Música

Tirem os alargadores, toucas, piercings e skates do armário, porque o pop rock voltou

Escrito por Pedro Alonso

Existe uma teoria no mundo da moda chamada de “ciclo dos 20 anos” que fala sobre a forte possibilidade das tendências voltarem a cada vinte anos. Caso você seja minimamente antenado nos trends fashions, talvez já tenha percebido a forte presença do estilo do final dos anos 1990 / início dos anos 2000 nas roupas. Seguindo a teoria, a febre do tie dye não voltou à toa no ano passado. E talvez, a mesma teoria se aplique à música. 

A indústria fonográfica da década passada, foi marcada pelo movimento de recuperação da sonoridade e estética oitentista. Isso ocorreu através da “(re)popularização” da new wave e do synthpop, e chegou a dar a luz para um novo gênero, o vaporwave.

Para se ter ideia, em 2014 Taylor Swift alcançou o ponto comercial mais alto da sua carreira com o disco “1989” que tem um título bem auto-explicativo sobre qual é a predominância da sua sonoridade. Ainda no final da década, The Weeknd lançou o hit “Blinding Lights”, uma das maiores canções synth pop da história e que faz sucesso absurdo ainda no ano de 2021. Na bolha alternativa não foi diferente. De The 1975 à Carly Rae Jepsen passando por Tame Impala, Robyn e Lorde, todos beberam um pouco da década de 80. 

Assim como na literatura, nenhum movimento começa magicamente no dia D e termina na hora H. É tudo gradual e aos poucos, e quando vemos, já está acontecendo. E com o pop-rock não está sendo diferente.

Surgido no final dos anos 90 e tendo seu ápice nos anos 2000, o gênero foi responsável por marcar toda uma geração, rompendo as tabelas musicais e transgredindo a cultura. Figurando não só as paradas musicais, mas como a moda, filmes, séries e grupos sociais. Você se lembra do movimento emo? Pois é. 

Diversos nomes que alcançaram o estrelato mundial através desta vertente. De Avril Lavigne, passando por Simple Plan, Panic! At The Disco, Paramore, Kelly Clarkson, Fall Out Boy  até chegar em nomes mais “pop” como Maroon 5 e P!nk. O Brasil também teve seus nomes e momentos. NX Zero, Pitty, Forfun, CPM22, Charlie Brown Jr, Detonautas e outros, marcaram uma geração inteira. 

Devido a despreocupação com números, vendas e streams, a cena underground e alternativa da música é, quase sempre, a precursora de novas tendências. E não foi e nem está sendo diferente com o pop rock. 

Em 2020, o álbum “Color Theory” figurou em diversas listas de melhores discos do ano. Lançado pela americana Soccer Mommy de 23 anos, o registro é, como todos os trabalhos dela, uma grande homenagem à sonoridade do final dos anos 90 e início dos anos 2000. Por ser um disco recente na cena mas muito bem recebido, pode se esperar futuras músicas de outros artistas sendo influenciadas diretamente por Color. 

Ainda dentro do caótico 2020, beabadoobee explodiu nas paradas musicais com o viral “deah bed”, do cantor powfu. A música utiliza como samples alguns versos da canção de bea, “coffe”. O sucesso possibilitou a cantora filipina-inglesa a lançar seu primeiro álbum, “Fake It Flowers” em outubro. Aos exatos 20 anos ela revisita o som de 20 anos atrás, de uma perspectiva bem única e interessante. O single “care” fez algum barulho em algumas paradas ao redor do mundo, é outro grande hit em potencial do pop rock alternativo para ficar de olho. 

No meio do nicho “mainstream demais para ser alternativo” e “alternativo demais para ser mainstream” também tem pop rock em ascensão. Rina Sawayama, a maior revelação do ano passado, foi extremamente aclamada com o seu álbum de estreia “SAWAYAMA” . O disco não só conversa com a música pop de duas décadas atrás, com referências de Birtney Spears e Janet Jackson como também com o rock da mesma época. Porém, diferente de suas irmãs de referência, Rina vai mais à fundo e busca referências no metal e punk, que consequentemente vira um trabalho majestoso. As faixas “Who’s Gonna Save U Now” e “STFU!” estão aí para provar. 

No mesmo grupinho de Rina, temos The 1975, que já foram citados no início desta matéria pela apropriação dos sintetizadores oitentistas. A banda britânica trouxe o rock para o seu pop eletrônico no disco “Notes On A Conditional Form”. Da pesada “People”, um hino punk à nostálgica “Me & You Together Song” que poderia facilmente estar na trilha sonora de uma comédia romântica adolescente dos anos 2000 ou em alguma abertura de Malhação.

E o mainstream?

Mesmo que ainda de maneira mais tímida, o pop rock já chegou nos populares.

Em novembro de 2020, Miley Cyrus lançou seu sexto álbum de estúdio “Plastic Hearts” onde mergulha de cabeça nas influências rockeiras dos anos 70. O fato curioso é que os primeiros trabalhos da intérprete da Hannah Montana, lançados nos anos 2000, é claro,  também se enquadram dentro do pop rock, mesmo que de maneira mais “bobinha”. 

Outro grande nome da música pop atual é Harry Styles, dono de um dos álbuns mais bem sucedidos de 2020, “Fine Line”. O ex-One Direction nunca escondeu suas referências em seus trabalhos solos. O primeiro álbum, autointitulado,  tem influências musicais e visuais de David Bowie, Led Zeppelin, Queen e Rolling Stones. E o processo se repete no sucessor. Seu maior sucesso “Watermelon Sugar” pode não soar como as músicas pop rock que dominavam as paradas na primeira década do século, mas ela evidentemente bebe da mesma fonte. 

YUNGBLUD é uma das mais recentes revelações da música britânica. O jovem de 22 chama atenção do público, sobretudo os mais jovens, com suas letras honestas o suficiente para sua geração e um visual completamente punk. E às vezes, rompendo até com padrões de gênero. No mês passado, ele lançou seu segundo álbum de estúdio, chamado de “WEIRD!” e nele é mais do que perceptível a influência do pop rock do novo milênio, além do seu sucesso. O disco estreou em primeiro lugar na principal parada de álbuns do Reino Unido. 

O americano Machine Gun Kelly segue os mesmos passos de YUNGBLUD. Já reconhecido na indústria por alguns hits no rap, o cantor vem se arriscando no rock e tem dado certo. Seu 5o álbum de estúdio, Tickets to My Downfall” lançado em Setembro de 2020 também estreou direto em 1o lugar na lista dos 200 álbuns mais vendidos nos Estados Unidos. Machine se aprofundou tanto na década de 2000, que o clipe da faixa “Bloody Valentine” tem participação de Megan Fox. 

O pop rock já é uma realidade nas principais paradas do mundo. Ele já está presente nas playlists saudosistas de quem viveu os anos 90 e 2000 e até nas dos atuais adolescentes, que quem sabe, poderão se tornar uma nova geração de emos?

Assim como acontecia há 20 anos atrás, novos nomes surgirão e se consolidarão com o sub gênero. E para podermos testemunhar tudo isso, é melhor tirar nossos alargadores, toucas, piercings e skates do armário. Temos que estar a caráter para este evento. 

Confira nossa playlist com todas as músicas e artistas citados nesta matéria:

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Sobre o Autor

Pedro Alonso

Sou estudante do 2º período de Jornalismo e apaixonado por cultura pop. E assim como Justin Timberlake fez em seu 3º álbum de estúdio, estou vivendo minha 20/20 Experience.