parte da experiência do filme, as cenas de ação bem executadas e os efeitos visuais do longa compensam todos os defeitos e entregam um bom título. Godzilla vs Kong entrega com maestria o que vendeu em seu marketing: uma diversão honesta envolvendo um confronto épico e de tirar o fôlego entre os dois maiores titãs do audiovisual com uma conclusão satisfatória para os amantes do universo estabelecido pela Warner em 2014.

Veredito: 3/5 – prata

 

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Radioactive e a incomum luz da ciência

  Filmes que narram a trajetória de personalidades famosas e históricas têm a responsabilidade de trazer consigo a veracidade de eventos referentes ao contexto da época, cenários e conflitos, ao passo que devem instaurar o drama. Alguns podem se desorientar no meio do caminho ou fugir quase totalmente da representação da realidade. Radioactive não é um desses filmes que se perdem no roteiro, embora se atrapalhe na sua execução e partes técnicas.

   Dirigido por Marjane Satrapi, o longa chegou à Netflix recentemente e ficou no top 10 do streaming no Brasil durante sua semana de estreia. Com nomes conhecidos no elenco como Rosamund Pike -que mostra mais do seu talento e multifacetas em seu histórico de atuações- e Anya Taylor-Joy, a biografia apresenta a jornada da cientista Marie Curie que veio a pesquisar e descobrir a radioatividade. 

Radioactive: a difícil verdade por trás do filme da Netflix

  Desde o começo, já somos apresentados ao universo de Curie, onde frascos de experimentos e pequenos laboratórios constroem o cenário, sobretudo na sequência em que, após descobrir o polônio e o rádio, ela descobre também a radioatividade. A Química é, de fato, o coração da obra, assim como a forma que a protagonista lida com as adversidades da vida, principalmente sociais. O sexismo exacerbado da época e a perseguição  foi algo bem aprofundado, trazendo temáticas pertinentes, ainda que tais problemáticas não impeçam Marie Curie em sua carreira e objetivos, sendo este o cume do longa.

Radioactive' On Amazon: The Story Of An Inspiring Woman Starring Rosamund Pike

   Os motivos de Marie para iniciar sua pesquisa ficam claros após descobrirmos que ela perdeu sua mãe para uma doença, sendo esta uma situação que acompanha sua trajetória e marca profundamente seu psicológico. Assim, o fato de que sua descoberta contribui para o tratamento de câncer a fascina e motiva, e a partir daí sua transformação para um tipo de heroína se desenvolve, de forma lenta, até o final, onde fica evidente sua vontade de ajudar a vida de soldados da primeira guerra mundial. 

Radioactive review: A reimagining of Marie Curie's luminous legacy | New Scientist

   O ponto principal do longa-metragem -e que foi um grande acerto- é a demonstração das consequências futuras dessa descoberta, podendo elas serem boas ou ruins. Se por um lado a radioatividade ajuda no tratamento de câncer ou no raio-x de ferimentos de soldados, ela também contribui para artefatos nocivos, como bombas  nucleares radiativas. Vale dizer que essa dicotomia é apresentada de forma bem planejada e executada.

   Falando sobre os defeitos do filme, eles se fazem muito presentes em vários cortes abruptos de cenas, além de que os primeiros 20 minutos se sucedem de forma bastante apressada. Isso resulta numa apresentação pobre de personagens e uma linha narrativa pouco sólida, que ao passo que desperta no telespectador a curiosidade de pesquisar sobre o assunto, não entrega novidades.

  Radioactive é uma biografia bastante interessante que vale o tempo assistido, pois a contribuição de Marie Curie para acontecimentos históricos é algo importante de se saber e apreciar. A performance de Rosamund é ótima e sua entrega à personagem é inegável, mesmo com alguns defeitos do filme e suas falhas técnicas.

Radioactive (2019)

  

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Amor e Monstros: O Webnamoro no Fim do Mundo

Indicado ao Oscar 2021 na categoria de ‘Melhores Efeitos Visuais’ e estrelado por Dylan O’Brien, conhecido pelo seu papel em Teen Wolf e na adaptação da trilogia Maze Runner, Amor e Monstros estreou ano passado nos Estados Unidos e chegou na Netflix semana passada, dia 14 de Abril. Apresentando uma história boba e um protagonista cativante, o título diverte do início ao fim.

Amor e Monstros', 'Rambo' e mais: o que chega na Netflix em abril em 2021 | Michael rooker, Rambo, Dylan o'brien

Na trama do longa, o mundo foi dominado em sua superfície por monstros logo após a ameaça provocada por um meteoro – que fez com que os humanos se refugiassem no subterrâneo. Sete anos após o fatídico evento e escrevendo inúmeras cartas para sua namorada, Joel consegue contato com ela no rádio e descobre onde a mesma está escondida. Após algumas semanas conversando, com medo e inseguranças em sua mente, o protagonista decide ir até o esconderijo e percorrer todo o perigoso caminho da superfície para encontrar sua amada. Em suma, a trama pode ser resumida como um webnamoro durante o apocalipse.

O roteiro por si só é bem simples e apresenta uma conclusão clichê, porém é bem trabalhado durante toda a exibição do longa. Em dez minutos de filme já somos introduzidos na presente situação, e a partir disso o título explora com excelência a ambientação e o desenvolvimento do protagonista durante toda a sua jornada através dos obstáculos que o mesmo encontra, explorando também o lado dos monstros na trama e outros personagens que surgem no meio do caminho. A história é conduzida de forma leve pelo diretor, que consegue manter um ritmo constante do começo ao fim – fazendo com que os elementos clichês da trama sejam ignorados pela experiência em si.

Amor e Monstros é comédia divertida sobre mundo pós-apocalíptico

O elenco do filme funciona bem em conjunto: por mais que o tempo de tela seja maior no personagem de Dylan O’Brien, quando este se encontra com outros personagens durante sua jornada na superfície, a química flui de forma natural e divertida, colaborando também para o crescimento emocional do personagem. Infelizmente, o terceiro ato do longa se apressa um pouco para finalizar logo o título, entretanto mesmo assim a história consegue fluir perfeitamente.

E quanto aos efeitos visuais, são simplesmente incríveis. Tanto a ambientação como a composição dos monstros conseguem trazer uma atmosfera de tensão a cada frame que ameaça o surgimento de um antagonista, assim como deixa o telespectador mais intrigado ainda sobre o universo do filme. Sua indicação ao Oscar é merecida e, dentre os indicados, este se tornou meu título preferido para levar a estatueta de ouro.

Amor e Monstros | Novo filme da Netflix é surpreendente e divertido - Legião Jovem

Então, é bom?

Com uma trama boba, um roteiro simples e um final clichê com um discurso motivacional, Amor e Monstros consegue ser extremamente cativante e divertido – cumprindo, assim, o seu papel para entreter o telespectador. Os personagens apresentados e o desenvolvimento do protagonista dentro das situações apresentadas fazem com que quem assiste torça para que tudo acabe bem.

Por fim é difícil não comparar este filme com o fiasco que foi a adaptação de Paul. W.S. Anderson do jogo Monster Hunter, por mais que ambos os títulos apresentem premissas diferentes, a temática é semelhante e neste longa não só a ambientação e os antagonistas são explorados como também o protagonista e seus sentimentos têm um peso significativo na história: conseguindo fazer tudo o que o longa supracitado não fez.

Simples e extremamente divertido, o novo título disponível na Netflix é a escolha perfeita para se assistir no fim da tarde e passar o tempo.

Nota: 3.5/5

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As séries da Marvel são apenas boas, e isso é maravilhoso!

Esta publicação está sendo escrita logo após o segundo episódio da série da Marvel, Falcão e Soldado Invernal, mas não teremos spoilers desta série, mas sim de WandaVision. O que  falarei aqui é uma opinião a respeito das séries, assim como qualquer outra opinião ela pode ser mudada no futuro. Caso aconteça vocês saberão, ou não.

 

 

A primeira coisa a se falar é que as séries da Marvel são boas, de fato, assim como aquelas que foram canceladas pela Netflix, Demolidor, Jéssica Jones, Luke Cage, O Justiceiro e Punho de Ferro e Os Defensores (estes dois últimos nem tanto). Até por que se não fossem boas teriam sido canceladas na primeira oportunidade, sem segundas temporadas (algumas), e não após a Disney anunciar um serviço de streaming próprio. Certo?

Mas o que tenho a falar aqui não envolve só as séries, envolve os filmes da Marvel também, até pelo fato desses apêndices serem comercializados como Universo Cinematográfico da Marvel – MCU ou parte dele. A questão aqui é o simples fato das séries serem boas, mas não acrescentarem em nada o desenvolvimento dos personagens que já conhecemos das telonas. Quando falo de desenvolvimento, é literalmente o seu sentido completo, como crescimento, evolução, progresso, e não de informações sobre o personagem passado para nós. Porque isso é passado, o que passamos a conhecer mais, durante a série sobre determinado personagem nada mais é, aquilo que ele já passou. Poderíamos não saber a respeito, mas ele já sabia e tudo o que ele é naquele momento (presente da série), é resultado deste passado. Assim como todos os eventos que nos levaram a ser como somos hoje.

 

 

Pegando WandaVision como exemplo, já que a série foi finalizada e foi a primeira a ser lançada nesse novo modelo adotado pela Marvel, podemos dizer que a protagonista Wanda não evolui durante a série. “Como assim? Tudo que ela passou durante a série não a fez evoluir?” Correto, não evoluiu. Ao final de Vingadores Ultimado, Wanda termina seu pequeno arco em luto pelo seu namorado/marido/esposo Visão, até que começamos a série com ela enfrentando estas mesmas dificuldades, porém com o acréscimo de tentar gerir tudo aquilo que ela esta provocando, manipulação mental dos cidadãos da cidade e cárcere (além de toques na manipulação da realidade). “E como ela evoluiria na série?” Primeiramente, ela passaria pela fase de luto, compreenderia que seus poderes usados de forma não responsável podem causar um dano gigantesco. E como terminamos a série todos nós que assistimos a série sabemos, de luto pelos seus filhos que só existiam dentro da sua realidade criada dentro do domo, e pelo Visão que nunca retornou dos mortos de fato.

Então entra o questionamento, mas o Visão passou suas lembranças para o Visão Branco, a Wanda teve contato com Agatha outra bruxa e aprendeu novos truques (nas hqs ela é inclusive a professora de Wanda Maximoff nas artes mágicas), e ao final estava estudando com o livro pego desta bruxa. De fato temos essas questões que são facilmente explicadas. A primeira é que o Visão Branco era um projeto secreto dentro da S.W.O.R.D – E.S.P.A.D.A, e só quem o viu foram Wanda, Visão, Monica Rambeau, EMT e Darcy. Além do fato dele ter desaparecido após a conversa de Barco de Teseu com Visão original, o que nós leva a necessidade de uma explicação por parte destes personagens para o alto escalão de personagens do Universo Marvel. Se há explicação não há evolução.

 

 

Nós temos que entender que séries e filmes mesmo dividindo o mesmo universo, são produtos para mídias e públicos diferentes, claro que existem aqueles grupos em comum, mas não idênticos – veja o pequeno gráfico que montei para explicar melhor. Imagine a confusão que a Marvel causaria no público comum (público que é alvo da Marvel), podendo causar um desinteresse, ao apresentar uma Wanda completamente diferente em uma sequencia cinematográfica, entretanto é fácil mostrar que ela simplesmente agora tem um novo uniforme, como qualquer outra super-heroína que muda de uniforme ou de visual todo filme, e que ela agora tem um livrinho pra estudar. Bem simples, sem precisar resumir a temporada inteira os acontecimentos etc. Mas o ponto é que no final das contas ela se encontra no mesmo estado, com psicológico abalado, e agindo de forma emocional, do mesmo jeito em que terminou o último filme em que participou. Ou seja, nesse ponto de vista que compartilho, não houve evolução da personagem.

1 – Público fervoroso (As vezes estou nesse, ou no 3).
2 – Público importante para o streaming.
3- Público Importante para os cinemas.
4 – Público mais recente, que pode ou não ter começado a acompanhar o MCU recentemente.

 

Um outro exemplo, bastante engraçado, já que faremos um exercício de pensamento inverso, é falarmos de OVAs e filmes de animações japonesas, animes. Me desculpem aqueles que possuem um conhecimento maior em relação a este tipo de mídia, mas aqui vou falar de forma fácil e genérica para demonstrar o ponto da evolução da história.

Um OVA (Original Video Animation), ou filme baseado em animes, normalmente são lançados fora da plataforma original deste anime, geralmente são spin-offs, e não possuem relevância significativa com a história principal. Mas possuem um enredo que trabalha mais o passado de cada personagem, trabalha alguma informação nova, mas que ao voltar para o anime, demandará de explicações. Ou seja, considerando os filmes da Marvel como um anime, que possuem dentro de cada obra seu desenvolvimento de personagens e trama, as séries podem ser encaixadas como esses spin-offs que sim, agregam. Mas não interferem na história principal que é o que temos no cinema.

Se pararmos para analisar de forma fria, até mesmo alguns filmes funcionam desta maneira. Como é o caso do Incrível Hulk com Edward Norton no papel de Bruce Banner, os primeiros filmes de Thor e Capitão América. Todos eles foram implementados de formas independentes, com pequenos easter eggs que os fãs mais fervorosos puderam perceber, e só depois de estabelecidos de forma correta, passaram a ter uma importância maior na timeline do Universo Cinematográfico da Marvel – MCU.

Pode ser, que as séries conversem entre si de forma mais concreta no futuro, e que eles realmente interfiram nos cinemas (o que acho difícil), mas no momento, com o material que temos em mãos isso não está parecendo possível.

 

Contudo, eu não desmereço as séries, muito pelo contrário, quanto mais conteúdo melhor, até porque sem elas eu não estaria escrevendo esta matéria. Sou consumidor, e admiro este trabalho que a Marvel faz, com relação a entender o seu público alvo de cada mídia, o que a faz grandiosa. Esta publicação serve para responder algumas perguntas daqueles que tem medo ou dúvidas do futuro que a Marvel está montando. “Será que vou precisar assistir todas as séries?” “Será que tudo vai ficar diferente de uma hora pra outra?” A resposta é simples, e direta. Não! A Marvel, sabe o que faz e não vai sair mudando tudo que ela construiu em mais de 10 anos de trabalho duro nos cinemas. Pode ficar tranquilo!

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O Legado e “Vingança” de Zack Snyder e do Seu Snydercut

Finalmente foi lançado o tão falado e esperado Liga da Justiça – Snydercut. E pasmem (para os haters) ele é bom! Sim! A visão/versão do Zack Snyder para a filme do maior grupo de heróis da DC Comics, lançado em 2017, capitaneado (em sua maior parte) pelo diretor Joss Whedon, que foi uma decepção tanto de crítica, para o estúdio, para os fãs e até para os atores, finalmente recebeu o seu devido tratamento. O filme de 2017 pareceu ganhar mais corpo e as coisas que ocorrem nele fizeram mais sentido com o Snydercut. Para os fãs foi um alento e alívio.

Primeiro porque os fãs ardorosos, alguns são muito mais fãs do Zack Snyder do que dos personagens do Universo da DC Comics fizeram acontecer em inúmeras petições online pelo mundo, os atores, principalmente o Ray Fisher, que interpreta o Cyborg no longa, foi um que mais levantou a bandeira para dar força ao diretor, que começou uma campanha na rede social Vero soltando esboços, storyboards de sua versão. E na verdade o Snyder merecia contar essa história. Desde que ela foi interrompida pela sua tragédia familiar. Eu imagino o grande UFA que ele soltou ao terminar.

O Snydercut foi chegando aos poucos, com muitas ironias de pessoas espalhadas pela internet, a cada notícia viam piadas e zombações com os fãs. Fãs esses, que obviamente não foram todos, se mostraram um fandom tóxico demais. Muitas vezes abrindo o esgoto que se encontra na rede mundial de computadores. E muitas vezes com atrocidades que quase equivalem a de trolls cibernéticos. Mas como eu disse acima, não são todos. E na força desse fandom, o Snydercut nasceu.

Um filme de quatro horas de duração, que completa a famigerada película de 2017. E possivelmente seja o maior calo do filme, em certa altura do filme, fica o pensamento de que poderia ser menor. Em certo momentos você torce para o filme acabar logo. Mas não é somente isso. Primeiro que sendo óbvio, melhorar o filme de 2017 não é nenhum mérito. A história é ruim. E o Snydercut tem uma história ruim. Ela não envolveu em 2017, e não envolve agora em 2021. O excesso de slow motion e cenas (que muitos consideram épicas) é cansativo e desgasta muito o que poderia ter de narrativa. E o CGI está falho em diversas cenas, chegando em alguns momentos ser até amador. Como a cena do Lex Luthor dentro da água vislumbrando o Lobo da Estepe e as Caixas Maternas.

O espectador não se apega muito na importância, por exemplo, das Caixas Maternas, onde a trama gira em volta. Mas esse “não se apegar”, sejamos justos, nem é totalmente culpa do filme. Sem querer comparar mas já comparando, você entende mais a importância das Joias do Infinito por exemplo. Mas essa importância foi construída durante anos, as Caixas Maternas praticamente caíram no colo de quem assiste.

Onde o Snydercut ajudou e melhorou?

Em lances pontuais. Abrir novos horizontes. Gostaria mesmo de ver um filme, ou quem sabe uma série, sobre Batman do Ben Affleck com o Exterminador de Joe Manganiello, caçando o Morcego por Gotham City e com J.K. Simons como Gordon. Ainda mais depois daquele final do Exterminador no iate com Lex Luthor, aliás esse dialogo ficou muito melhor do que “vamos montar nosso clubinho do mal”.

A construção do Victor Stone. Essa peça faltou no primeiro filme e foi colocada com o Snydercut. Uma importância ao Cyborg. Um personagem tão clássico da DC Comics. Aqui ele tem um desenvolvimento tão importante que abrange diversos personagens do filme. Principalmente a ligação e relacionamento com seu pai. A história de derrota e redenção dele é excelente e empolga. O que é uma recompensa para o ator, que foi o único do elenco que falou sobre o comportamento abusivo do diretor Joss Whedon nos sets de filmagem e as acusações de racismo pelos executivos Toby Emmerich, Geoff Johns e Jon Berg. O que resultou a retirada do ator no futuro filme do Flash.

O Lobo da Estepe também é outro personagem que melhorou muito, não tanto visualmente (pelo menos para mim) mas na sua essência. Em muitos momentos o vilão realmente mete medo. Ele é grandão, monstruoso e sem escrúpulos. A devoção à Darkseid é messiânica como se espera de um lacaio e mesmo ele sendo tão poderoso, se rebaixa para obter o perdão de seu líder maior. Darkseid é um espetáculo a parte. Gostaria de ver mais filmes com ele. Ele ficou do jeito que todos esperávamos e acho que ficou até melhor. Ele tem o porte de conquistador, tirano e também mete medo. É aquele cara que você não quer enfrentar. A batalha dos antigos deuses contra ele é muito boa também. O início em que ele segura a terra é de arrepiar.

O Coringa de Jared Leto, também foi melhorou demais. Zack Snyder mostrou que pode fazer o personagem sem inventar muito em cima. O dialogo dele com o Batman no “pesadelo/premonição”, é possivelmente, o melhor do filme.

Mas principalmente, a melhor coisa foram as exclusões de cenas onde o antigo diretor buscava sensualizar algumas personagens, principalmente a Diana. Como a famigerada cena do Flash caindo por cima dela e o olhando os seus seios. E as inúmeras cenas de piadas sem nexo e indesejáveis, como o Superman e o Cyborg rindo caídos no chão. Uma coisa de se lamentar do gigantesco fandom que brigou bravamente pelo filme, é que muitos comemoraram mais a exclusão das cenas das “piadas” do que as que sensualizavam.

O Snydercut chegou e mostrou uma versão mais engordada, um tanto quanto brega (que é muito bom!), mas não tão diferente do filme original de 2017. Ainda é um filme com uma história ruim, mas ele tem excelentes pontos que abrem para o futuro. Muitos falam que Snyder não entende dos personagens, pode até ser que ele escorregue aqui e ali. Até porque isso é uma coisa que é desde o Homem de Aço e continuou nos filmes dessa linha da DC Comics, os personagens são bem rasos e genéricos. Mas ele sabe o que queria fazer com os personagens. E onde queria colocar cada um deles no futuro. E em cima disso montou o que ele montou um horizonte interessante e introduziu um universo que pode e
deveria ser trabalhado.

No final das contas, Zack Snyder meio que se “vingou” da Warner ao abrir segmentos bastante interessantes para o futuro. E fez isso sabendo que o seu fandom estará sempre pronto para lutar por esse futuro. E agora com a adição de quem antes não acreditava em respiro desse universo.

Para a Warner só resta segurar essa batata quente.

E eles que lutem.

 

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Liga da Justiça de Zack Snyder sara todas as feridas

Quando os créditos finais de Liga da Justiça de Zack Snyder sobem, a primeira pergunta a ser feita: “Por quê?” Por que este não foi o filme lançado nos cinemas em 2017? Quanto mais tempo usado para refletir, menos sentido faz a decisão tomada há quase 4 anos. A obra é exatamente o que o estúdio buscava: É leve, bem humorada, otimista e extremamente esperançosa. Acima de tudo, mostra que Snyder sabe operar com o tradicional, mas sem perder sua assinatura.

Assinatura essa, tão criticada no passado, responsável por tocar as mentes, os corações e as almas de tantos fãs. Ainda pergunta-se o porquê de Liga da Justiça ter sido lançada? Porque enquanto críticos profetizavam com dedos nos teclados, um grupo de indivíduos atravessou o ódio e disse: “Você não está sozinho.” O senso de unidade do movimento #ReleaseTheSnyderCut é, metaforicamente, equivalente ao do time de super-heróis no filme.

Sem perder tempo com brigas ou piadas desnecessárias, a Liga da Justiça, como Snyder quis, não é a cópia fajuta dos Vingadores como eles foram na versão teatral (Parcialmente dirigida por Joss Whedon, que coincidência!). O roteiro de Chris Terrio traz o senso de urgência necessário e coerência para a união do time. Por mais que cada membro esteja quebrado por dentro, todos estão unidos por um ideal em comum, desde o início até o fim. Eles realmente são a nova era de heróis que precisa retornar. Talvez não seja adaptação sonhada por alguns fãs, mas ao assisti-los formulando um plano, é possível sentir: Não é simplesmente uma equipe. É a equipe.

O senso de unidade também está presente visualmente no aspect ratio 4:3. Apesar de ser uma produção conduzida por grandes cenas de ação, a proporção de tela não apenas concede mais detalhes ao espectador, mas também centraliza a ação, sem qualquer possibilidade de desviar o olhar. Além disso, a cinematografia de Fabian Wagner é fornecedora de um tom diferente, apropriadamente leve para o filme. Todos esses aspectos, aliados à direção de Snyder, com muito slow-motion e brilhantes movimentos de câmera e narrativa visual, tornam cada frame em uma pintura.

 

Apesar da montagem por David Brenner e Doddy Dorn não ser perfeita, ainda há uma ótima coordenação dos arcos de cada personagem no filme, um deles, em particular, é brilhante pela sua ressonância temática com a obra. Também é preciso destacar a excelente trilha sonora de Junkie XL, imponente, dramática e empolgante. Além disso, a decisão em dividir a obra em capítulos, é especial e cooperativa para a fluidez das 4 horas. É como a leitura de uma graphic novel publicada pela DC Comics. 

Cada personagem traz o seu melhor. A interpretação de Ben Affleck como Batman apresenta um vigilante mais esperançoso, mas não bobo, também é um excelente líder e estrategista, carregado de culpa. É interessante como o impacto das Amazonas é maior para a Mulher-Maravilha (Gal Gadot) do que em seus filmes solo e é fascinante como o Flash (Ezra Miller) é engraçado, criativo e inteligente, muito próximo dos quadrinhos e das animações da equipe. Talvez Aquaman (Jason Momoa) tenha o arco menos interessante, contudo, é bem desenvolvido como personagem e prepara um bom terreno para o seu ótimo filme solo.

O Cyborg sempre foi descrito por Snyder como o coração da equipe e ele realmente é. É criminoso como Ray Fisher foi tratado pela versão de 2017. Aqui Victor Stone é mais do que um homem dizendo “Booyah” ´para agradar alguns nerds. Ele é um personagem, com trauma, raiva, luto, todas as emoções possíveis, a performance de Fisher é brilhante e o seu arco é emocionalmente poderoso e inspirador. Liga da Justiça é um filme sobre ascensão, sobre a cura da dor através do coletivo, através do altruísmo.

Falando em altruísmo, o Superman de Henry Cavill é mil vezes mais Superman através do seu silêncio pacífico, calmo do que as milhões frases de efeito presentes na versão com bigode removido por CGI. Todos os momentos, toda a tranquilidade expressa em seus gestos e olhar, são catárticos, tanto quanto o seu reencontro com Lois e Martha. Todas as cenas do núcleo do Último Filho de Krypton são emocionantes graças à carga dramática presente nos dois filmes anteriores. É como um presente, um presente que esperamos muito tempo para abrir.

Se O Homem de Aço foi a construção, Batman vs Superman, a desconstrução, Liga da Justiça de Zack Snyder é a reconstrução. Todas as feridas provocadas pelo corporativismo aos fãs, ao elenco, à toda produção e especialmente, ao autor, foram curadas, tal qual os nossos heróis ao final da obra, olhando para um amanhã melhor, mais justo, mais esperançoso, unindo-se ao Sol. Porque eles não estão quebrados ou sozinhos. Nós também não.

Pela Autumn.

 

 

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Raya e o Último Dragão, e a confiança na diversidade

Dirigido por Carlos López Estradanos (Blindspotting) e Don Hall (Big Hero 6, Moana), eles nos levam para o extraordinário mundo de Kumandra, onde dragões e humanos viviam em harmonia, até que seres mágicos ameaçaram este mundo e forçaram os dragões a se sacrificarem pelo bem do mundo. Agora, 500 anos após essa tragédia, a magia voltou ao mundo, e cabe a guerreira Raya terminar essa história de uma vez por todas.

De primeiro relance, fãs de Avatar: A Lenda de Aang e Korra podem reparar que o estilo visual da animação e até um pouco em sua história podem remeter à animação da Nickelodeon, que foi uma ótima fonte de inspiração para montar um mundo nunca visto em uma produção da Disney. Mas também não é só isso, eles fizeram um ótimo trabalho pesquisando o sudeste-asiático, tendo reunido uma equipe para fazer uma pesquisa sobre a região, para conseguir representar bem seu trabalho e criar com originalidade uma animação visualmente marcante. Desde as locações, até as roupas, modo de cada povo das cinco regiões de Kumandra terem suas reverências e estilos. Também é muito gratificante ver como a Disney está dando mais espaço para personagens femininas fortes e originais, nesse longa temos duas personagens centrais femininas incríveis e uma vilã com uma motivação ainda mais original e desenvolvida.

Além disso, é preciso reconhecer o trabalho da animação e design gráfico, que também foi feito com maestria. Raya e todas as personagens da animação tem rostos muito distintos de outros longas da produtora, e o seu mundo é muito bem detalhado. E parece ser até filmado em locações reais de tanto que foi empenhado esforço da equipe de animação, é surreal e único.

Partindo para sua história, ela tem um coração e te cativa logo nos primeiros momentos. Tudo gira entorno de uma temática: confiança. E isso é muito bem trabalhado na personagem de Raya e de como ela reage com o mundo ao longo que é desenvolvida. O início do filme começa com uma parte previsível, mas importante. Em seu final, parece que o roteiro se perde e fica muito corrido, e o ritmo se torna um inimigo desse filme. Uma coisa em que a história chama atenção, são seus personagens coadjuvantes, que todos têm seu próprio tempo na história e se encaixam de forma criativa, não são usados apenas para o propósito da protagonista e seu desenvolvimento.

Mas a pior parte do longa é sua direção e roteiro. Em qualquer longa, a história se desenvolve por ritmos, quebras de drama para comédia, ação para drama, e assim vai; em Raya, parece que esquecem disso. Quando começamos a história da protagonista em busca de consertar o mundo, vemos só cenas de humor e piadas a cada diálogo e não para, são tão infantilizadas e sem tempo para criar o humor, que até para crianças deve ficar enjoativo. As cenas dramáticas desse filme são bem-feitas e importam, mas são ofuscadas pela falta de atenção. Esse humor também acaba atrapalhando em certos personagens, como a bebê Noi, que é um alívio cômico tão distante da trama que é difícil entender do porquê estar ali.

Sim, é um filme para crianças, e a trama mais séria precisa ser deixada leve, mas não tão leve ao ponto de ser ignorada. Podemos usar de exemplo Avatar: A Lenda de Aang e Dois Irmãos, são animações que foram destinadas ao público infantil, e conseguiram manter seu ritmo de ação, drama, comédia e assuntos delicados de forma tão bem encaixada que a trama e seus personagens sempre eram importantes. Os diretores de Raya e O Último Dragão já disseram que inicialmente, seu corte seria mais adulto e receberia classificação para maiores, não é necessário (por mais que curioso), mas ao menos poderiam ter mantido um pouco da trama em um foco maior, e assim criar um ritmo melhor para todos os públicos.

Já o trabalho de James Newton Howard na trilha-sonora é de aplaudir, por mais que a trama tenha seus problemas de comunicação e ritmo, sua música sabe muito bem onde quer chegar e o que quer passar.

Raya e o Último Dragão não consegue distinguir se é um duelo de espadas, ou uma dança descontraída, mas sabe muito bem como ser marcante, e ser uma das coisas mais únicas já feitas pela Disney. Se no futuro tivermos o universo tão criativo criado aqui, explorado em continuações e séries na Disney+, ela consiga se definir, não só com seu ritmo, mas como seu destino. O que nos resta é confiar no amanhã.

Nota: 3/5