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A leitura psicodélica, colorida e musical de Beatles – Yellow Submarine

Escrito por Ricardo Ramos

“If you’re listening to this song, you may think the cords are going wrong. But they’re not. We just wrote it like that”

Tudo que os Beatles fizeram, acabou se tornando parte da história musical do mundo. Seja o que eles se interessaram em fazer, seja o que eles não estavam muito interessados em fazer. Nessa segunda opção temos, por incrível que pareça, Yellow Submarine. Concebido como décimo primeiro disco de estúdio da banda, ele foi gravado entre 1967 e 1968 no lendário Estúdio Abbey Road, sendo lançado em 1969. O projeto foi comercializado como banda sonora para o filme de animação do mesmo nome (que chegou aos cinemas em 1968).

Cartaz original do longa animado.

Os Beatles consideraram Yellow Submarine como uma obrigação contratual, o álbum em si possui 13 músicas no total, sendo seis compostas pela banda, incluindo a faixa-título e All You Need Is Love. O restante do álbum são regravações da banda sonora orquestral do filme pelo produtor George Martin. Já o longa animado foi recebido com muito agrado pela crítica. Mesmo com a banda não dando muita importância, eles não dublam seus próprios personagens por exemplo, o filme foi um sucesso de bilheteria justamente por ser uma das bandas mais populares do momento e por ser lançado no meio da cultura pop psicodélica da década de 1960.

E essa psicodelia toda está na graphic novel.

No aniversário de 50 anos de Yellow Submarine, a Titan Comics recrutou Bill Morrison, que tem em seu currículo Mad Magazine e Os Simpsons, para roteirizar e desenhar a adaptação. Morrison seguiu o estilo inigualável do filme e acertou na nota. Falar que a Graphic Novel é um prato cheio para os fãs é chover no molhado. Mas me impressiona como ela é gostosa de ler para quem não é ouvinte da banda. E esse texto, estimado leitor que não gosta de Beatles, é muito para você. Uma pequena curiosidade é que em 1968, também já tinha sido lançada uma adaptação em quadrinhos de Yellow Submarine.

 

“We all live in a yellow submarine… Yellow submarine, yellow submarine”

A trama começa com uma invasão na idílica Pepperland pelos Malvados Azuis, que odeiam música e tudo que o local representa. O recém-nomeado Almirante Fred embarca no Submarino Amarelo atrás de ajuda, recrutando Ringo, John, George e Paul, que voltam com ele para livrar aquela terra do domínio dos autoritários Azuis.

A primeira coisa que tem que se ter em mente para quem não é familiarizado ou simplesmente não curte os Beatles é: Não se prenda à razão. Yellow Submarine não foi feita para pensar muito. Ela é o retrato de uma viagem de ácido em uma kombi cruzando os EUA. Ela não tem momentos surreais. Ela é totalmente surreal. Como algo que só veríamos em histórias do Grant Morrison muito chapado com um baita colorista. A trama tem um norte, ela sabe para onde vai e sabe conduzir o leitor. Mas os devaneios no meio dela são de você se pegar pensando: “mas o que é isso que estou lendo?”

Bill Morrison usou e abusou de cores, nos tamanhos de personagens e nas páginas duplas. Diagramações e quadros exagerados ajudam a compor o estilo psicodélico que a trama exige e urra, às vezes você se pega em uma página dupla lendo uma sequência de diálogos tão ágil que misturada com a colorização te deixa atordoado. Isso sem contar os detalhes em cenários, roupas e personagens. Tudo tão intenso e forte. Mas o grande barato é a satisfação de se ler Yellow Submarine. Pois é uma leitura sem compromisso. Para quem vem de quadrinhos tensos, sejam de heróis ou de outro gênero, que te deixa vibrado ou sonolento no gibi, essa Graphic Novel é um alívio mental e te faz sair da caixinha total.

“All you need is love… All you need is love, love… Love is all you need”

Mas, assustadoramente, Yellow Submarine pode ser um tema atual. Onde vemos os Malvados Azuis que quer dominar a todos de sua maneira, usando de sua ignorância e afogando a cultura musical que dá alegria e vida ao povo de Pepperland. É fácil enxergar o genocídio da felicidade cometido pelos Azuis em alguns governantes atuais… mas, sinceramente… esse não é o papel dessa Graphic Novel. Ela só tem uma missão: te fazer desligar do mundo e curtir somente o barato e bom da vida. Nem que seja somente durante as suas 128 páginas.

Como de praxe, a edição da Darkside Books ficou formidável. Uma graphic novel bem bonita, com cores bem vibrantes que se destacam onde você estiver e que fazem bem aos olhos. Mais um excelente trabalho da editora.

Beatles – Yellow Submarine tem formato 29,4 x 19,4 cm, capa dura e contém extras como esboços originais.

 

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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