Categorias
Anime Pagode Japonês

Análise | Gangsta. #7 a #12

Lembra daquele dia em 2001? No comecinho de setembro? Você, criança alegre, que se preparava para ir para o colégio, estava sentado no sofá, com uma bisnaguinha numa mão e um Toddynho na outra, super ansioso para o desfecho da luta de Goku contra Majin Bu e Babidi. Depois de uma semana inteira de gritos, ele finalmente se transformaria pela primeira vez, em Super Sayajin 3. Quando, do nada, o programa é interrompido para comentar sobre alguma coisa de aviões batendo em torres. Foi mais ou menos assim que o anime de Gangsta. terminou sua exibição nas televisões japonesas. Mas já voltamos para comentar sobre isso.

A segunda metade da série continuou nos moldes da primeira. Em cada episódio, uma pequena parte daquele caótico e complexo mundo nos era explicado. Doze ou treze movimentos eram feitos por baixo dos panos (e isso não foi uma piada com prostituição, juro!) mas apenas um ou dois nos eram revelados. Uma característica que o autor Kohske colocou na obra, e a levou de forma esplêndida por todo o caminho, é a de nunca dar informações além do necessário. Ele quer ter o controle total da situação, e por isso sempre precisa ter algo na manga para nos fisgar quando for preciso.

O passado dos Handymen já nos fica mais claro depois de certos episódios. Embora ele ainda esteja com clima de aula de matemática – com mais dúvidas do que respostas – nos foi mostrado exatamente o suficiente para que, ambos os pequenos Nicolas e Wallace caíssem na nossa zona de “ain, tadinho deles!” (Curiosidade literária babaca, um recurso muito semelhante é usado por Jorge Amado, aclamado escritor baiano, no livro “Capitães da Areia”). Nenhuma história consegue seguir se o público não tiver uma conexão com os protagonistas. Mostrar apenas o que era necessário para criar um afeto para com os personagens foi uma jogada de efeitos positivos tanto em curto quanto longo prazo. Agora, ela serve para que tal conexão citada acima exista, e nos faça “torcer pelos mocinhos”. No futuro, poderá vir a servir como uma forma de quebra de paradigma, ao mostrar o outro lado que ele não quis que nós víssemos agora.

Intimamente ligado às vivências de nossos heróis, está a história da própria cidade. Cidade esta que recebe sutilmente, personificação na forma dos próprios moradores. Ela funciona como um organismo vivo, e as pessoas que vivem nela são partes desse sistema complexo. Todos os acontecimentos ali retratados se interligam de forma extremamente orgânica. Um naturalismo (da escola literária) leve no ambiente, que já era mais visível nos Twilights: os seu instinto animalescos, as vezes, sobrepujam o pensamento racional (Como por exemplo, Nic usar doses extremas de Uppers para poder enfrentar seus oponentes; ou Doug aceitar trabalhos que obviamente não deveria, apenas pelo desejo de lutar).

Mas voltando ao assunto citado ironicamente no primeiro parágrafo. Caso não tenha ficado claro: o anime terminou no meio de um arco. Próximo do clímax do desenvolvimento – ou, pelo menos, num ponto alto dele – o show simplesmente acabou. O por quê disso? Um motivo simples: não tinha muito mais o que animar. O mangá, que é lançado mensalmente no Japão (isso quando o autor não está doente demais para escrever), possui apenas seis volumes. Os doze episódios da animação foram suficientes para adaptar quase todo o material original. Só para dar uma ideia, o arco onde o anime termina (do grupo de Hunters com nome feito pelo Google Translate) ainda está acontecendo no mangá.

Talvez a discussão correta a ser levantada é se foi um bom momento para realizar a adaptação. Tivemos esse final meio vascaíno por não haver mais nada pra colocar depois. Mas o ritmo que o anime teve foi razoável o bastante para eu poder dizer que está bom. Talvez se tivéssemos esse arco já concluído, o show tivesse que dar sebo nas canelas pra conseguir terminá-lo de forma digna. É um problema enfrentado por muitas adaptações (e as vezes até obras originais), devido à natureza da programação televisiva japonesa: Suas séries precisam ter, necessariamente, um número múltiplo de 12 (com margem de erro de um para mais ou para menos) episódios para ir ao ar. O seu ritmo precisa acompanhar essa estimativa. Se o diretor decidir ir muito rápido, pode acabar o material original antes do prazo (além de ouvir reclamações no Reddit e 4chan de que o anime está rushado); se ele ir muito devagar, a experiência se tornaria massante e não avançaria a história. Being Director is suffering.

Caso o anime tenha te deixado frustrado, uma notícia talvez boa, talvez ruim, é que, graças ao enorme amadorismo da indústria brasileira, o mangá de Gangsta. será publicado em terras tupiniquins. A JBC comprou os direitos da obra e a veiculará em formato bimestral, a R$ 13,90 cada. Por outro lado… a frustração fica ainda maior quando se leva em conta que o estúdio Manglobe, que animou a série – e nos deixou o que será, possivelmente, o maior cliffhanger da história dos desenhos chineses – declarou falência poucas semanas depois do fim do show. Embora mudanças de estúdio aconteçam entre temporadas de um mesmo anime, elas são raras (porque ninguém gosta de mexer nas fezes alheias), o que diminui drasticamente as chances de uma continuação acontecer, mesmo se as vendas de Blurays forem boas (o que eu garanto: não serão).

Final horrendo ou não, isso não afeta o que foi construído ao longo de treze semanas (pois tivemos um episódio recap entre o nono e o décimo, chamado de 9.5). O show como um todo foi excepcional para quem gosta do gênero; pra quem não é muito chegado em animes mas gosta de filmes políciais hollywoodianos; ou simplesmente pra quem finge ser superior por só assistir seinens 2edgy4me. Pelo menos, aprendemos hoje que nunca se deve encerrar nada pela metad

Por Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.