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The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV é um presente para os fãs

Escrito por Pedro Ladino

Após o final apoteótico de Trails of Cold Steel III, com um cliffhanger de cair o queixo, a Nihon Falcom e a NIS America retornam mais uma vez para encerrar a saga de Rean Schwarzer e o Arco de Erebonia.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV se passa quase um mês após os acontecimentos finais do jogo anterior. O mundo está sendo afetado pela maldição, Rean está desaparecido e Osborne acaba de declarar guerra contra Calvard. Ao mesmo tempo em que precisa amarrar as pontas soltas, o jogo reúne personagens de toda a série.

A review possui spoilers de jogos anteriores. Se você não jogou nada da franquia, por favor não leia.

É difícil comentar e jogar Cold Steel IV sem conhecer os jogos anteriores, e quando eu digo “anteriores”, não me refiro somente aos três primeiros Cold Steel, mas sim de toda a série Trails, passando por Trails in the Sky até Trails to Azure. Todo o worldbuilding e narrativa que a Nihon Falcom estabeleceu durante esses 16 anos, nos leva diretamente até Trails of Cold Steel IV. Eu falo mais sobre a franquia e seus jogos em um artigo aqui no site.

Já nos primeiros minutos, isso fica evidente, quando controlamos personagens dos jogos passados. Sem qualquer conhecimento prévio, toda essa parte se perde. Após isso, somos jogados no controle da nova classe VII, que parte em busca de Rean.

Quando o payoff é maior que a narrativa

Como eu falei anteriormente, Trails é uma série que vem sendo feita e construída primorosamente desde 2004. Em Cold Steel III tivemos a presença de alguns personagens de jogos anteriores e isso foi o bastante para me deixar animado e emocionado. Mas aqui, eu simplesmente desabei ao ver TODOS esses personagens juntos. Todas essas horas jogadas levaram até esse momento e eu não poderia ter ficado mais feliz com essa recompensa. No final, eu estava satisfeito.

Não somente personagens principais, mas NPCs importantes para todo o lore da franquia. Personagens que você acompanhou através de uma narrativa própria, estão aqui, também concluindo o seu arco. A cada personagem antigo que apareceria, eu abria um sorriso.

O jogo é recheado de grandes momentos e aparições que você nunca imaginaria ver em 3D e fico muito feliz por isso ter acontecido.

Foi o suficiente para eu revelar algumas coisas do roteiro. O jogo está longe de ser perfeito, e de ser um dos melhores da série, mas ele é bastante especial.

Tirar o Rean, temporariamente, do controle, foi uma boa decisão, para mostrar o quanto os estudantes da nova Classe VII evoluíram com seus ensinamentos. Os destaques em termos de personagens vão para Ash e Musse. São dois personagens que eu adorei desde que apareceram no jogo anterior, Ash, em especial, possui um ótimo desenvolvimento, além de ter ligação com um dos lugares mais emblemáticos da série. É um retcon que eu aprovo. 

Musse também teve o seu papel e se mostrou uma excelente estrategista durante a Guerra. Kurt brilha apenas no final, ainda não sei o que irão fazer com esse personagem. Já Juna, acaba sendo deixada de lado, já que acabou sendo desenvolvida em Cold Steel III, assim como Altina, que aprendeu o que são sentimentos e como é se relacionar com as pessoas. Ainda assim, é ótimo ver o quão diferentes esses personagens são um dos outros.

Crow está de volta e mostra novamente porque é um dos melhores personagens desse arco. Os personagens da classe VII original compõem o elenco de apoio e são mais importantes para o enredo. Em certos momentos de Cold Steel IIII, eles pareciam que estavam lá por serem obrigados.

Em Cold Steel III, tivemos uma grande evolução no Rean e comecei a gostar bastante dele, e aqui, após a sua volta, o roteiro deixa claro que ele é o alicerce dessa história. Sem ele, Cold Steel não funcionaria do jeito que é, por bem ou por mal.

A Ouroboros e seus membros ainda estão colaborando com Osborne e dando algumas pistas sobre o plano deles. Somente na reta final, a gente recebe alguns detalhes sobre o que eles estão fazendo ali e porque se uniram ao Chanceler. Isso é uma coisa que deixou a desejar nesse arco: o antagonismo total da sociedade, Osborne simplesmente tomou conta de tudo. Provavelmente veremos mais em Hajimari no Kiseki e no próximo arco. Cada membro possui uma personalidade forte e objetivo próprio, ainda que estejam à serviço da Grandmaster. McBurn, novamente, está ótimo aqui.

O plot da Maldição é algo que me deixou com uma pulga atrás da orelha desde que foi apresentado. Não sabia bem para onde ele iria e quais seriam as consequências disso. Me perguntei se “colocar a culpa na maldição”, seria algo que eles iriam fazer aqui. Em partes, foi. No entanto, apesar de eu não ter engolido algumas coisas sobre isso, os roteiristas fizeram de uma maneira que ficou convincente. Mas vejo muitos fãs torcendo o nariz para as explicações dadas e irei concordar.

Os dois finais do jogo foram ótimos. Sim, tem dois finais, para chegar ao final verdadeiro, basta fazer uma sidequest antes de partir para a Dungeon Final. O jogo praticamente deixa na cara que a missão é importante.

O primeiro final, mesmo sabendo da existência de Hajimari no Kiseki, bateu muito forte. Já o segundo, eu só chorei de alegria. Uma coisa que senti falta, foi uma conclusão geral, e com isso acredito que a NISA fez certo em retirar o subtítulo “The End of Saga“.

É Cold Steel II de novo, porém melhor

Estruturalmente falando, Cold Steel IV é exatamente igual à Cold Steel II. Para muitos, e para mim, no começo do jogo, isso pode ser um mal sinal. Afinal, ele possuiu um meio totalmente inchado e cansativo. Aqui, ainda bem, isso não acontece. Obviamente tem algumas barrigas, como todo RPG, mas no final dos atos, eu não fiquei cansado, muito pelo contrário eu só queria jogar mais.

Tudo que tivemos no segundo Cold Steel, retornou aqui. A divisão por atos, a busca e resgate de colegas, o deslocamento por Erebonia através de uma nave, as Shrines, os Trials Chests e muito mais. O que pode parecer muita coisa para se lidar, e de fato é, foi feito de uma maneira que não deixa o jogador carregado. A Falcom parece ter aprendido com as críticas à Cold Steel II e trouxe um jogo pesado em termos de conteúdo, porém mais enxuto e menos esgotante. Claro que não é desculpa para repetir quase que um plot inteiro do jogo, mas dá para relevar.

O mapa é o mesmo de Cold Steel III, mas com as adições das Shrines e locais secretos. Eu levei cerca de 81 horas para fechar o jogo, fazendo quase tudo que estava disponível. Em comparação, eu platinei o anterior com 70 horas.

A mesma gameplay

Em termos de gameplay, o jogo não mudou. As Brave Orders retornaram, e foram aprimoradas. No jogo anterior elas causavam um desbalanceamento nas lutas e as deixavam mais fáceis, aqui, elas começam fracas e vão evoluindo na medida com que você vai completando os Trials Chests. Temos a inclusão de Lost Arts, outra herança de Cold Steel II, elas drenam toda sua mana e só podem ser utilizadas uma vez em cada luta. São cinco no total, e são pegas ao enfrentar minibosses ao redor do mapa. Podemos também invocar nossos Panzer Soldats, ou Valimar no caso de Rean. Sinceramente, eu quase não usei essa mecânica, tirando em uma luta na reta final, onde você é obrigado.

As lutas de robôs estão de volta, e dessa vez como parte central da trama. Não irei entrar em detalhes por motivos de spoiler.

O jogo oferece uma enorme quantidade de personagens jogáveis e a desenvolvedora conseguiu deixá-los bem balanceados. É claro que há diferenças entre cada um deles, mas eles não quebram o ritmo da batalha. Algo que não se reflete em nosso time principal, com a combinação certa de quartz e equipamentos, você consegue causar um estrago. Como foi no caso do Kurt, desviando e contra-atacando os inimigos, e do Ash causando instakill.

Acontece, mas no geral, o jogo está mais difícil que o seu antecessor. Também está mais complicado de conseguir o AP máximo, devido aos requerimentos. O jogo tira todo proveito do seu conhecimento sobre o combate da série.

Achar itens e missões escondidas ficou mais fácil nesse jogo. Em CS III já tínhamos algumas indicações, mas aqui, a Falcom decidiu tornar algo muito mais acessível, só não coleta os itens e faz a missões quem não quer mesmo. 

O jogo está mais polido que o seu anterior, que apresentava enormes quedas de frames. Os modelos ainda são os mesmos e isso só deve mudar na nova engine da Falcom. O jogo também oferece um modo turbo, acho que esse tipo de feature é essêncial para a maioria dos JRPGS.

A maldição do bonding system

Uma das piores coisas envolvendo Cold Steel é o Bonding System. A clara influência de Persona em retalhar acontecimentos e desenvolvimentos em um sistema que te obriga a escolher com quem você quer passar o tempo é um mal que assola a série. Eu sei que surgiu primeiramente em Trails to Azure, mas lá era algo completamente diferente. Isso foi arrumado em Cold Steel III, onde você realmente só passava um tempo com seus amigos e não tinha nada muito relevante preso naquilo. 

Aqui, no entanto, foi bem diferente. Enquanto alguns eventos eram qualquer coisa, outros traziam acontecimentos que causavam impacto na história, e nem tudo é acessível na primeira gameplay.  Em uma série onde a narrativa é o mais importante, esconder coisas através de um sistema é fazer com que o roteiro acabe ficando mais fraco. Os personagens da Classe VII original possuem eventos melhores do que o restante, isso é algo que fica bem claro conforme você vai fazendo.

Sem falar no harém do Rean, onde algumas das escolhas acabam sendo bastante questionáveis ou forçadas. Já em outras, acabam acontecendo naturalmente. Eu espero muito que no próximo arco, eles não retornem com esse sistema. 

O retorno do Pom

Os minigames estão mais uma vez presentes em Cold Steel IV. Além da pesca e do jogo de cartas, novamente sendo Vantage Masters, que sofreu alguns buffs desde o jogo anterior, temos a volta do Pom, um game à la Tetris que surgiu em Trails to Azure, e ele está ainda mais complicado! 

O computador acaba roubando bastante para os personagens com quem você está disputando, mas a satisfação ao derrotar seus oponentes é enorme. Eu passava mais tempo jogando Pom do que nas próprias dungeons do jogo.

Localização da NISA e as guitarras malucas do Singa

Sobre a localização, mesmo não sendo um expert em inglês, eu senti que a tradução desse jogo trouxe uma linguagem mais básica que o anterior. Em questão de erros, eu vi alguns, que logo foram corrigidos através de uma atualização. Outra coisa é um nome de um personagem que, por mais que esteja correto, poderá causar uma certa reclamação entre os fãs. A tradução é a correta, mas a gente conhece por outro nome.

Eu joguei com vozes em Japonês, por ser mais acostumado, então não posso falar como ficou a dublagem em inglês, porém, trocando informações com outros jornalistas, verificamos a troca de alguns dubladores, em especial os de Laura e Osborne. A NISA não comentou nada sobre o assunto, mas em um ano de pandemia, dá para dar uma colher de chá.

A trilha-sonora, como sempre, está espetacular. Eu sei que muita gente critica as músicas compostas por Mitsuo Singa, principalmente por conta da guitarra, mas ao pouco suas composições cresceram em mim e passei a gostar delas. A música dos créditos me fez chorar.

Um presente

Em The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV, a Nihon Falcom abre mão da consistência para entregar um presente aos fãs da franquia. Foram anos de construção de mundo, amarrando quase todas as pontas e dando indícios para o futuro. Enfim chegamos ao final desse maldito conto de fadas, e que venha Hajimari. Trails é uma série de jogos especial, que todo mundo precisa experimentar.

Agradecimentos à NIS America pelo envio do código para a análise. O jogo será lançado para PlayStation 4 em 27 de outubro. As versões para PC e Nintendo Switch chegarão em 2021.

Ouro – Recomendável

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Sobre o Autor

Pedro Ladino

"Just when I thought I was out...they pull me back in."