Quadrinhos

19.999 Léguas Submarinas explora o desconhecido até para os quadrinhos Disney

Escrito por Marcus Santana

Não era surpresa que um dia uma nova versão de 20.000 Léguas Submarinas ganharia vida nas mãos da Disney. Já no prefácio temos uma confissão do roteirista Francesco Artibani demonstrando o forte elo entre Julio Verne e o maior conglomerado de entretenimento já visto na face da terra. Assim como as ideias do mestre da ficção científica, os planos Disney para suas obras foram muito além do que se imaginava pela compreensão humana, passando por filmes, atrações de parque, animações, e, claro, quadrinhos.

Nesse último quesito, a lista abrange vários outros criadores e de muitos nichos: de acordo com o site Guiadosquadrinhos.com, a Magnum Opus verniana foi abraçada por ao menos 11 quadrinhos diferentes publicados no Brasil, sendo quatro delas versões Disney. Dentre essas, uma já saiu em seis oportunidades diferentes no mercado nacional: A adaptação em quadrinhos 20.000 Léguas Submarinas que, como o próprio título idêntico ao livro sugere, trata-se da versão cinematográfica de 1954 transposta para o papel; ocupando o segundo lugar em republicações, temos O Mistério do Nautilus, publicada originalmente em Topolino nº1889 de fevereiro de 1992 com quatro aparições ao todo e completando o pódio vem 20.000 Ligas Submarinas, datada de abril de 1975 em Topolino nº1011. Mesmo pertencentes a épocas e estúdios diferentes, o que resultou em várias reedições no mercado brasileiro, as três versões foram reunidas em um único volume de nossa biblioteca: Clássicos da Literatura Disney nº12, em agosto de 2010.

Dentre tantas opções, qual seria então o diferencial dessa que, dentre todas, é a única lançada pela Panini? A resposta é mais simples do que parece: além de inédita, 19.999 Léguas Submarinas é fruto de mais uma colaboração entre Francesco Artibani e Lorenzo Pastrovicchio, dupla responsável por diversos capítulos d’O Superpato, além das histórias Aventura Sob Medida e A Ilha Misteriosa, também baseada em um livro de Julio Verne. Além disso, vale destacar que 19.999 Léguas é a única que pode ser considerada de fato uma paródia literária Disney, pois tanto O Mistério do Nautilus quanto 20.000 Ligas Submarinas, mesmo contanto com personagens Disney como protagonistas, não seguem a trama original e usam somente determinados elementos como referência ao trabalho mais famoso.

Imagem: Divulgação/Panini Brasil

Por seguir de modo mais fiel o enredo original, aqui Mickey assume o papel de Professor Ratonax (paródia de Annorax) que aceita a missão de, ao lado de Donald O’Quack, Ned Baf (originalmente Ned Land) e Capitão Farrablot solucionar caso de uma suposta criatura que aterroriza os sete mares. Após mais um dia de caça, os destemidos tripulantes do navio Alabama são tragados acidentalmente para o fundo do mar e após um inesperado resgate passam a residir justamente no veículo marítimo que outrora acreditavam ser um monstro marinho: o Nautilus, criação máxima da engenharia e de seu comandante, o Capitão Nemo. A versatilidade dos personagens Disney faz essa nova adaptação cair como uma luva em cada um dos personagens escolhidos para designar seus papeis. Apesar de apresentarem características diferentes do usual e mais próximas da trama literária usada como referência, a essência de Mickey, Donald, João Bafo-de-Onça, Mancha Negra e Pateta é preservada.

A respeito do último citado, a escolha do atrapalhado melhor amigo do Mickey pode ser considerada à primeira vista arriscada para assumir o papel do astuto Capitão Nemo, e de fato no início da leitura é de se estranhar seus recursos para aqui se desenvolver como protagonista, mas Artibani consegue, mesmo tomando como base um roteiro adaptado, desenvolver um novo Pateta diferente do visto na série pastelão Pateta Faz História e mais próximo da original Pateta Repórter, criado por Teresa Radice e Stefano Turconi.

Interessante também a invenção por parte dos autores de Mecanomarujos para substituírem os humanos que faziam parte da obra original. Mesmo que sendo assumidamente uma estratégia para economizar tempo nas ilustrações, as simples figuras dos imediatos do Capitão Nemo trazem um frescor gráfico à obra tantas vezes retratada em diversas mídias.

Imagem: Divulgação/Panini Brasil

Assim como todas as edições de Graphic Disney lançadas pela Panini, o volume de 19.999 Léguas Submarinas é complementado por extras como esboços, bloco de notas e entrevistas com os autores, assim tornando a edição idêntica à versão original italiana. Dentre os bate-papos, temos uma conversa com Stefano Zanchi, que trabalhou como designer do Nautilus de brinquedo distribuído aos leitores do já citado semanário Topolino, onde 19.999 Léguas foi publicado pela primeira vez no ano de 2020, data em que se completava 150 anos da primeira edição do romance. É uma pena que em nosso mercado esse tipo de brinde seja inviável, muito por conta da cada vez mais restrita tiragem e público de nossas HQs.

Com mais esse tomo, chegamos a uma grande quantidade de volumes da série Graphic Disney lançadas pela Panini desde 2018. Por volta de seis volumes ainda continuam inéditos, se desconsiderarmos a extensa série do Superpato, que tem até o momento nove partes lançadas dentro da mesma coleção. O que a Panini prepara para o heróico Alter Ego de Donald? Ainda não se sabe, mas é esperado que tal mistério seja solucionado em breve, tal qual Nemo e seus subordinados aqui desvendam as antes desconhecidas profundezas do oceano.

19.999 Léguas Submarinas
Francesco Artibani (roteiro)
Lorenzo Pastrovicchio (arte)
Marcelo Alencar (tradução)
Fati Gomes (revisão)
Panini Comics
Capa dura
72 páginas
20,5×31,5 cm
R$59,90
Data de publicação: 12/2021

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Sobre o Autor

Marcus Santana

O que seria de nós sem quadrinhos?

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