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A Vertigo NÃO morreu: conheça as melhores séries modernas do selo

Escrito por Gabriel Faria

Em dezembro de 2012, a grande Karen Berger anunciou que estaria deixando, em março de 2013, seu cargo na Vertigo, selo da DC Comics criado por ela mesma em 1993 com o objetivo de contar histórias em quadrinhos mais adultas, para um público diferenciado que talvez buscasse algo mais maduro que os super-heróis. Hoje, a Image Comics é a principal alternativa dos fãs e autores quando o assunto é criar quadrinhos autorais nos EUA, tendo roubado o posto dominante da Vertigo.

Para muitos, a saída de Berger do cargo de editora-chefe marcou o início do fim do selo. Berger foi a responsável pelo desenvolvimento dos títulos mais clássicos, trabalhando com autores como Peter Milligan, Grant Morrison, Neil Gaiman e Alan Moore para a DC, revitalizando personagens e criando novas séries, como Sandman, Hellblazer, Monstro do PântanoHomem-Animal, Patrulha do DestinoShade O Homem Mutável e Orquídea Negra. Inicialmente o selo Vertigo ainda não existia, e a primeira série publicada sob ele foi Morte, de Neil Gaiman e Chris Bachalo.

A primeira leva de títulos da Vertigo trouxe mais séries fantásticas: Enigma, Kid Eternidade, Sandman: Teatro do Mistério, Sebastian O, Livros da Magia e outras. No final dos anos 90/começo dos anos 2000, séries foram canceladas e mais novidades aclamadas pela crítica surgiram: 100 Balas, Y: O Último Homem, Lúcifer, Os Invisíveis, Preacher, ZDM, Transmetropolitan e Fábulas são as principais. Muitas destas séries duraram até os “anos 2010”, quando outras novidades aclamadas já haviam surgido, como Sweet Tooth, iZombie, Joe O Bárbaro e Vampiro Americano.

É claro que durante esse longo período de 20 anos sob a tutela de Karen Berger, a Vertigo também publicou alguns fracassos e séries de qualidade questionáveis, mas no geral o saldo sempre foi positivo. A partir de 2012, com a reformulação da DC Entertainment, decisões polêmicas foram tomadas: John Constantine e Monstro do Pântano passaram a integrar o universo regular da DC, algumas séries foram canceladas e parecia haver uma escassez de novas ideias, especialmente por conta das brigas da editora com alguns dos autores.

A saída de Berger do posto de editora-chefe, passando o bastão para Shelly Bond, preocupou muitas pessoas com os rumos que a Warner Bros. estaria dando para a Vertigo. Atualmente, Mark Doyle é o editor-chefe. Acima de tudo, obviamente, é importante lembrar que SIM, existem séries de boa qualidade sendo publicadas pela Vertigo nos últimos anos, sejam elas curtas ou longas. O nível pode não ser o mesmo dos tempos áureos, mas existem boas ideias e algumas delas até chegaram ao Brasil recentemente, lançadas pela editora Panini.

Confira abaixo uma pequena lista contendo indicações de quadrinhos (séries e minisséries) da Vertigo produzidos apenas a partir de 2013:

Trillium

O aclamado autor Jeff Lemire (DescenderO Soldador Subaquático, Arqueiro Verde, Condado de Essex, Sweet Tooth) produziu para a Vertigo, entre 2013 e 2014, sua minissérie em oito partes chamada Trillium. Com cores de José Villarrubia, Trillium conta a história de um caso de amor inter-dimensional com viagem no tempo, entre um casal de períodos diferentes: William Pike, um veterano da Primeira Guerra Mundial perdido nos templos Incas do Peru em 1921, e Nika Temsmith, uma botânica do ano 3797. Separados por milhares de anos, a história de amor destes dois personagens ameaça o continuum espaço-tempo. Lemire possui longa carreira na DC Comics, e Trillium foi sua terceira série para a Vertigo, recebendo muitos elogios.

O Xerife da Babilônia

Não é de hoje que Tom King é altamente elogiado por fãs e críticos ao redor do mundo. Suas séries (Batman, Visão, Omega Men, Grayson) possuem roteiros acima da média se comparados a qualquer série continuada, cheias de novas ideias, e O Xerife da Babilônia é talvez sua melhor publicação até hoje. A história se passa em Bagdá, em 2003, e o reinado de Saddam Hussein acabou. Os americanos estão no comando e ninguém está no controle. O ex-policial e agora prestador de serviço contratado pelos militares Christopher Henry sabe disso melhor do que ninguém e está no país para treinar a nova força policial iraquiana. Um de seus recrutas é assassinado, e com a autoridade civil em frangalhos e corpos entulhando as ruas, Chris é a única pessoa realmente interessada em descobrir o culpado pelo crime – e a motivação por trás do ato. A série durou doze edições, indo de dezembro de 2015 a novembro de 2016, e a arte é de Mitch Gerads. Possivelmente, este é o título que pode ser chamado de novo clássico da Vertigo.

A Realeza: Mestres da Guerra

De Rob Williams, Simon Coleby e J. D. Mettler, A Realeza: Mestres da Guerra chegou recentemente ao Brasil mas foi publicada nos EUA em 2014, contendo seis edições. A história é simples mas eficiente: por muitos séculos, famílias reais governaram o mundo. O direito divino deles de comandarem o povo manifestou-se não por meio de coroas e tronos, mas também na forma de fantásticos e mortíferos superpoderes contra os quais exército algum seria capaz de fazer frente. Enfrentando algumas revoluções, as pessoas de sangue real juraram não usar seus poderes em batalha novamente, até estourar a Segunda Guerra Mundial e os votos de isenção serem testados até os limites. A Realeza é competente em mostrar dever e responsabilidade entrando em conflito, e entrega uma história fechada divertida e envolvente, com ótimas ilustrações.

DPF: Departamento de Polícia da Física

A física se deturpou. Falhas na gravidade, arcos entrópicos e buracos de minhoca ambulantes viraram regra. E isso nem é mais notícia. Agora, o cara mais desnorteado do Departamento de Polícia da Física (que trabalha reparando estas falhas), o Agente Adam Hardy, está prestes a lembrar – do modo difícil – o que o levou a entrar no departamento. Criada por Simon Oliver, Robbi Rodriguez e Rico Renzi, a série DPF (lá fora, FBP) teve início em julho de 2013 e soma muitos elementos científicos com arte fascinante e desenvolvimento ótimo, tendo se destacado com boa qualidade ao longo de exatas vinte e quatro edições, criada logo após a saída de Karen Berger do cargo de editora-chefe da Vertigo. No Brasil a série foi compilada em quatro encadernados pela editora Panini, lançados entre 2016 e 2017.

Art Ops: Agentes da Arte

Prevista para ser lançada no Brasil em breve, a série Art Ops: Agentes da Arte teve início nos EUA em 2015, com roteiros de Shaun Simon e arte do famoso Mike Allred (que para a Vertigo também criou iZombie). A trama é uma loucura, mas também é muito simples: obras de arte criam vida e saem de seus quadros, e cabe a Reggie Riot e aos agentes da Art Operatives o papel de rastreá-las antes que criem caos ao redor do mundo. Entretanto, alguns mistérios sobre o passado de Reggie podem influenciar sua habilidade de interagir com essas obras de arte…

Jacked

A minissérie em seis edições, Jacked, que foi publicada entre 2015 e 2016, funciona como uma visão moderna sobre o gênero dos super-heróis. Criada por Eric Kripke (o criador de Supernatural), em parceria com John Higgins (Hellblazer) e Glenn Fabry (Preacher), a história narra a saga de Josh Jaffe – um homem de família neurótico passando por crise de meia-idade -, que compra uma “pílula de inteligência” para aumentar seu foco e ajudá-lo a sair dessa fossa. Mas para a surpresa de Josh, a pílula lhe concede força e poderes, sendo em contraparte extremamente viciante. Brutal e realística, Jacked é uma visão bem moderna sobre os heróis, e sendo limitada e direto ao ponto, destacou-se como uma das séries mais elogiadas da Vertigo moderna.

Clean Room

De Gail Simone e Jon Davis-Hunt, Clean Room conta uma história cheia de elementos fantásticos, de assassinatos a monstros demoníacos, que circundam a misteriosa guru de uma gigantesca empresa, Astrid Mueller. Figura poderosa na indústria, da psicologia à religião, todos os mistérios que envolvem os planos de Mueller são explorados ao longo das dezoito edições da série, que encerram a Fase Um deste título. O passado de Astrid é revelado aos poucos, e as misteriosas Entidades malévolas possuem grandes planos para o mundo. Clean Room começou a ser publicada em 2015, e o final da série foi lançado em abril de 2017, totalizando três encadernados e permanecendo inédita no Brasil.

A Vertigo também começou sua expansão para a TV nos últimos anos, com as estreias de iZombie, Lucifer e Preacher, e a pré-produção de outros sucessos da editora, como Escalpo e Unfollow. Os quadrinhos seguem sendo lançados normalmente, com títulos como Astro City, Imaginary Friends, American Way e Savage Things, e a DC criou outro selo diferenciado, o Young Animal, com foco para um novo público com faixa etária variada.

É claro que a Era de Ouro da Vertigo já ficou no passado, porém algumas histórias merecem ser conferidas, especialmente as que entregam materiais de maior qualidade que muitos gibis lançados regularmente nos EUA. E obviamente todos ficam na torcida para que a aclamada Vertigo um dia retorne com maestria ao posto que já assumiu, superando com folga toda a concorrência.

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.