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Torre Entrevista: Jimmy London

Escrito por Ricardo Ramos

Jimmy London fez a fama cantando sobre bebedeiras, brigas e roubos de caminhões em durante quase mais de vinte anos em frente ao Matanza. O seu jeito único de cantar e sua presença de palco criou uma legião de fãs a cantar as histórias do bebum acabado. Com shows históricos e performances destruidoras a banda foi uma das mais importantes nas últimas décadas. Por isso que muitos lamentaram o fim da banda.

Mas nunca é o fim para Jimmy London.

Foto: Felipe Diniz

O vocalista se uniu a banda carioca Rats, que ele já tinha produzido o primeiro disco, e formou a interessante Jimmy & Rats, onde mistura Irish, Folk, um tanto de Country com o bom e velho punk rock. A banda recentemente lançou o excelente álbum Só Há Um Caminho a Seguir.

Em meio a tudo isso ele ainda se uniu com dream team do metal brasileiro como Felipe Andreoli (Angra) no baixo, Antonio Araújo (Korzus) na guitarra e Amilcar Christófaro (Torture Squad) na bateria e assim foi formado o Matanza Ritual, onde pretende reencontrar com o público da antiga banda e no horizonte tem um disco de inéditas.

E ainda Jimmy ainda é ator e apresentador! Participou de produções como a minissérie Dois Irmãos e na novela Deus Salve o Rei, ambas na TV Globo, participou do filme A Viagem de Pedro (2018) e da série Cidade Invisível da Netflix. A próxima produção será O Anjo de Hamburgo do diretor Jayme Monjardim na Globoplay. Na TV ele ainda apresentou o Pimp My Rider Brasil, na antiga MTV e atualmente está de frente ao Rock Estúdio no Canal Bis.

Aqui batemos um papo sobre tudo isso e mais um pouco. Segura aí!

1 – Uma vez você postou no seu Instagram que estava lendo Watchmen. Você curte quadrinhos e está lendo o que atualmente?

Eu me amarro muito em quadrinhos. Quando era moleque, deixava de comer no recreio pra poder comprar duas revistinhas na hora de voltar pra casa. Quando as revistas mudaram de formato, o preço ficou salgado e eu me afastei, mas continuo achando esse tipo de literatura um tesão. Algum dia eu volto a ler com frequência, com certeza. Hoje em dia a vida tá corrida pacas e os livros tem preferencia, mas também entendo que as duas artes dialogam demais. Quem já leu um livro do jack London, com certeza sabe do que tô falando…

2 – Recentemente o Jimmy & Rats lançou o seu primeiro álbum de estúdio. A banda já tinha feito alguns shows, gravados algumas músicas, mas esse é o primeiro trabalho… digamos… completo. Esse tempo todo que passou até culminar no disco, rolou um bom caminho. Esse caminho foi necessário para muitos aspectos? Como por exemplo “afinar” mais a banda em um só ideal?

Bom, eu já tenho uma historia longa com o Rats. Ajudei o Fernando com algumas composições, produzi o primeiro disco deles, então sempre me senti muito confortável com a banda. Mas realmente, na hora em que começamos a trabalhar juntos foi necessário um ajuste de expectativas e no modo de fazer as coisas.

Eu tenho um jeito muito “guerrilha” de fazer as coisas, que se adaptava muito bem a realidade do Matanza, mas no J&R os ritmos são outros e os seres humanos são ímpares. Foi preciso ter um freio de arrumação pra gente conseguir andar em passos sincronizados, mas foi ótimo pra mim também. Sempre bom lembrar que o mundo não funciona de um jeito só e que sempre há uma opção, em qualquer cenário que seja.

Jimmy & Rats

3- É muito visível quanto o Jimmy & Rats de completa e te satisfaz. Vi umas entrevistas suas que você está bem satisfeito e orgulhoso do trampo. Ele foi uma evolução musical para a sua carreira?

Sem duvida alguma. São novas vozes, novos instrumentos e um fim a uma “cela auto-imposta” do Matanza. A verdade é que deixávamos nos fazer reféns do estilo Matanza e a inovação tava ficando de lado. Além disso, meu som mesmo começa com Country, Irish, Folk, Bluegrass, e é exatamente isso que fazemos no J&R.

4 – O Jimmy & Rats tem uma influência de Flogging Molly muito forte. E se olharmos para a música nacional, não temos muitos trabalhos assim, apesar de termos um bom público para esse estilo. Pode-se dizer que esse caminho do Jimmy & Rats é algo novo por aqui?

Não. Aqui no Brasil nós temos o Terra Celta, Confraria e mais uma porrada de banda fazendo essa mistura de Irish e Celta aqui, nos curtimos muito isso mesmo. Talvez nos sejamos a banda que mais mistura isso com o punk rock, mas também não estamos inventando nada. Mas estamos definitivamente colocando nosso tempero nessa mistura, e fico feliz que isso seja percebido como algo único.

Capa do novo álbum

5 – Fiquei sabendo que o Matanza Ritual está com novas músicas engatilhadas e que um álbum de inéditas será possível no futuro. O quanto é importante para a nova banda ter um disco com músicas inéditas nesse “universo” do Matanza? É uma nova identidade ou uma repaginada do que já foi feito?

Na verdade, ainda não sabemos exatamente qual será o futuro do Ritual. O disco tá nascendo porque ele nos obrigou a ser escrito (risos).. As músicas são uma mistura completamente insana das influencias dos quatro integrantes, então acho seguro dizer que vai surpreender a maioria das pessoas.

Obvio que tem sangue de Matanza, mas também vem cheio de korzus, Angra, Torture e mais uma porrrraaaada de coisa. Melhor esperarem pra tirar suas próprias conclusões.

6 – E como foi essa montagem do Matanza Ritual? Foi algo que aconteceu naturalmente ou você chegou a escolher do tipo: “Quero esse aqui no baixo. Esse aqui eu quero na guitarra…”?

Os parâmetros eram simples: tem que tocar pra caralho e ser um puta profissional e gente finíssima. Era uma escolha pra fazer com que fosse, antes de mais nada, um enorme prazer pra se excursionar. Então não houve dúvidas, pq os três caras a bordo são dentre os melhores músicos do Brasil e do mundo, e de uma elegância ímpar.

7 – Eu acredito que a pessoa passe por uma evolução seja na vida pessoal e/ou na vida profissional. O Jimmy de hoje não é o mesmo dos tempos do Matanza. E não será o mesmo de dez anos para frente. Como essa evolução tem ajudado tanto no Rats e para voltar com algo como o Matanza Ritual?

Bom, que bom que eu evolui, né? comecei o Matanza com 20 anos, agora tô prestes a fazer 45 (essa entrevista foi realizada no dia 15/07, um dia antes do aniversário do Jimmy). Se nada tivesse mudado eu teria sérios problemas… eu acho que, hoje em dia, tenho mais clareza sobre o que quero alcançar e mais capacidade de trabalho. Acho que meu discurso também ta mais limpo, com menos interferência externa e isso me ajuda muito na comunicação com o público.

E como também tô fazendo várias coisas ao mesmo tempo, isso ajuda muito a não patinar, quando algo para de andar eu simplesmente mudo o que tô fazendo e volto depois. Costuma dar certo.

O Matanza Ritual, da esquerda para a direita: Felipe Andreoli, Amilcar Christófaro, Jimmy e Antonio Araújo. A banda fará shows em 2022!

8 – Você uma vez falou que sente falta do público do Matanza, (como público do Matanza, também digo que sentimos falta), e como você acha que vai encontrar esse público? Você acha que ele chegou a se renovar?

Não sei se chegou a se renovar ainda, nao tem nem três anos do fim da banda, mas acho que essa galera vai ficar feliz quando sentir a energia que tá guardada dentro de mim pra fazer esses shows do Ritual. Como também tivemos essa sinistra pandemia, eu tô acumulando quase dois anos em casa sem tocar. Imagina quando eu puder colocar pra fora? sai de baixo, mermão…

9 – E a carreira de ator, bicho? Quem viu o Jimmy lá no início do Matanza, nunca imaginaria ver você como ator em novelas. Como está sendo esse rolê? O próximo trabalho será O Anjo de Hamburgo do Jayme Monjardim, que tem uma forte história e uma certa ligação sua por causa de uma parente próxima.

Atuar é tão divertido quando fazer shows, e isso é uma afirmação bem radical. Tô apaixonado por essa nova atividade onde os mais mínimos detalhes ficam enormes a tela e meus instintos precisam ser utilizados ao máximo. Vou ate me conter, ou acabaria falando demais sobre isso. Só digo que tá foda, uma diversão gigantesca e uma honra poder estar fazendo projetos tão importantes.

Sobre a segunda guerra, acho que é um dos capítulos mais terríveis da nossa humanidade. Eu sou judeu e minha família passou em primeira mão vários desses horrores. É essencial falar sempre sobre isso pra que não caia no esquecimento e pra que as pessoas não comecem a usar estapafurdiamente o holocausto como certos políticos tem usado. A humanidade tem capítulos drásticos: os massacres, escravidões, guerras, extermínios…

Não sei como ainda existimos, sendo um ser tao defeituoso e capaz de tanta maldade.

Jessica Córes e Jimmy em cena na série Cidade Invisível.

10 – E qual seria o sonho de atuação? Uma produção que se pudesse gravar seria a cereja no topo do bolo?

Quero muito fazer cinema, algo grandioso. Meu sonho é um puta papel num filmão estilo Senhor dos Anéis. Em breve num cinema perto de você!

11 – O lançamento do disco do Jimmy & Rats agora e as preparações do Matanza Ritual, que terá shows (se tudo der certo com a vacinação) ano que vem, enquanto isso quais os planos do Jimmy para o restante de 2021?

Tudo andando ao mesmo tempo agora! Lives pro J&R, disco pro Ritual, atuando cada vez mais, Rock Estúdio no Canal Bis voltando em breve, e mais uma porrada de surpresa vindo ai!

Seguuura, e puuutaquipariu!!!

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

Contatos, sugestões, dicas, idéias e xingamentos: ricardo@torredevigilancia.com