Detective Comics Quadrinhos

A grandiosa saga épica de Jason Aaron com Thor

Escrito por Vinicius Santos

Desde que Jason Aaron assumiu os quadrinhos do Thor em 2012, o título do herói , que já contempla cinco séries (Thor: Deus do Trovão, Thor vol.4, Thors, A Poderosa Thor e O Indigno Thor), vem sendo um dos quadrinhos mais elogiados da Marvel, pela crítica e também pelos fãs. Os elogios são os mais variados e envolvem uma boa construção de personagens, boa história, boa arte (graças a Esad Ribic e Russell Dauterman, principalmente) e também ao nível de construção de uma saga épica, que será o foco deste texto.

Thor do Jason Aaron é uma das melhores sagas épicas dos quadrinhos de super-heróis nos últimos anos. Dito isto, entenda o motivo para tal afirmação.

Começando com uma pequena definição. O que é um ÉPICO?

Basicamente, o gênero épico contempla quatro dimensões que fazem algo ser considerado épico.

1ª Dimensão – Heróica

A dimensão heróica contempla a saga do herói, as aventuras do personagem principal. Porém, só isso não define uma história como épica.

2ª Dimensão – Bélica

Na dimensão bélica estão as batalhas, as grandes guerras. Se não houver grandes batalhas, não é épico.

3ª Dimensão – Histórica

Aqui, a história de um povo é contada. Porém, assim como as outras dimensões, sozinha não pode ser considerada épica, afinal, seria um relato histórico.

4ª Dimensão – Mítica

Por fim, temos a dimensão mítica, que é onde os Deuses mitológicos entram em cena. Não, necessariamente, são figuras mitológicas já existentes, afinal, existem escritores que criaram e criam seu próprio panteão de Deuses e criaturas míticas. Um bom exemplo é o universo da Terra Média criado por J.R.R. Tolkien, pois alguns dos seres míticos de Tolkien foram inspirados em figuras da Mitologia Nórdica, mas ainda sim são diferentes e criações de seu próprio mundo.

Em síntese, algo só se enquadra no gênero épico quando contempla essas quatro dimensões, sem uma delas é qualquer outra coisa, menos épico.

Exemplos clássicos de sagas épicas são a “Odisséia” de Homero e “Os Lusíadas” de Camões. Mas, um exemplo bastante popular é a saga do Naruto.

Fazendo uma analise bem simplista, Naruto é uma saga HEROICA do personagem com o mesmo nome da obra, com elementos BÉLICOS envolvendo grandes guerras ninjas e também a HISTÓRIA de um povo, no caso, os ninjas, cuja origem envolve a presença de figuras da MITOLOGIA japonesa.

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Naruto

Há ainda duas características importantes do gênero épico:

1ª Característica

O título da saga épica leva nome do herói. Em “Odisséia”, Ulysses é o herói e Odisseu é outro nome para Ulysses. Em “Os Lusíadas”, os Lusos, que são os portugueses, são os heróis da obra. Já em Naruto, é bem óbvio, Naruto é o herói.

2ª Característica

A narrativa do gênero épico começa do meio. Isso se chama In medias res (“no meio das coisas“). A história não começa no início, mas sim no meio da trama, em um momento crucial e, posteriormente, utiliza-se flashbacks, entre outros recursos narrativos, para narrar sobre o que veio antes. Esse recurso é utilizado para prender a atenção do leitor, criar curiosidade e suprimir o impacto de acontecimentos impactantes  que possam ser desagradáveis.

[É importante frisar que essas duas características não são exclusivas de épicos.]

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Asgard

Depois de toda essa contextualização sobre o gênero épico fica mais fácil entender o porquê de eu afirmar que Thor do Jason Aaron é uma das melhores sagas épicas em histórias de quadrinhos de super-heróis dos últimos anos. O motivo é simples: A fase de Aaron com Thor contempla todas as dimensões do épico de uma forma bem construída e bem pensada para prender o leitor até o final com questões intrigantes, ótimas caracterizações e ótimas batalhas.

dimensão mítica de Thor está escancarada, pois o protagonista além de ser o herói principal, também é uma figura da mitologia nórdica.

Existe uma forte presença do mítico envolvendo diversos Deuses em Carniceiro dos Deuses, que é o primeiro arco do Thor de Jason Aaron, que acontece  entre as edições 1-5 do título Thor: Deus do Trovão. É onde se estabelece tudo o que vem a seguir na mitologia do Deus do Trovão.  O vilão Gorr, assassino de Deuses, é apresentado nessa história e uma questão importante é plantada no imaginário dos leitores e no próprio Thor. E a questão é:

Os Deuses realmente são dignos das posições que ocupam perante seus adoradores?  

Essa questão é levantada por Gorr e é o alicerce de tudo o que vem a seguir até as histórias atuais, em que Thor é o nome carregado por uma mulher, a Dra. Jane Foster.

Por trás de uma questão filosófica, a dimensão bélica é desenvolvida com batalhas épicas envolvendo deuseselfos,  gigantes, trolls, alienígenas, corporações malignas e a sombra de uma grande Guerra dos Reinos, e tudo isso com belos desenhos de encher os olhos.

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Thor vs Malekith

A dimensão heróica que o escritor explora é a de Thor, mas não de um único Thor, e sim de diversas versões, incluindo um jovem Thor, ainda imaturo, um rei Thor, que já está mais cansado e amargo, e uma mulher Thor, que na verdade é uma humana que foi considerada digna do poder de Thor por seu altruísmo. A partir disso, o escritor traz outra questão para os leitores: O que é ser Thor?

E toda uma série de acontecimentos se desenvolve em cima dessa questão.

thors

Thors

Na dimensão histórica,  em um primeiro momento, temos as histórias dos asgardianos, mas que está conectada com o povo de Midgard. Há um desenvolvimento de dois povos; os deuses e os humanos, e o grande elo entre eles é Thor, tanto Odinson quanto Jane Foster. E,  não é por mera coincidência que, atualmente, Thor seja uma mulher humana com câncer. Além de abordar uma questão bastante atual sobre uma mulher assumir uma posição que até então era de um homem e trazer uma luta bastante mundana, que é a luta contra o câncer, um outro desenvolvimento é focado em mostrar a diferença entre uma humana que se tornou digna do poder de um Deus e um Deus que já nasceu Deus. E é algo que fica bem contrastante dentro da trama

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Jane Foster

Para amenizar o impacto dos leitores em relação a alguns acontecimentos marcantes, como descobrir o porquê de vários deuses serem assassinados, o que tornou o Thor indigno de seu martelo, ou o surgimento de uma nova Thor, Jason Aaron recorre a estratégia narrativa do In medias res. Ou seja, os arcos sempre começam do meio de uma história, e isso e cria uma atmosfera de curiosidade que prende o leitor até o fim. Nesse espaço entre o começo e meio da história é onde os artifícios de caracterização se mostram importantes.

A  ideia de existir uma Thor mulher pode soar estranha e causar controvérsia em um primeiro momento. Alias, essa ideia foi extremamente repudiada quando foi anunciada. Mas, hoje, a Thor é uma das personagens mais queridas nos quadrinhos da Marvel. Nessa hora é que Aaron dá uma prova definitiva de que sabe utilizar o recurso do In media Res com maestria. Antes que o escritor revele quem é a nova Thor e o motivo de Jane Foster exercer esse papel, ele vai preparando o terreno com boas estratégias de apelo, como o fato da Thor ser uma mulher que luta contra o câncer e também luta pra salvar o mundo e, ao se transformar na Poderosa Thor, ela se desfaz de um pouco de sua vida. É uma atitude altruísta e que também é característica marcante de grandes heróis que não pensariam duas vezes em se sacrificar por seu povo, como Superman e Capitão América, o que faz com que o leitor simpatize facilmente com a heroína.

Ainda há outras questões que são pontuadas positivamente sobre a fase de Jason Aaron em Thor, mas por hora, já basta essa análise em relação à grandiosidade ÉPICA.

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Sobre o Autor

Vinicius Santos

Fã de muitas coisas, quadrinhos principalmente.