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Festival Guia dos Quadrinhos mostra crescimento em sua edição de 2018

Club Homs é um espaço localizado na Avenida Paulista com vários salões. Usado para casamentos, festas, exposições de cães e gatos… mas anualmente seu salão nobre que comporta quase 800 pessoas vira o festival de quadrinhos mais humano de São Paulo.

O Festival Guia dos Quadrinhos nasceu como Mercado de Pulgas. Basicamente um espaço para troca e venda de quadrinhos e derivados de colecionador para colecionador que surgiu em 2009 na livraria Devir, hoje conhecida como Terramedia. O evento foi batizado dessa forma pois na página do Guia dos Quadrinhos tinha uma seção com o mesmo nome e lá os colecionadores trocavam todos os tipos de quadrinhos pela internet. Pouco depois, virtual foi transposto para o real, assim as pessoas teriam que ir ao local para se conhecer e trocar as revistas. Já em sua segunda participação no festival, o colecionador e vendedor ocasional Alexandre Montandon se surpreendeu com “a quantidade de pessoas que gostam de quadrinho europeu. Neste meio quase todos gostam de super-herois. Mas vim ao evento com minha filha sem tantas expectativas e de repente comecei a descobrir pessoas que gostam, contam histórias e ainda compram os gibis”. Montandon arrecadou com suas vendas seis vezes mais do que investiu inicialmente para participar do festival.

Com o tempo, vieram lojistas, palestrantes, cosplayers… Hoje, temos no mesmo festival debates, concursos, ilustradores, leilões e lançamentos de livros organizados pela própria equipe do festival. Organizador do site Guia dos Quadrinhos e do evento, Edson Diogo conta que “À medida que [o evento] foi crescendo eu também achava que precisava de outras atrações para trazer mais público. Por isso começou a ter artistas, exposições… Esse ano mudei o lugar das exposições, temos a Comix ocupando um espaço muito maior e mais nobre, temos leilões de artes e revistas raras… coisa que já tinha no Mercado de Pulgas, mas como hoje há muitos leilões virtuais, é outra coisa que trouxe também para o [ambiente] real”.

Exposição sobre a Vertigo com curiosidades, capas e ilustrações presentes do livro lançado no evento

Leiloeiro já conhecido na internet, Marcelo Borba veio de Goiânia especialmente para participar do evento e organizou um encontro do Mania Comics, nome do grupo de venda e leilões que administra tanto no Facebook quanto no Whatsapp, a ideia de encontro surgiu dentro dos próprios grupos, que confecciona ram até uma camiseta especial para a celebração e cerca de 90% dos membros do grupo que combinaram de participar vieram ao evento. Após o FGdQ, o grupo planeja se encontrar em outros festivais, como o FIQ e a Comic Con Experience.

Marcelo Borbra (de cinza) e Edson Diogo (de preto) no festival. REPRODUÇÃO/Facebook

Além disso, Borba se encarregou de leiloar os produtos oferecidos pelo festival via coleta dos expositores. O leilão partiu de uma ideia sua repassada ao Edson Diogo, e considera que “99% do vendedor profissional de quadrinhos também é colecionador […] e o festival serve justamente para colocar essas pessoas cara a cara. Para colocar as pessoas de frente a frente, assim fomenta e acalora esse mercado. Tenho uma teoria que o mercado editorial hoje só está com todo esse acaloramento devido esse movimento independente de colecionadores e vendedores profissionais ou não nesses eventos de pequeno e médio porte. É aqui que está fazendo tudo acontecer”.

Como o foco do FGdQ é quadrinhos, selecionamos alguns dos lançamentos mais bacanas do festival:

Vertigo: Além do Limiar

Comemorando os 25 anos do selo adulto da DC Comics e em formato americano – menor que o livro de Jack Kirby, lançado no ano anterior – o livro Vertigo: Além do Limiar foi lançado com a presença de vários dos colaboradores da publicação presentes nos dois dias de evento. Com uma proposta diferente de Os Mundos de Jack Kirby, que reunia majoritariamente ilustrações, o livro da Vertigo também contou com entrevistas e depoimentos inéditos com autores e editores e a participação de escritores e jornalistas brasileiros, cada um escolhendo uma série da editora para fazer comentários, bastidores e/ou resenhas. À partir dos textos, os próprios escritores escolheram quem faria as ilustrações. Vários compraram o livro no evento, mas outros foram apenas retirá-lo, por terem participado da campanha de financiamento coletivo.

Dampyr

O primeiro volume da nova encarnação de Dampyr no Brasil foi publicado pela Editora 85. Com arrecadação pelo o Catarse, o Volume 4, em formato similar aos volumes originais da editora Bonelli e papel off-set, compilando as edições originais italianas de 13 à 16 com as aventuras do caçador de vampiros, todas inéditas no Brasil. As 12 edições anteriores, já publicadas pela Mythos Editora, serão republicadas nos Volumes de 1 a 3 no mesmo formato pela nova editora.

O licenciamento com a Bonelli foi definido já com uma lista de histórias pré-estabelecida, assim como o valor de capa e tiragem prevista. A proposta é inicialmente enviada à Panini italiana e depois para a Bonelli. Aprovada a proposta, o contrato é feito com o valor do licenciamento, que dá ao direito de publicar por um a dois anos o material e uma nova tiragem pode ser negociável. Leonardo Campos, atual editor brasileiro de Dampyr avisa que “pretende publicar, além dos 3 volumes anteriores, as edições, 5 e 6 sempre em formato original e com 4 histórias cada. A quantidade de histórias por volume foi escolhida por causa do financiamento coletivo, pois era necessário tempo de campanha, impressão, distribuição… e todo esse tempo para entregar apenas 100 páginas não é legal. Por isso optamos por uma uma edição mais encorpada”. Com quase 400 páginas, Dampyr custa R$39,90 e pode ser adquirido junto à própria editora via Amazon.

Demetrius Dante

Will também aproveitou o evento para lançar material novo: O terceiro número de Demetrius Dante, feito para comemorar os 10 anos do personagem. A ideia de impressão do gibi em azul e branco surgiu graças à sua esposa Mônica por combinar com o teor sobrenatural das histórias.

Para Will, já “virou tradição fazer um lançamento no festival. Os outros volumes de Demetrius Dante também foram lançados aqui e o terceiro não poderia ser diferente. Meu ritmo de produção, de fazer histórias, sempre acaba culminando com a época que acontece o festival. Gosto muito do FGdQ e o frequentava mesmo antes de produzir os gibis e é uma oportunidade que tento sempre aproveitar e lançar por aqui. Os três acabaram dando certo. É uma feliz coincidência porque gosto do evento“. Todos os volumes de Demetrius Dante, assim como outros quadrinhos do autor, podem ser adquiridos com o próprio Will.

Frauzio – Sapatos novos

Francisco Marcatti também já é um quadrinista costumeiro no FGdQ. Publicando suas HQs por conta própria, desta vez traz ao evento o mais recente número de Frauzio, seu personagem de quadrinhos escatológicos mais conhecido. Há 40 anos publicando histórias de forma independente, Marcatti lembra que suas publicações “começaram por amor e depois viraram teimosia. Meu trabalho é muito difícil, pesado e eu produzo muito. Nenhuma editora tem estômago para trabalhar com o que eu faço nem com a produção que eu tenho”.

Quadrinho para ele sempre foi uma obsessão. E considera um trunfo da produção independente o contato mais próximo com o leitor, além a cobrança pelos próximos lançamentos. Marcatti também considera fundamental que tenhamos várias feiras e eventos, mas que cada uma tenha suas características próprias, e cada uma exige uma seleção diferente de material para ser vendido. Este e vários outros quadrinhos de Marcatti estão à venda em seu próprio site.

 

O Festival Guia dos Quadrinhos promete voltar em 2019, sempre trazendo novidades aos colecionadores. Desde já aguardamos por novidades!

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Festival Guia dos Quadrinhos acontece neste fim de semana em São Paulo

Chegou a hora: Entre os dias 14 e 15 de abril, acontece o Festival Guia dos Quadrinhos, evento já tradicional no calendário dos colecionadores de HQ que surgiu graças ao maior catálogo de consulta de publicações do gênero no país.

Reprodução: universohq.com

Seu principal atrativo é a venda de quadrinhos de colecionador para colecionador. Boa oportunidade para garantir itens raros e esgotados. Além disso, lojistas de quadrinhos, camisetas e action figures como As Baratas, Comic Hunter, Pop Arts, Empório HQ e Comix Book Shop estarão por lá, sendo esta última com sessões de autógrafos de Carlos Edgard Herrero, Fernando Ventura e Cris Alencar, ilustradores nacionais dos quadrinhos Disney. Colecionadores Disney e de outros nichos terão acesso ao Museu Abril de Quadrinhos Disney, Um tour por diversas curiosidades do mundo Disney em uma experiência incrível de imersão virtual 3D.

Como novidade no esquema de mesas do evento, o centro será reservado apenas à artistas, vários deles colaboradores de Vertigo: Além do Limiar, obra em homenagem aos 25 anos do universo adulto da DC Comics e que será lançado no evento. Lembrando que ano passado também foi lançado um livro no festival. Este, OS Mundos de Jack Kirby, dedicado ao centenário do rei dos quadrinhos de super-herois. Todos os Expositores podem ser conferidos aqui.

Além disso, teremos palestras, bate-papos, produtos em promoção relâmpago, concurso de Cosplay, leilão de HQs raras e artes originais e o tradicional Quiz Nerd, onde sua resposta pode resultar em prêmios bem legais.

Confira a programação:

14 de abril (Sábado)

10h – Abertura

12h30 – Cariello: Cores e Traço (Auditório)
Um bate-papo com o nosso artista homenageado, Octavio Cariello.

13h – Quiz Nerd (Palco principal)
Perguntas sobre quadrinhos, cinema, TV e literatura com prêmios.

13h30 – Vertigo 25 anos (Auditório)
As histórias de bastidores de diversas publicações da Vertigo no Brasil.
Com Cassius Medauar (JBC), Leandro Luigi Del Manto (Devir), Sidney Gusman (Mauricio de Sousa Produções)
Mediação: Marcelo Naranjo (editor do site Universo HQ)

15h (em diante) – Sessão de autógrafos (Palco principal)
Diversos autores e artistas que participaram do livro Vertigo: Além do Limiar

15h – Quadrinhos Disney com Cris Alencar (Auditório)
A ilustradora e colorista que se tornou uma das mais respeitadas profissionais dos quadrinhos Disney.
Com Cris Alencar e Paulo Maffia (Editora Abril)

16h30 – Vingadores: Guerra Infinita e os Dez Anos do Universo Cinematográfico Marvel (Auditório)
O que espera do clímax de uma história que começo no cinema há dez anos? E qual o futuro do universo cinematográfico da Marvel?
Com Carol Pimentel (Panini Comics), Marcelo Salsicha (dublador), Paulo Gustavo (jornalista, crítico de cinema)
Mediador: Maurício Muniz (editor da Coleção Mundo Nerd)

17h30 – Sessão de autógrafos (Salão Comix)
Com o Mestre Disney Carlos Herrero, um dos criadores do Morcego Vermelho e responsável por mais de quatro mil páginas de quadrinhos Disney.

18h – Leilão (Auditório)
Leilão de quadrinhos raros e artes originais. Os itens que serão leiloados e as regras estão disponíveis na página www.fgdq.com.br/leilao
Com Marcelo Borba

21h – Encerramento

15 de abril (Domingo)

10h – Abertura

12h (em diante) – Sessão de autógrafos (Palco principal)
Diversos autores e artistas que participaram do livro Vertigo: Além do Limiar

13h – Parada Cosplay na Avenida Paulista
Uma legião de cosplayers, vestidos como os grandes heróis dos quadrinhos, cinema e tv, em um passeio especial pela Avenida Paulista a partir da sede do evento, o Club Homs.

13h – Os estúdios de quadrinhos Disney na Itália (Auditório)
Os bastidores da produção de HQs italianas e as novidades Disney na Abril
Com Paulo Maffia (editora Abril), Thiago Gardinali (jornalista)

14h – Quiz Nerd (Palco principal)
Perguntas sobre quadrinhos, cinema, tv e literatura com prêmios.

14h30 – Concurso de cosplay (Palco principal)
Fantasias, máscaras, roupas criativas e ousadas. Super-heróis, vilões e monstros! Um concurso organizado pelo grupo Comics Cosplay br, com prêmios da Japonesque para os participantes que se destacarem.

15h – Sessão de autógrafos e desenhos (Salão Comix)
O desenhista e roteirista Fernando Ventura fará desenhos de personagens da Disney para o público e autografará seus trabalhos.

15h15 – Feio, Forte e Formal: Os 30 anos da revista Animal (Auditório)
Um bate-papo com alguns membros da equipe criativa de uma das revistas mais politicamente incorretas que passaram pelas bancas brasileiras.
Com Newton FootPriscila FariasRogerio de CamposRosane Pavam
Mediador: Marcelo Alencar

18h – Encerramento

O Festival surgiu com o nome Mercado de Pulgas em 2009 e acontecia na Vila Mariana, também em SP, anualmente, com exceção de 2012 quando teve duas edições. À partir de 2013 o evento começou a se chamar Festival Guia dos Quadrinhos e vem crescendo desde então.

Assim como em 2017, a edição deste ano será no Club Homs, que fica na Av. Paulista, 735 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01311-100. Os ingressos custam R$25,00 para sábado e R$20,00 no domingo e podem ser adquiridos na bilheteria do evento. A Torre estará lá. Compareça!

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Quadrinhos

HQ sobre a Polícia Militar entra em pré-venda

A editora Draco prepara o lançamento de Socorro! Polícia! Um Quadrinho Sobre o que a Pm Sofre e o que Sofremos com Ela.

A HQ, feita em em forma de reportagem pelos jornalistas Amanda Ribeiro e Luiz Fernando Menezes teve um ano de produção com entrevistas de dezenas de policiais e especialistas em segurança pública, além de material colhido em livros e estatísticas sobre o assunto.

O intuito é tentar responder o que fez a Polícia Militar se tornar o órgão que é hoje: Respeitado por uns, desmerecido por outros e com um sistema de administração duvidoso, com estrutura sucateada e salários irrisórios. E como um PM precisa trabalhar nesta situação.

A obra também questiona a participação da mídia na criação do esteriótipo do policial brasileiro, a hipótese da desmilitarização da polícia e a influência de outros fatores na segurança pública, como justiça, desemprego e educação.

Socorro! Polícia! terá 152 páginas em formato 17x24cm e capa cartonada pelo preço de R$39,90. Seu lançamento é previsto para 10 de maio de 2018 e sua pré-venda pode ser feita via Amazon.

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Cinema

Confira o primeiro teaser de O Doutrinador

O Doutrinador ganha seu primeiro teaser. Na trama, o protagonista é um anti-herói no melhor estilo dos vigilantes dos quadrinhos. De acordo com o release oficial, O Doutrinador é Miguel, um agente federal altamente treinado que vive num Brasil cujo governo foi sequestrado por uma quadrilha de políticos e empresários. Uma tragédia pessoal o leva a eleger a corrupção endêmica brasileira como sua maior inimiga. E ele começa a se vingar da elite política brasileira em pleno período de eleições presidenciais, numa cruzada sem volta contra a corrupção.

https://youtu.be/1TjLC2__XyM

O Trailer será exibido no Brasil nas sessões do filme Vingadores – Guerra Infinita. Além da película, uma série de TV está em produção pelo canal Space.

O longa-metragem de O Doutrinador é baseado na HQ homônima de Luciano Cunha, lançada em três partes no anos de 2013 e edição encadernada em 2017, ambas pela Redbox Editora.

O Doutrinador tem estreia prevista para 20 de setembro de 2018.

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Literatura

Série Filhos do Fogo – Sangue de Dragão, de Denis Ibañez, busca financiamento online

Um novo projeto literário destinado a aficionados por narrativas medievais fantásticas está em fase de captação de recursos para ganhar vida. Trata-se da Série Filhos do Fogo, de Denis Ibañez. O primeiro volume, Sangue de Dragão, já está disponível no Catarse e oferece diversas possibilidades de contribuição, variando entre 10 e 1.500 reais. O livro de formato 16x23cm, cerca de 300 páginas e capa ilustrada por Pedro Kruger tem Campanha Flexível, ou seja: O projeto poderá ser bem-sucedido mesmo que não atinja a meta de inicial em 100%.

Segundo o autor:

O projeto “Série Filhos do Fogo” nasceu após muitos estudos históricos e mitológicos, além de reunir diversas referências que influenciaram diretamente em minha maneira de escrever.

Desde criança sou fascinado por fantasia e, dentro do mundo fantástico, a figura do anti-herói sempre chamou minha atenção, sempre olhei para ela com um carinho especial. Isso foi consolidado quando li a “Trilogia dos Espinhos – Mark Lawrence”, não sei se conhece a obra, é sensacional! Sou amigo do autor e trocamos diversas ideias sobre todo o processo de criação do meu livro.

Além disso, após ler obras como “As Crônicas de Gelo e Fogo – George R. R. Martin” e “As Crônicas do Matador de Reis – Patrick Rothfuss”, uma ideia surgiu em minha mente. Nessa época, eu já havia lançado meu primeiro livro em Inglês e Português, além de ter participado de uma antologia e organizar outra, com um conhecimento de mercado satisfatório, cheguei a conclusão de que deveria alçar voos maiores, sonhar mais alto.

Para mais informações sobre a obra e opções de financiamento, basta acessar sua página no próprio Catarse neste link. O período de financiamento vai até 04 de maio de 2018.

Paulistano nascido em 1986, Denis Ibañez desde a infância foi aficionado por histórias fantásticas das mais variadas, fossem animes, livros, séries ou filmes. Sua vocação para literatura foi descoberta ainda em ambiente escolar, uma vez que suas redações sempre eram selecionadas para leitura entre os alunos de sua classe. Formado em comunicação digital, o escritor leva uma vida profissional dupla, atuando como programador durante o dia e transformando em livros as ideias que o acompanham desde o tempo de criança, geralmente nos períodos noturnos. Seu primeiro livro, a fantasia infanto-juvenil intitulada Layerth – O Mundo Perdido, foi lançado na Bienal de São Paulo de 2016 e esgotou-se em pouco tempo, fazendo um enorme sucesso. Após lançar seu primeiro título, o autor escreveu alguns contos independentes, participou da antologia Universos Extraordinários, lançada pela editora Pendragon, além de organizar a antologia intitulada Romances Fantásticos em parceira com a escritora Alessandra Morales, ainda a ser lançada pela Editora Hope. Agora o autor lança o primeiro volume de sua trilogia Filhos do Fogo, intitulado Sangue de Dragão.

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Quadrinhos

Lançamento da Coleção A Espada Selvagem de Conan é adiado

A Espada Selvagem de Conan, uma das coleções de HQs mais aguardadas de 2018, será lançada oficialmente somente no segundo semestre de 2018 pela Salvat. Sem maiores detalhes, a notícia foi divulgada nas redes sociais pela própria editora com o seguinte comunicado oficial:

https://www.facebook.com/ColecaoTexSalvat/photos/a.277837299381603.1073741830.246633859168614/350476708784328/?type=3&permPage=1

A assinatura da coleção no Brasil começou em formato de pré-venda ainda em 2017, oferecido inclusive no estande da editora durante a Comic Con Experience. Atualmente, o serviço de assinatura encontra-se desativadoA mesma coleção também está em processo de pré-venda pela Editora Hachette, proprietária da Salvat, na Itália, Alemanha e França que, além da coleção, oferecem brindes aos seus assinantes:

The Savage Sword of Conan foi uma publicação da Marvel Comics e Curtis Magazines entre 1974 e 1995 e por muitos anos circulou simultaneamente com a mensal Conan The Barbarian. Diferente do  segundo título, The Savage Sword of Conan tinha formato magazine e histórias em preto e branco. Seu conteúdo mais adulto fez a Marvel optar por esse formato para não ser barrada pelo Comics Authority Code, selo de aprovação que inspecionava os quadrinhos estadunidenses. Por seu formato maior e ausência de cores, TSSoC não era enquadrada na configuração de “gibi” e assim circular em seu país de origem sem restrições. Caso similar aconteceu com as históricas Mad, Creepy e Eerie, todas no mesmo formato. No Brasil, TSSoC teve duas encarnações: Entre 1984 e 2001 pela editora Abril e entre 2002 e 2010 e pela Mythos.

A coleção brasileira de A Espada Selvagem de Conan tem previsão de ao todo ter 75 volumes em capa dura e mais informações podem ser consultadas aqui mesmo na Torre através deste link.

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Torre Entrevista Panini Brasil sobre o aumento de preços

O recente aumento de preços nas edições de luxo da Panini Brasil está gerando imensa polêmica por parte dos lojistas e leitores da editora.

Encadernados estão chegando a 120 reais no preço de capa por menos de 300 páginas, que até pouco tempo eram comercializados na casa dos 80 reais.

Leitores já se mobilizam pelas redes socias com campanhas de boicote à editora, ao mesmo tempo que outros aproveitam promoções de grandes sites de varejo, que colocam descontos de até 40% em produtos recém lançados.

Campanha seguida com a hashtag #vaiencalharpanini surge no Instagram

Enquanto isso, lojas de quadrinhos independentes ficam sem ter como concorrer com os preços das gigantes do mercado e esperam o que pode ser feito por parte das editoras caso o projeto de lei 49/2015, que pretende taxar uma porcentagem máxima de desconto em livros nos seus primeiros 12 meses de circulação, seja aprovado.

Em resposta à algumas dúvidas, a editora soltou uma nota oficial à imprensa, mas perguntas ainda ficaram no ar. Agora, em entrevista exclusiva à Torre de Vigilância a Panini Brasil, através de sua assessoria de imprensa, busca esclarecer as principais questões que surgem no mercado.

Como funciona a distribuição às grandes redes de varejo (Amazon, saraiva…) e para comic shops que vendem os mesmos produtos? Por que as lojas grandes oferecem ao consumidor descontos maiores em relação ao preço de capa do que lojas menores, como Itiban, Comix, Gibiteria…?

A Panini vende os produtos para as redes de varejo sempre da mesma maneira, isso é, a Panini não beneficia nenhuma rede em especifico. Entendemos que dessa maneira não interferimos nas estratégias dessas empresas. A política de descontos das livrarias não tem qualquer ligação com a Panini.  O preço de capa sugerido aos varejistas, sendo online ou não, são iguais. Cada varejista utiliza a estratégia de desconto que melhor lhe convém.

O aumento do preço tem a ver com a política de altos descontos da Amazon, que costuma aplicar descontos de 30% a 50% do preço de capa pouco tempo depois de seu lançamento, assim fazendo seu preço ser similar ao praticado meses atrás pela Panini? Exemplo: A Noite das Trevas hoje está custando 48 reais, já com o desconto aplicado sobre o preço de capa de 72 reais. 48 reais era o valor de capa similar (com margem para maior ou menor valor dependendo do produto) meses atrás em edições da Panini nesse formato e número de páginas. Tal prática faz os leitores hoje dificilmente pagar o preço de capa do material destinado à livraria.

O aumento não tem qualquer ligação com os descontos praticados por qualquer loja, online ou off, do varejo. O preço de capa sugerido aos varejistas, sendo online ou não, são iguais. Como respondido anteriormente, enfatizamos que cada varejista utiliza a estratégia de desconto que melhor lhe convém.

A Noite das Trevas: R$72,00 por 126 páginas

Esse aumento fez algumas edições serem mais caras que sua versão importada. Exemplo: Escalpo Volume 1 está custando 94,02 reais mesmo com desconto aplicado sobre o preço de capa de 120 reais; A versão Importada, Scalped Deluxe Edition book One está saindo por 82,44 reais no mesmo site (Amazon Brasil). Sendo que as duas edições são em capa dura, o valor da Panini está acima do valor internacional, algo que foi informado no comunicado que está abaixo. Por quê?

Apesar do realinhamento de preços que tivemos que fazer para manter, em muitas oportunidades, aproveitamos para melhorar a qualidade editorial e gráfica de nossos produtos.

Dessa forma evidenciamos que o preço praticado no mercado nacional, está quando não abaixo, em linha do mercado americano, quando convertido para a moeda Real, mas com qualidade gráfica equivalente.

Diferenças de preço como o caso do título “Escalpo”, se deve a variações como tiragem, negociação com a licença para um título especifico ou mesmo obrigatoriedades contratuais.

As edições antes eram impressas na China para baratear os custos de produção. Esta tática ainda é aplicada?

Com a constante flutuação da moeda e o aumento de preço das commodities,as impressões no exterior tem se tornado menor e menos atrativas para a empresa, do ponto de vista do planejamento de custos a longo prazo.

Estão cientes do projeto de lei 49/2015 que, caso aprovada, visa impedir descontos acima de 10% sobre o preço de capa nos primeiros 12 meses após seu lançamento? De acordo com o projeto, acabaria com a ação predatória das grandes redes sobre lojas menores. O que acham sobre o assunto e  Em outros países que a Panini atua essa lei já existe. Essa lei faria o valor do preço de capa abaixar?

Essa lei, se aprovada, não afetaria a precificação da Panini, uma vez que não usamos como base os possíveis descontos do varejo para a formulação dos preços.

Tal situação do mercado editorial de quadrinhos será assunto de outra matéria, a ser publicada aqui na Torre em breve. Aguardem!

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Torre Entrevista | David Mack

Ele torna a violência, a agressão em uma folha de papel em algo suave como sua arte. David Mack é um dos maiores de sua geração. Em sua visita ao Brasil na CCXP, conversamos com o roteirista, capista e pintor que, inclusive, abriu o jogo sobre futuros projetos:

Vamos começar falando do Demolidor, cuja popularidade se multiplicou nos últimos anos, especialmente desde sua fase com Kevin Smith e, posteriormente, Brian Michael Bendis. Como é mexer com um herói tão cheio de imperfeições e quanto sua fase influenciou as outras mídias (filme, seriado…) ?
É um personagem que pode ser considerado um herói imperfeito desde sua infância, além da marca de “deficiente”, taxada por algumas pessoas. Mas, sua forma única de perceber o mundo torna-se sua vantagem. Então, gosto dessa ideia: Ele é bem diferente por causa disso e se destaca do resto da humanidade por essas experiências [sensoriais] com a realidade. Gosto dessa diferença pois o obstáculo vira uma qualidade e também como o tema da história. Quando comecei minha primeira história [do Demolidor] que o [Joe] Quesada desenhou, ele me pediu para criar um novo personagem e vim com a Echo porque achei que ela seria outro personagem que percebe o mundo de forma única, também transformando desvantagem em atributo. Cada um tem um forte ponto de vista, e quando os une, podemos fazer histórias muito interessantes. A terceira pessoa com fortes pontos desde sua infância foi Wilson Fisk. Assim, gostei muito de fazer a história que considero a origem de Fisk. Aliás, considero esta a primeira história cronologicamente dizendo que fiz sobre o DD. Várias ideias desse número foram parar no seriado em Vincent D’Onofrio, com o martelo, rachaduras na parede, as brigas dos pais… Se você olhar bem, eles usaram até as mesmas cores de roupas dos quadrinhos. Então, algumas partes da minha história foram para a Netflix.

Echo e a origem de Wilson Fisk por David Mack e Joe Quesada em Daredevil nº15. Abril de 2001. (Reprodução: Comixology.com)

Em Demolidor – Fim dos Dias, você apenas fez o roteiro. Como foi dessa vez, salvo algumas páginas, voltar a somente essa função? Tem ambição de regressar ao universo dele?
Claro. Eu amo o Demolidor! Como você disse, comecei fazendo o roteiro do Demolidor e não a arte interior. De fato, na maioria das histórias fui escrevendo, mas há uma que não o fiz e foi esta uma das primeiras que o Brian [Michael Bendis] escreveu para Marvel justo quando mudei para a arte interior. Isso foi basicamente para conseguir um emprego para o Brian como escritor. Era uma grande oportunidade de trabalharmos juntos em um projeto que selasse nossa longa amizade. Também gosto de saber que foi um dos seus pontos de partida na Marvel e fizemos coisas maravilhosas por lá de lá para cá. Então, foi fantástico voltarmos juntos em Demolidor – Fim dos Dias e de quebra, adoro que os artistas sejam Bill Sienkiewicz e Klaus Janson, porque Brian e eu crescemos e aprendemos lendo-os nas histórias do DD quando garotos…

Dois muito influentes artistas do DD!
Muito influentes também em storytelling em geral para mim e Brian. Aprendemos tanto que colocamos em nossas histórias e arte. Trabalhar com esses caras em uma história que eles também trouxeram à vida era um sonho. Agora é real. Desde então estou escrevendo uma sequência para DD – Fim dos Dias com a mesma equipe criativa na medida do possível. Klaus agora é um artista exclusivo da DC, queríamos que ele fizesse parte também, mas provavelmente o Bill vai fazer a maior parte da arte. Essa sequência se chamará Justiceiro – Fim dos dias. Amei escrever o Justiceiro em DD – Fim dos dias e penso que seria ele o ideal a próxima história fluir. Ainda terá os outros personagens da história anterior, onde Ben Urich a fez desenrolar em sua parte urbana mas, obviamente, ele não estaria em uma história subsequente. O Justiceiro então seria sucessor e já trabalhei muito nisso com o Brian antes dele assinar com a DC. Agora vamos ver como vai ser daqui em diante.

Justiceiro em Demolidor Fim dos dias (Reprodução: comicstore.marvel.com)

Frank Castle é um personagem mais urbano, assim como o Demolidor. Já pensou em fazer quadrinhos com um herói de características mais clássicas?
É uma boa pergunta. Também vejo o Justiceiro e Demolidor como personagens mais “de rua”. Quando escrevo-os, penso que devem permanecer por lá, para manter essa perspectiva de um núcleo do Universo Marvel, por isso foi bom o aspecto em colocar o Ben Urich nessa situação. Há uma parte em que ele quer se encontrar com Os Vingadores, mas eles não se encontram com ele. Nessa história, gosto da limitação entre esses personagens, deixando de lado a parte mais cósmica da Marvel. Apesar disso, eu adoraria fazer uma HQ do Doutor Estranho, Batman ou algo a mais.

Seu trabalho mais autoral é Kabuki. Esta vem de uma cultura estrangeira. Há pintores de alto nível no Japão, como [Ayami] Kojima, Yoshitaka Amano… Como esse sincretismo artístico o influencia?
Essa questão é interessante porque estive recentemente no Japão por duas semanas. Tenho muita influência em meu trabalho de culturas globais e do Japão especificamente em Kabuki. O divertido em roteirizar quadrinhos, fazer arte e até escrever histórias é que não há um dispositivo de desligamento para de onde vem sua inspiração. Você pode constantemente viajar entre diferentes níveis, mundos e, quando leva aos quadrinhos, isso se torna seu laboratório, seu playground para processar tudo que te inspira. Para pegar um pedaço de tudo que faça sentido, e essa é minha área de lazer.

página interna de Kabuki (Reprodução: Davidmackguide.com)

Você hoje é mais um capista. O quanto um roteirista tem poder sobre suas capas e o quão tênue é sua linha para não interferir na arte do miolo, feita por outro desenhista?
Não sei bem o quanto minha arte influencia ou interfere o conteúdo, é mais fácil falar com cada artista em individual. Em alguns momentos no começo de Alias – Jessica Jones fiz alguma arte interior mas eu estava satisfeito de fazer as capas. Em Deuses Americanos, de Neil Gaiman, fico feliz em fazer a arte de capa dessa nova série em quadrinhos assim como em Clube da Luta, de Chuck Palahniuk

Como é trabalhar com Gaiman?
Fantástico. Fazemos também pôsteres algumas vezes durante o ano, em feriados… inclusive estava fazendo um hoje de manhã no hotel! Este, um pôster promocional. Estou muito satisfeito em estar nessa com Neil. Muito contente de estar em Deuses Americanos e espero fazer mais coisas com ele.

Capa de American Gods: Shadows nº4 (Reprodução: Darkhorse.com)

Falando em autor, há uma história muito engraçada e curiosa porque existe um outro David Mack, que vocês inclusive dividem o mesmo website! Qual é sua relação com ele e como isso funciona?
David Alan Mack é um cavalheiro que escreve livros como os de Star Trek e tenho a honra de dividir meu nome. Há outros “David Macks” por aí, como um que é embaixador do oriente médio. Em geral, tenho uma ótima relação com eles.

 

Com o outro David Mack, o escritor, considero que seria interessante um trabalho conjunto, fazendo a capas dos livros. Quem sabe um dia…

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Torre Entrevista | Steve Oliff

Nesta semana de aniversário de Akira, aqui na Torre esmiuçamos a versão brasileira do mangá. Mas uma particularidade ainda carecia de maiores explicações: As cores. Steve Oliff, possivelmente o mais famoso colorista dos quadrinhos também foi o primeiro a colorir digitalmente uma HQ, exatamente em Akira. Para falar mais sobre o assunto, conversamos com ele que, diretamente da Califórnia, nos contou seu lado sobre os bastidores de um dos seus mais famosos trabalhos e explica por que tantos leitores até hoje preferem sua versão colorida pela Marvel/Epic à obra original de Katsuhiro Otomo.

Akira foi o primeiro mangá de muitos leitores. A primeira pergunta é simples: Você teve algum contato com mangá, seja como leitor ou colorista antes de Akira?

Não. Resposta simples [risos]. Havia pouquíssimos mangás naquela época disponíveis por aqui quando comecei a colorir Akira.

Quando Archie Goodwin o indicou para ser o colorista de Akira, você já era um candidato ou nem sabia sobre essa publicação?

Ele [Archie] me pediu para fazer algumas páginas de teste. Eu já estava na Marvel desde 1978 e eles procuravam alguém para fazer essa nova HQ que seria longa. Me mandaram 4 páginas e fiz algumas amostras. Mas algo sobre Akira me chamou atenção de que parecia ser um trabalho importante. Então me empenhei muito no meu guia de cores e amostras para ver se eu conseguia a vaga, e as minhas foram escolhidas.

Durante esse processo, [Katsuhiro] Otomo viajou aos Estados Unidos e ficou uns dias por aí…

Sim, ele viajou!

E quanto tempo você trabalhou pessoalmente com ele?

No início, o que aconteceu quando eu recebi a autorização para continuar com o trabalho, fui até Nova York para conhecer os editores e o Otomo. Um amigo meu tinha aqueles volumes grossos em preto e branco, acho que eram os volumes 1 e 2, e um amigo dele falava japonês e traduziu esses volumes para ele! Os peguei emprestado já traduzidos e durante o voo da Califórnia para Nova York eu li o primeiro antes mesmo de me encontrar com a equipe. Passamos de algumas horas para até um dia ou dois em reunião. Depois de estabelecer contato, voltei para casa e comecei a minha parte para valer.

Steve Oliff (agachado na ponta esquerda) e Katsuhiro Otomo (em pé na ponta direita) com convidados em um dos encontros (Reprodução: youtube.com)

Ainda sobre o Katsuhiro, ele passou alguns dias nos EUA e, pelo que dizem, falava inglês muito bem…

Posso acrescentar algo? Quando fomos ao hotel e discutimos sobre as páginas, ele parecia que não falava muito inglês. Depois fomos a um sushi bar e foi a primeira vez que comi sushi. Após relaxarmos um pouco e dizer que fui aceito na equipe ele se soltou e falou muito mais!

Quais eram as maiores preocupações dele sobre esse processo de cores?

Se eu seria capaz de contar a história com as cores, pois haveriam transições evidentes e como o ritmo da história, uma vez que era uma longa história, não seria a afetado e [as cores] não seriam um problema e sim uma contribuição para a narrativa.

Os Japoneses são conhecidos por trabalhar muito. Os mangakás mais conhecidos têm 5 ou 6 assistentes para desenhar junto com eles e nesse processo chegam a produzir 20 páginas por semana…

Otomo desenha mais sozinho. Ele tinha alguns assistentes, mas quando o visitei no Japão e pude ver como era sua produção, às vezes até seus editores o ajudavam, passando a noite preenchendo a arte-final dos cenários e fazendo o letreiramento dos balões para que ele pudesse cumprir os prazos.

E sobre a cores. Qual era a média de tempo que se levava para terminar uma página?

Não é exato pois houve dois processos. O que aconteceu com Akira foi que ele seria adaptado para as HQs da Marvel, que são quadrinhos com cores mais vivas e chapadas. Fizemos alguns testes para o guia de cores, porque era minha função na época. Feito isso, eu enviava as páginas junto com um sistema numérico para Connecticut. Lá, avaliavam o que eu fiz, que era compatível a um sistema equivalente a 64 cores diferentes. Fizemos alguns testes, mas ninguém ficou satisfeito com o resultado. Então lembrei de um amigo que tinha um programa de cores para computador e sugeri à Marvel se poderíamos usar um sistema digital, que me daria a possibilidade de usar milhões de cores ao invés das 64 anteriores. Eles aceitaram e, na História das HQs pelo que sei, com exceção de alguns casos isolados como Richard Corben que faz suas próprias seleções, foi a primeira vez que o artista do guia de cores também foi o selecionador. Esses eram dois processos distintos.

O projeto durou de 1988 até 1996. Quando o Katsuhiro voltou ao Japão, como funcionou o processo de edicão da HQ?

O equivalente ao primeiro volume original de Akira, que tinha umas 300 páginas, ele me mandava em fotocópias alguns “mini-guias de cores”. Nada muito específico ou que eu era obrigado a seguir à risca, mas para mostrar as ideias que ele tinha. E então eu já com papeis de qualidade superior, usava airbrush, caneta hidrográfica, guache e outros artifícios e os mandava ao Japão para ele olhar como ficou. Após sua aprovação, ele mandava de volta para nós e aí começava o processo por computador. Foi dessa forma até ao número 6 da edição Norte-americana. Depois disso, ele disse: “Está bem, você entendeu o que queremos por aqui” e eu não precisava mais mandar meu guia de cores ao Japão.

Exemplo de página de Akira colorida à mão por Oliff (Reprodução: Twitter.com)

Então os guias viajavam o mundo?

Sim, pelas primeiras seis edições da Epic. Outro fator no começo da produção foi que eu não tinha uma impressora ou scanner. Apenas a máquina para guia de cores. Kenny Giordano escaneou todas as páginas, me mandava em disquetes para eu colorir no processo digital. Eu devolvia dos disquetes para Kenny, ele imprimia as provas de impressão e as enviava para a Marvel. Aqui na Califórnia nós não tínhamos visto estas provas. Só víamos o a versão final impressa. Isso só mudou à partir da edição 11 quando no nosso estúdio chegou uma impressora Mitsubishi G650-10 e nos deu a chance de marcar as cores por conta própria. Antes disso, estávamos completamente cegos. Se cometêssemos algum erro, não saberíamos até ver a versão final impressa.

Um elemento importante foi quando a publicação entrou em hiato na época que Katsuhiro foi trabalhar em outros projetos…

Foi pela edição 33 da versão da Epic.

Aqui no Brasil Akira só voltou em 1997, após muita preocupação por parte dos leitores da HQ de ela ficar incompleta por aqui. Mas por parte da Marvel, esse medo também foi real?

Sim. Não estávamos seguros que Otomo retornaria, mesmo que já tínhamos ido tão longe. Na época, o mercado estava mudando, com a Image Comics surgindo com Spawn, The Maxx, Savage Dragon e toda a equipe que criei para mexer com Akira saiu da minha companhia para outras empresas. Então tive que recomeçar com uma nova equipe para as últimas edições e, infelizmente, o resultado não foi bem o que eu queria. A edição 32, que é minha favorita de toda a série, eu tinha a melhor equipe que treinei desde o começo e foi muito satisfatório, falando tecnica e artisticamente. Para as últimas edições, só pudemos mexer com elas quando ele [Katsuhiro] as mandou revisadas e até redesenhadas para nós.

Página de Akira nº 32. Marvel/Epic Comics. Abril de 1992.

Sobre seu estúdio, hoje as páginas são coloridas usando Photoshop. Na época de Akira, apesar do programa que vocês usavam, era diferente. O quanto você acha que a forma com que as páginas de quadrinhos feitas hoje, seu estúdio Olyoptics tem influência?

O que tínhamos era um software muito primitivo chamado Kaleidoscope, depois chamado de sistema Codd/Barrett e não chegava perto do poder do Photoshop. Como analogia, o que usávamos era como um carro de três marchas e câmbio manual. Photoshop é uma Ferrari ou Maseratti. Tínhamos que achar formas de compensar as limitações de nosso software com a criatividade de nossas escolhas. Quando começou a era digital muitos não tinham a expertise e nós já estávamos calejados. Desenvolvemos um novo estilo de coloração chamado The Cut Color. Com o Photoshop e bitmap, nosso software foi fragmentado. Tínhamos que saber a representação numérica que cada cor tinha porque era necessário saber se o que era apresentado em nossos monitores casava com o sistema CMYK. Quando se pintava com Photoshop no começo muitos se maravilham com as cores na tela, mas não entendiam as diferenças do sistema RGB do monitor com o CMYK que ia para a impressão final. Sei que é uma explicação bem técnica, mas esse era nosso diferencial.

Todos sabem que o processo de cores de Akira tinha o aval do seu autor. Há fãs que não gostam quando uma obra é modificada dessa forma, quando é colorida ou descolorida. O que acha dessa situação?

Quando a Marvel veio até mim falar de Akira, sendo este seu primeiro mangá, eles estavam convictos de que o público norte-americano não estava pronto para o material em preto e branco. Então vi que meu trabalho de colorir Akira era de comunicar com o autor e tentar o meu melhor em entregar uma versão colorida digna da história. Na Olyoptics pensamos que quanto melhor se desenha, melhor colorimos, e o traço de Otomo é fabuloso. Sempre tentávamos nosso melhor. Eu respeito quem prefere a obra original, mas para mim se o espírito essencial da obra está lá preservado mesmo que a colorindo, acho que não há nada errado nisso. Eu prefiro a versão colorida à preto e branco. A versão original é linda mas acho que as cores deram uma dimensão extra à forma de contar a história. Porque eu sempre considerei cores uma “trilha sonora silenciosa”. Vou contar a você um segredo: Quando colori Akira, eu tinha um estúdio com poucas pessoas e muito espaço. Então peguei 56 páginas, o que equivalia a uma edição da Epic, as coloquei no chão em ordem e observei cada segmento da história, cada parte e corte e o que vi é que precisávamos de “cores de cena” para determinados personagens. Quando mudava de um personagem para outro havia uma mudança de cores que, você pode não perceber, mas nosso subconsciente capta que a história está mudando. E dessa forma nós narrávamos a trama usando as cores.

Em 2012, a Norma Editorial lançou na Espanha uma caixa celebrando os 30 anos de Akira. Essa versão era colorida. Você soube ou teve algum envolvimento nesse projeto?

Não. Ninguém nunca sequer me disse sobre as versões internacionais de Akira, apenas as da Marvel. Cheguei a ver somente uma edição alemã.

Versão alemã de Akira (Reprodução: Abebooks.com)

Já nos EUA agora em 2017 será lançada uma caixa parecida para os 35 anos de Akira…

Essa será em preto e branco. Porque eles teriam que usar os filmes que usamos para impressão e eu não tenho certeza se esse material sobreviveu na Marvel. Entretanto, eles levaram os filmes para França, Espanha, Brasil… por isso, em outros países há cópias desses filmes e há a possibilidade de eles terem os conservado melhor do que a Marvel fez.

Caixa comemorativa de 35 anos de Akira sem as cores de Oliff. Kodansha Comics. 2017 (Reprodução: Amazon.com.br)

Em vários casos, as cores precisam ser restauradas ou refeitas em novas edições. Como você mesmo fez no Thor por Walter Simonson e Miracleman. Além do processo digital, o que você acha que fez as cores de Akira serem tão atuais até hoje?

Você chegou a ver algum dos meus guias de cores originais?

Sim! Em Felixcomicart!

Isso. Eu vendi alguns por lá! Pois bem: Os guias foram tratados como arte totalmente pintada e renderizada. Colori esses guias junto com meus assistentes então passamos aos responsáveis pelo processo digital e esse trabalho era de casar todos os artifícios que tínhamos feito manualmente. Depois eram feitas provas de impressão já que nessa época, como disse, tínhamos uma impressora Mitsubishi G-650, então eu sabia que as provas de impressão iam sair bem. Sabia que ia “traduzir” bem. No final, atuei como um diretor de arte passando pelo processo de pintura, impressão e revisando para ver o que precisava ser consertado. Ainda tenho algumas daquelas provas de impressão com notas nas margens dizendo o que era preciso ser feito. Por todo esse esquema, éramos uma equipe rigorosa como nunca se havia antes visto na indústria dos quadrinhos.

Impressora Mitsubishi G650-10 igual àquela usada por Oliff (Reprodução: PC Magazine nº7. Março de 1988)

Os Estados Estados Unidos ainda é um país muito fechado em sua própria cultura. Há, por exemplo, versões estadunidenses de filmes em língua estrangeira ou até de produções britânicas porque não é comum nos EUA o público consumir produtos dublados ou legendados. No Japão, de certa forma é parecido: Há personagens da Marvel e DC que foram adaptados ao mangá. Por que você acha que Akira uniu esses dois mundos e ainda por cima fez sucesso no resto do planeta?

Pelo meu histórico na indústria, recordo que a cultura Japonesa foi introduzida aos quadrinhos norte-americanos após a Segunda Guerra Mundial com a ocupação do país pelos EUA (1945-1952). Os soldados, que eram representados em HQs, também levaram quadrinhos para lá e os japoneses adoravam. Mas, por sua economia estar sofrendo com o pós-guerra, eles não tinham capital para investir em impressões em cores e todo o estilo em preto e branco foi desenvolvido a partir daí. Portanto, o desenvolvimento cultural com quadrinhos foi diferente com o que acontecia nos EUA. Nesse cruzamento de culturas eu sei que, por exemplo, foi publicado um mangá do Homem-Aranha e dessa vez em preto e branco. Tanto aqui quanto lá em seu estilo de publicação e traço. Akira era especial por duas razões: 1 – Por trazer o conceito de narrativa do mangá aos EUA. 2 – A sua versão animada era um passo adiante em seu meio e isso mudou como a audiência por aqui pensava sobre anime e esse assunto. Muitas pessoas que vêm até mim em convenções de quadrinhos sabem que fiz Akira e várias não sabem sobre a versão em quadrinhos, somente a animação. Então, Akira inovou em dois níveis: Na questão do anime e na forma de colorir mangá. Entre essas duas formas, mudou como a audiência daqui pensava sobre anime e mangá.

Influência estadunidense nos mangás (Reprodução: Gijoecomicsinternational.com)

O quanto a versão animada influenciou nas cores do mangá?

Um pouco. O que houve foi que, quando consegui o emprego, Otomo já estava bem adiante no desenvolvimento da animação. Então o que ele me mandou foi uma série slides com frames destaVendo isso e os guias de cores eu poderia escolher minhas cores para a versão da Marvel/Epic. Era uma referência, então não foram trabalhos isolados. A animação influenciou o mangá.

Amostra de Slide da animação de Akira (Reprodução: pinterest.com)

Mas apesar do sucesso de Akira, por que você acha que nunca mais teve um projeto como esse pela Marvel ou nenhuma outra editora? Por exemplo, a Dark Horse lançou vários mangás nos Estados Unidos inicialmente com formato similar: Número reduzido de páginas, formato americano, leitura ocidental… mas não em cores.

Bem… uma vez que Akira saiu, este tinha sua individualidade. Ele abriu o caminho para o mangá e materiais em preto e branco, como Lobo Solitário e similares. Editoras, como a Dark Horse, viram que nem todos poderiam colorir tão bem como nós fizemos. Isso sem falar dos custos de produção. Então produziram em preto e branco para poupar investimento e também para dar aos leitores a sensação de como é o mangá em sua forma natural. Foi uma combinação, mas acho que Akira mostrou às pessoas todo esse universo do mangá poderia ser apreciado nos EUA. Além disso, houve uma explosão de quadrinhos em preto e branco e influenciados pelo estilo por aqui, como As Tartarugas Ninja. Isso ajudou ao mercado daqui a aceitar os quadrinhos em preto e branco.

Em 2016 uma caixa similar à versão espanhola também foi lançada na Alemanha. Em cores, esta edição ainda está disponível e custa ‎€199,00.

Semanas após a entrevista, enviei 4 edições de Akira da Globo junto com um exemplar de Astronauta – Magnetar (cores da Cris Peter) a Oliff pelos correios. Nunca soube se chegou a seu destino final, mas se sim, espero que ele tenha gostado. Oliff também me informou o desejo de vir ao Brasil em alguma convenção. Espero que essa entrevista chegue à alguma organização de evento sobre HQs e pensem no assunto.

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Grande Império Akira

O história vista pelo lado brasileiro do mangá que conquistou inclusive os leitores que queriam detestá-lo. 

Em 20 de dezembro de 1982, o primeiro capítulo de um dos mangás mais famosos do planeta foi publicado em seu país de origem. A obra nipônica rendeu muito mais que o reconhecimento de seu autor: Akira é um mangá que atende até quem não gosta desse estilo. O reconhecimento é tanto que Katsuhiro Otomo se tornou o primeiro autor japonês de quadrinhos a ser agraciado com o Grand Prix de AngoulêmeMas a França é um país que trata as HQs de uma forma muito mais respeitosa. Por lá, quadrinhos são assunto até em revistas de fofoca. E no Brasil? Como deu certo num mercado que quase não tinha leitores de mangá e até hoje tem vários colecionadores que repudiam essa escola da nona arte? A resposta é longa.

A Estrada

Não gosto de chegar a esse ponto, mas desta vez se faz necessário: Meu depoimento pessoal sobre minha relação com uma história em quadrinhos.

Lembro exatamente a primeira vez que ouvi falar de Akira: Na semana que precedeu o sábado de 8 de abril de 2000, data que o Cine Band exibiu a animação. Passou foi muito tarde, não aguentei e fui dormir antes do fim, ainda mais porque estava compromissado com o desfile de aniversário da minha cidade natal que aconteceria exatamente no dia seguinte. Não reclamei de ter que acordar cedo naquele domingo, mesmo que 9 de abril sempre era feriado. Eu ainda estava extasiado pelo (pouco) que tinha visto de Akira na noite anterior. Explicando: Eu era um garoto com ainda 10 anos incompletos, não tinha visto até então algo tão absurdo mesmo já tendo experimentado os animes que passavam na já finada Rede Manchete. Aquilo realmente chamou minha atenção.

No mesmo ano, numa data que não lembro exatamente, encontrei uma edição do mangá em Santos. Era o nº 8 publicado pela editora Globo. Depois de certa insistência, convenci minha mãe a pagar os R$4,00 que o jornaleiro queria. Ouvi ela reclamando até o fim da viagem de volta para casa, mas valeu a pena.

Assim como na minha introdução à animação, meu início no mangá de Akira foi fragmentado. Li uma edição aqui, outra ali… mas cada capítulo se juntava como um quebra-cabeças e eu lembrava exatamente cada edição e as reunia mentalmente à medida que ia lendo-as.  Ainda em 2000, achei uma cópia do VHS mofando em uma locadora. Aluguei dois dias depois pagando R$1,50 pelo serviço.

VHS de Akira lançado no Brasil pela Europa Home Video (Reprodução: mercadolivre.com.br)

E esse artigo é exatamente para isso: Juntar as peças sobre a história de publicação do primeiro mangá que eu e muitos colecionadores de HQ leram. No Brasil e fora dele.


O Despertar

A versão de Akira mais conhecida pelos leitores brasileiros espelha-se na edição norte-americana, que foi lançada em agosto de 1988 pelo selo Epic, uma divisória da Marvel Comics fundada em 1982 e capitaneada por Jim Shooter e Archie Goodwin. Oriunda da publicação Epic Illustrated, o selo visava dar maior autonomia aos seus colaboradores e publicar obras mais adultas, nacionais e internacionais. Sem maior fiscalização do Comics Code Authority, essa foi a chance de ouro para sair (ou entrar) no papel HQs que se tornariam clássicos com republicações até hoje: Elektra AssassinaElektra Vive, Legião Alien e Dreadstar, de Jim Starlin, este o primeiro título publicado pelo selo na data de novembro de 1982. Buscando essa diferenciação, os lançamentos da Epic eram publicados em edições em melhor qualidade comparadas às mensais tradicionais da Marvel.

Assim, a Marvel introduziu no (até então) fechado e conservador mercado norte-americano materiais de Alejandro Jodorowski (O Incal) e Moebius (A Garagem Hermética). Curiosamente, essa conexão entre o velho e o novo mundo gerou um posterior intercâmbio e, pelo mesmo selo, Moebius publicou Surfista Prateado – Parábola. Faltava então o oriente. O Japão já levava algumas animações aos cinemas de todo o mundo, mas mangás eram uma raridade. Juntando as duas mídias, o escolhido foi Katsuhiro Otomo. Com um longa em animação batendo na porta dos cinemas, a obra escolhida (claro) foi Akira, que por sua vez foi toda impressa em papel off-set, lombada quadrada e preço de capa no valor de U$3,50, chegando às lojas especializadas em agosto de 1988, mês seguinte à estreia do filme nos cinemas.

Peça publicitária para o lançamento de Akira pela Epic Comics (Reprodução: pinterest.com)

Guerra de Gangues

O tratamento diferenciado dado às HQs lá fora mudou inclusive o nosso mercado, fazendo a Editora Abril lançar seus selos de Graphic Novel, Graphic Album e Minissérie de Luxo à partir de 1988. Se tornou constante a publicação com acabamentos nesse padrão, que até então raramente se via nas bancas brasileiras. A primeira referência sobre a publicação de Akira do Brasil partiu da própria Abril, que na seção de cartas da HQ Homem-Aranha nº69 de março 1989, a editora Sadika Osmann anuncia o título junto com outros que estavam por vir. Por algum motivo desconhecido, essa foi a única HQ da lista a não ser publicada pela então editora de Victor Civita.

Seção de cartas de Homem-Aranha nº69. Editora Abril. Março de 1989. Em destaque, o anúncio do lançamento de Akira que não aconteceu.

Veio então a Editora Globo, que publicou outros títulos da Epic antes e depois de Akira. A Guerra de Luz e Sombras, Moonshadow e O Último Americano são alguns exemplos. Todos seguiram o padrão de luxo adotado pela editora concorrente.

Com os direitos de Akira, a Globo explorou de diversas formas a divulgação do material. Com base em um briefing desenvolvido pelos editores da Globo, um vídeo de propaganda da HQ era exibido como uma espécie de Trailer no vídeo VHS da animação e nos intervalos comerciais de emissoras de televisão:

https://www.youtube.com/watch?v=k41tuoL1FTs

Pôsteres gigantes foram pendurados nas bancas brasileiras. Um padrão para as publicações da Globo na época era que as 6 primeiras edições terem essa forma de divulgação, mas como se confirma pelas imagens, os cartazes de Akira foram bem além:

Cartazes de banca. Contribuição do colecionador William Shibuya

Propagandas de Akira eram estampadas em vários produtos da Globo, inclusive HQs de estilo totalmente oposto como Tex. Neste título, a propaganda de Akira apareceu pela primeira vez na edição 261 e estampou a contracapa ininterruptamente do número 268 até o 273, sendo interrompida na edição 274 para uma propaganda de Sandman e voltando pela última vez no número 275.

Akira como propaganda de Tex Nº261. Julho de 1991

Além disso, uma festa de lançamento do mangá foi realizada no Hotel Nikkey, situado no bairro da Liberdade, reduto asiático no centro da cidade de São Paulo. Após tanto investimento, a primeira edição veio às bancas em dezembro de 1990 com o preço de capa de Cr$350,00, equivalente a R$18,04 na cotação de 2017.

Imperador do caos

Como em várias mídias, os quadrinhos também sofrem muito preconceito. No Brasil não é diferente: Até os dias atuais há leitores que instantaneamente não gostam de Fumetti, Bande Dessinée, Manhwa, Quadrinhos nacionais e… mangá. É comum ver leitores que não gostam de determinada escola de narrativa gráfica simplesmente por não gostar. Se hoje as coisas são dessa forma, quase 30 anos atras era ainda pior.

Assim, a Globo decidiu publicar Akira no Brasil seguindo os padrões da edição estadunidense. Nosso primeiro Akira tinha cerca de 68 páginas por volume publicadas em formato americano. “A série AKIRA sempre foi tratada como uma série de luxo e, por este motivo, desde o início, o projeto foi concebido para ter um acabamento gráfico diferenciado. Em vez do couchê, que era um papel muito caro naquele período, optamos por um papel chamado LWC. Seminobre, mas melhor do que o papel adotado nas revistas em quadrinhos comuns”, afirma Leandro del Manto, editor do mangá pela Globo. As edições (assim como as da Epic) eram coloridas por Steve Oliff, escolhido pelo editor Archie Goodwin para a tarefa, já que publicar a obra em preto e branco como no original era um risco grande. Até a tradução seguiu esse padrão, já que as edições da Globo foram traduzidas do inglês e continham muitos palavrões e linguagem coloquial. A diferença de linguajar foi escolhida graças à ser um título destinado ao público adulto.

Mas, um detalhe foi diferente: As capas. Estas foram feitas no Brasil. As capas da edição Epic foram consideradas pouco atraentes pela Globo e no começo gostariam de ter publicado como a versão de luxo japonesa, porém na época estas não se adequavam por conter imagens que seriam censuradas. Com isso, a solução proposta foi de fazer suas próprias capas. O logo na vertical foi uma referência à forma japonesa de leitura, apesar de, como nos EUA formato adotado ser o sentido ocidental. O design foi inspirado pela edição espanhola de Akira.

Exemplo de capa da versão espanhola (reprodução: todocolleccion.net)

O responsável foi José Moreno Capucci e do diretor de arte Helcio Pinna de Deus. O Capista era Kim Oluf Jorgensen. Nesta época, ele lembra que “Recebia uma montagem em xerox e uma indicação de colemetria em tamanho 1 por 1, tamanho da capa final. No caso da primeira capa me chamaram para fazer apenas esta, por problemas com a chegada dos fotolitos dos Estados unidos. Portanto, fiz a primeira capa nesta proporção. O desenho eu passava para papel Scheller poroso, usando mesa de luz e uma lapiseira com grafite duro sem marcar o papel. Montava a folha numa placa de madeira com fita crepe, para evitar que o papel enrugasse ao pintar. Poderia ter usado papel premontado da scheller, mas precisava de algumas das características mais frágeis da folha. Preparava uma base com tintas acrílicas, dos tons mais claros da ilustração, para revelar o brilho com pincel e água, lavando a camada de guache e tirado excesso de água com um rolo de papel toalha. Resultava num resultado mais poroso”.

O trabalho feito na confecção das capas foi bem mais minucioso: “Brilhos menores recebiam um tratamento com lápis de borracha; A pintura geral era feita com aerografia tradicional, máscaras de Friskfilm; As tintas eram guache, acrília, ecoline e aquarella para filetar os traços. Achava que aquarella me dava uma resistência que combinava mais comigo. Depois que ficou determinado que faria as demais capas passei a fazer as ilustrações maiores. A minha capa favorita deveria ser a primeira, por ser aquela que abriu portas para mim por toda a minha carreira, mas como fiz no tamanho 1 por 1, passei a gostar mais de outras. Olhando para trás… realmente gosto das capas e eu estou entre a número 10 e/ou 21″ acrescenta o capista, que acabou ficando até a edição 25.  Capucci continuou sozinho com o design das capas até a edição 33 com eventual ajuda de outros profissionais.
Akira 10 e 21: As capas favoritas de Kim Jorgensen

Akira teve uma venda constante nas bancas brasileiras. Cerca de 7.000 exemplares eram vendidos todos os meses e era um valor satisfatório para a época levando em consideração o tratamento escolhido e preço mais caro. A publicação ocorreu mensalmente sem muitos obstáculos. Em novembro de 1992 as distribuidoras de materiais às bancas entraram em greve e várias cidades ficaram sem receber o volume 23, mas fora isso, tudo ia bem. A situação mudou na edição 33, lançada em setembro de 1993 quando após essa, assim como na trama original, Akira desapareceu em um longo período de hibernação.

Em meio às ruínas

Outubro de 1993. Quem foi às bancas atrás da edição 34 de Akira, não a encontrou. Era uma época diferente, não havia como ter tanta informação. Vários leitores brasileiros não sabiam que, há mais de um ano da data descrita, quem ficou sem entender o que estava acontecendo eram os leitores dos Estados Unidos mesmo com a série já ter se encerrado no Japão em junho de 1990.

A paralisação foi global. O pai de Akira deixou de supervisionar sua obra para trabalhar em outros projetos. Nesse período, Otomo dirigiu os filmes World Apartment Horror (1991), Memories (1995) e Steamboy, esse último que só estrearia nos cinemas em 2004. Otomo fez poucas HQ nessa época, sendo a mais famosa uma curta para a coletânea Batman Preto e Branco.

Batman por Katsuhiro Otomo. Tradução/adaptação feita por Mary Jo Duffy, mesma pessoa que realizou este trabalho em Akira (Reprodução: pinterest.com)

Uma particularidade do mercado editorial japonês é a rigorosa supervisão que fazem em todas as versões de seus mangás ao redor do mundo. Quase todas as editoras japonesas exigem receber inclusive uma cópia física de cada volume independente de onde é publicado até os dias atuais. Até a Marvel sofreu com isso: A tradução da obra era feita no Japão por funcionárias da Kodansha, que enviavam o texto aos EUA para a editora Mary Jo Duffy adaptá-lo para os padrões norte-americanos. Feito isso, o texto era introduzido nas provas de impressão já com os balões pré estabelecidos pela Kodansha e Otomo e enviados novamente ao Japão. Depois, passava por mais um processo de aprovação para só assim ir para a fase de colorização digital realizada por Oliff em seu estúdio Olyoptics. Somado a isso, vinha o perfeccionismo de Otomo em querer redesenhar algumas páginas do mangá para esta nova versão. Todo o processo de idas e vindas era feito por serviço postal e até hoje vários mangás são produzidos assim para sua versão em outras partes do mundo.

Sem esse serviço, Akira entrou em hiato. Apesar do contrato em vigor, a Globo ficou impossibilitada de continuar. Segundo Del Manto, “O contrato foi feito uma vez com a Kondansha e a interrupção ocorreu por causa da falta de material disponível para a reprodução. Quando esse problema foi resolvido, a Kodansha propôs uma extensão do contrato para o término da publicação. Houve o risco da série não ser mais publicada porque não existia uma definição de quando haveria mais material para licenciamento.” Ainda de acordo com o editor, um fato que por muitos anos foi tratado como lenda urbana é verdade: Uma reclamação no Procon foi feita por um leitor exigindo o prosseguimento da publicação. Mas, como explicado, esse não foi o motivo da Globo ter retomado Akira de onde parou.

Akira está de Volta!

Desfeito o imbróglio, Akira voltou aos EUA em outubro de 1995. No Brasil, a edição 34 só chegou em dezembro de 1997. A editora publicou na segunda página da edição brasileira um comunicado explicando o que havia acontecido:

Mesmo com o plano real já em vigor, o valor de capa ainda era alto para a época: R$7,00. Corrigido pela inflação, era aproximadamente R$32,00. Esse é apontado como um dos fatores para as edições de 34 em diante serem as mais raras da coleção brasileira, sendo vendidas por valores que, ainda em 2017, chegam a R$100,00 por exemplar. Del Manto, que voltou a editar Akira em seu retorno às bancas brasileiras, ainda diz que “Por causa das crises econômicas que assolaram o país durante o tempo em que a série ficou interrompida, as tiragens e as vendas dos quadrinhos tiveram de ser adequadas ao novo momento do mercado de revistas. As tiragens de todas as revistas diminuíram. Por causa disso, os preços de capa ficavam mais elevados. Quando menor a tiragem de uma revista, maior é o preço de capa.”

Akira teve sua derradeira edição publicada em março de 1998 no Brasil, totalizando 38 exemplares. Como nos EUA, esta teve alguns extras com histórias curtas e pin-ups de vários artistas homenageando o mangá; Dentre eles, Michael Allred, Joe Madureira, Warren Ellis, John Romita sr., Kevin o’Neill e Moebius:

A única baixa foi a não publicação do último encadernado. Akira no Brasil e em outros países tinha seus capítulos reunidos em edições mais grossas, cada uma com cerca de 7 a 8 edições mensais. Com o hiato, o último encadernado nunca foi lançado no Brasil. Nos EUA, a mesma coisa aconteceu com a versão encadernada por lá. “As edições encadernadas eram feitas reaproveitando o encalhe das revistas. Para a distribuição de bancas naquela época eram impressas muitas revistas já se prevendo uma perda com o encalhe. Como a história de AKIRA era contínua, podíamos reunir volumes na sequência. Após a interrupção da publicação e a diminuição da tiragem, sobraram pouquíssimos exemplares de encalhe. Por causa disso, houve bem menos exemplares para se fazer uma edição encadernada. Assim, não conseguiram uma quantidade suficiente para se fazer um volume. Também por causa disso, há bem menos exemplares disponíveis no mercado paralelo de atrasados.”, completa o editor.

Por quase 20 anos Akira não foi mais publicado no Brasil, apesar de reedições em outros países, inclusive com a versão em cores. Apenas em 2015 a editora JBC garantiu os direitos de uma nova publicação por aqui. O lançamento era previsto para dezembro de 2015 durante a segunda edição da Comic Con Experience, mas só aconteceu em julho de 2017 devido à uma exigência da editora Kodansha de que a nova versão brasileira seguiria os padrões de uma edição que estava ainda em preparação. O Brasil foi o segundo país do exterior a publicar essa nova versão, ficando apenas atras da França. O “Novo Akira” tem previsão de ter, ao todo, 6 volumes como o original japonês, publicado em preto e branco com volumes que variam de 350 a 500 páginas cada e ordem de leitura original. Apenas o primeiro volume foi publicado até agora, o segundo era previsto para dezembro de 2017, mas ainda não foi lançado.

Agradecimentos mais que especiais à Leandro Del Manto e Kim Jorgensen pelos depoimentos prestados que, sem estes, não teria como concluir este trabalho.

E ainda não acabou. Um detalhe muito importante do “nosso Akira” ainda necessita de melhores respostas. Em breve aqui no Torre de Vigilância algo muito especial será publicado. Aguardem!