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(Alguns) Quadrinhos Nacionais de 2017 que você deveria conhecer

O ano de 2017 foi de grande destaque no mercado nacional de quadrinhos. Muitas notícias surgindo das grandes marcas como a linha Graphic Novels da MSP, como a divulgação do (fofo) elenco da adaptação para os cinemas da Turma da Mônica, novas editoras e selos surgindo, as editoras investindo tanto em produtos fora do nicho Marvel/DC, trazendo HQs gringas que dificilmente veríamos sendo lançadas aqui no país e o mais legal: lançando com material de qualidade diversos gibis de artistas nacionais. Com excelente qualidade gráfica, ações de marketing em redes sociais e nas feiras especializadas pelo país, HQs digitais que ganharam formatos físico e sem contar o pessoal que vai para o Cartase e no suor e na raça conseguem publicar seu material. Parabéns para todos os envolvidos!

Listamos aqui, algumas HQs que curtimos esse ano. Claro que infelizmente não dá para colocar tudo que vimos/noticiamos/lemos em uma simples matéria. Não é uma lista de melhores do ano, e sim uma forma de compartilhar algumas produções do quadrinho nacional. Vamos tentar ser os mais justos possível!

Peek a Boo: A Masmorra dos Coalas – Alto Astral/Plot! Editorial

Escrita e desenhada pela Psonha, a HQ traz a aventura de Mambay e do vampiro Apolônio contra cogumelos pigmeus zumbis. Sim, isso mesmo! Leitura fácil e bem gostosa, Peek a Boo parece um episódio de A Hora de Aventura nas palmas das mãos, mas sendo um colírio para os olhos.

 


Semilunar – Editora Balão Editorial

Maria é uma menina que sofre de disfemia (gagueira), sendo que ela consegue lidar com essa condição cantando e recitando poesias. A ideia vem de sua mãe, Dolores, uma cantora que nunca conseguiu o sucesso. Maria quer viver de música e tem uma condição tão difícil de lidar, além da mãe, que projeta na filha todos os seus desejos e frustrações. Os roteiros e desenhos são de Camilo Solano. Você pode adquirir seu exemplar no site da editora clicando AQUI.


A Infância do Brasil – AVEC Editora

O quadrinho histórico de José Aguiar, narra seis séculos do nosso país sob o olhar das crianças brasileiras. Sendo um verdadeiro documento do passado, a narrativa viaja da colonização a modernidade, passando pelo período escravagista e industrial. As imagens são de grande destaques na HQ que se assemelha a retratos e pinturas de livros de história que líamos no colégio.


Capitão Feio: Identidade – Panini

Com foco no grande vilão que sempre ronda as aventuras da Turma da Mônica, a HQ dos irmãos Magno e Marcelo Costa, apresenta como um homem sem passado e nem memórias se torna extremamente poderoso e sua relação com a sociedade fica cada vez mais complicada.

 


Demônios da Goetia – Editora Draco

Fechando a “Trilogia de Horror Cósmico”, também chamada de “Trilogia das Cores”, a Draco lançou Demônios da Goetia em Quadrinhos. Assim como os seus sucessores O Rei Amarelo em Quadrinhos e O Despertar do Cthullu em Quadrinhos, um time de artistas, capitaneados pelo editor Raphael Fernandes (o Rei das Costeletas), apresentam oito histórias que mostram como a corrupção humana não tem limites. Toda a trilogia é um presentão!

 


Realezas Urbanas – Alto Astral/Plot! Editorial

Escrita por um time de peso pesados composto por Rebeca Prado, Bianca Nazari, Barbara Morais e Tainan Rocha, Realezas Urbanas é um compilado com três histórias das mais célebres princesas e rainhas dos contos de fadas em meio a reuniões de negócios, a vida moderna e a loucura dos dias de hoje.

 


La Dansarina – Marsupial Editora/Jupati Books

Ganhadora do Troféu HQ Mix 2016 nas categorias Edição Especial Nacional e Roteirista, em La Dansarina de Lillo Parra e Jefferson Costa,  a trama se ambienta em São Paulo durante o ano de 1918, e conta sobre a saga de Petro para enterrar dignamente a sua mãe que faleceu durante um surto de Gripe Espanhola.

 


Gatilho – Independente

Carlos Estefan e Pedro Mauro se unem para contar a história de um caçador de recompensas que chega a uma cidade abandonada em busca de justiça. Mas, para conseguir seu objetivo, terá que enfrentar alguns fantasmas do passado. Para poder adquirir seu exemplar, você pode entrar em contato pelo e-mail: gatilhohq@gmail.com.


Angola Janga – Editora Veneta

A obra de Marcelo D’Salete levou 11 anos para ficar pronta, e se tornou umas das grandes publicações do ano nos quadrinhos nacionais. Angola Janga foi como um reino africano dentro da América do Sul, criada por fugitivos da escravidão, ela cresceu, se organizou e resistiu aos ataques dos militares holandeses e das forças coloniais portuguesas. O seu líder, Zumbi, virou lenda e inspirou a criação do Dia da Consciência Negra.

 


Kombi 95 – Alto Astral/Plot! Editorial

“Anos 90. Regras: Não há regras”. Com o polivalente Thiago Ossostortos no volante, a HQ Kombi 95 faz uma viagem e traz de volta tudo dos anos 90. E quando eu falo tudo é TUDO mesmo! A trama fala sobre um grupo de amigos que investigam a famosa lenda urbana da Kombi que pega crianças, e durante toda a aventura acontecimentos sobre música, comportamento, política, televisão, comidas, modas etc… uma das mais divertidas que li esse ano.

 


A Canção do Cão Negro – AVEC Editora

O segundo volume da excelente série nacional Contos do Cão Negro da dupla Cesar Alcázar e Fred Rubim, traz de volta Anrath, o Cão Negro, comandando o seu próprio navio, ao lado de Aella e Rorik. A trupe parte para uma missão perigosa na Islândia onde vão encontrar com saqueadores vikings e uma criatura mitológica sedutora e mortal.

 


Até o Fim – Geektopia

“Será que a vida simplesmente acaba? Ou o destino vai de acordo com o que cada pessoa acreditou durante toda a vida?” Com essas perguntas sobre a vida pós-morte, o trio Eric Peleias, Gustavo Borges e Michel Ramalho apresentam a lindíssima Até o Fim. Na história, Lilian e seus amigos sofrem um acidente de carro e ela faz um acordo para poder voltar à vida: precisa escolher o destino adequado para a alma de cada um dos seus amigos.

 


A Herança Becker – Zarabatana Books

Marcelo Costa e Magno Costa contam a saga de três irmãos, que após a morte do pai, Hanz Becker, herdam a fortuna, mas também o assassino do pai. Mistério, ódio, medo, dilemas familiares e vingança são os temperos da história.

 


Estudante de Medicina – Editora Veneta

Cynthia B. narra nos quadrinhos toda a sua trajetória no curso de medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Novas responsabilidades, uma nova realidade, amizades, relacionamento com a mãe e novos hábitos não tão saudáveis estão na história.

 


Jurados de Morte

A dupla Iramir Araujo e Beto Nicácio trazem duas tramas em preto e branco ambientadas no Sertão do Nordeste Brasileiro. Conforme os próprios autores falam: Jurados de Morte é uma espécie de acerto de contas de personagens marcados pela rudeza daquela região geográfica com seu destino sempre incerto. Informações para adquirir seu exemplar clique AQUI.


Matei meu pai e foi estranho – Marsupial Editora/Jupati Books

Lançada recentemente, a nova HQ de André Diniz conta a história do menino Zaqueu, que nasceu albino de cabelos e pele mais brancos, em meio de uma família morena. Então em meio a dramas familiares e momentos triviais vemos Zaqueu buscar seu espaço.

 


Despacho – Editora Draco

A antologia “horror bagaceira” Despacho foi organizada por Fernando Barone e Samuel Sajo e um time de artistas, que se inspiraram nas coletâneas de terror dos anos 70, recriaram lendas e mitos brasileiros. Habitam nas páginas figuras folclóricas como Cuca, Cramunhão na Garrafa, Capelobo e até a lenda das páginas do Notícias Populares, o Bebê-Diabo.

 


Eu, Vilão – Overdrive Comics

Publicada de forma independente pelo icônico quadrinista Walter Junior, a HQ mostra a vida de Thomas e Richard depois de um incidente em uma estrada. Criticas aos meios de comunicações que disciplinam as opiniões das pessoas, a trama pergunta na verdade quem é o verdadeiro vilão?

 


Uma Estrela na Escuridão – Marsupial Editora/Jupati Books

André Bernadino adapta o livro homônimo de Gabriel Davi Pierin, que fala sobre a história real do judeu brasileiro Andor, que foi parar no campo de concentração Nazista de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial.

 


Turma da Mônica: Lembranças – Panini

Fechando a trilogia que foi iniciada em Laços e seguida por Lições, os irmãos Vitor e Lu Cafaggi trouxeram a turminha mais famosa do Brasil em uma aventura cheia de intrigas, sopapos, planos infalíveis, risadas e, claro, amizades. Vale lembrar que é dessa trilogia que o filme live-action da Turma da Mônica está sendo baseado.

 


A Teia Escarlate – Editora Draco

Escrita por Raphael Fernandes e desenhada por Clayton InLoco e Daniel Canedo, a trama conta a vida de uma imortal desde a antiguidade ao renascimento. O volume ainda reúne alguns contos escritos por Eduardo Kasse, criador da série Tempos de Sangue.

 


De Volta a Solemnia – Editora Marsupial/Jupati Books

A trama mostra o jovem príncipe Alex I, que parte em uma jornada juntamente com o seu fiel cavaleiro Sir Grimmo e o seu cavalo Acéfalo em busca de um lendário amuleto. A HQ é de Artur Fujita, e foi publicada originalmente em formato digital.


Chico Bento: Arvorada – PaniniO premiado cartunista Orlandeli cria uma história tocante com momentos de amor, dor, humor, mistério e aprendizado. Tudo isso em um lindo visual. Na HQ, o caipira mais famoso dos quadrinhos, leva uma daquelas lições que a vida de vez em quando dá em todos nós, porque nem tudo pode ser deixado para depois.

 


HellDang – Independente

A banda de rock HellDang tem em sua rotina muitos fracassos e shows vazios, então os seus integrantes fazem um pacto com o demônio Amduscias para chegar até a sonhada fama. Só que as coisas saem do controle. Com roteiro de Aírton Marinho e arte de Samuel Sajo, a trama mistura rock and roll, YouTubers e caminhoneiros. Você pode adquirir direto com o autor pelo e-mail: helldanghq@gmail.com


Já Era! – Editora Lote 42

Felipe Parucci, conta a história de Regina, uma publicitária que trabalha muito e ganha pouco. Suas interações sociais são tediosas e vive em um mundo repleto de piras erradas. Cansada, ela vê a oportunidade de comprar um barco e sair navegando sem rumo, em busca de uma razão de existir. Mas ela acaba caindo em uma viagem surreal e encontra a oportunidade de mudar o mundo. Ou pelo menos o mundo dela. A venda no site da editora.


Abutres – Editora Estronho

Eduardo Vetillo e Julio Magah apresentam quatro fora-da-lei, um xerife implacável, um fazendeiro decadente e abutres famintos são as estrelas de um faroeste repleto de violência e mistérios.


Porco Pirata – Editora Mino

O grande Porco Pirata cruza juntamente com o seu bando a costa africana, quando captura Izzy, a filha da grande bruxa Iaci. E vê em sua prisioneira um passaporte para inúmeros tesouros e encantamentos da poderosa anciã. João Azeitona é o autor da HQ.


Open Bar – Panini

A edição definitiva da obra de Eduardo Medeiros conta a história de Barba e Leonardo. Dois amigos que herdam um bar e, por contrato, são obrigados a mantê-lo funcionando em meio a desavenças e amores antigos.


Bilhetes

Na primeira página do álbum, o leitor verá seis bilhetes, cada um contendo uma mensagem. Sendo que cada bilhete pertence a uma das histórias. Eles provocam reviravoltas e mudarão o rumo da vida dos personagens ao surgirem durante a trama. Mas nesse momento o leitor não verá o seu conteúdo. Ou seja, ele não saberá qual bilhete apareceu em cada história. Um time peso pesado produziu Bilhetes: Marcelo Marchi, Paulo Borges, Laudo Ferreira Jr., Marco Antonio Cortez, Augusto Minighit, Jean Diaz, Julius Ohta. Mais informações no site do Paulo Borges.


Devorados – Editora Draco

Para proteger a sua esposa e seu bebê, Duran Draconian, vai enfrentar um ritual arriscado para entrar para a Dragonaria Rubra, uma força de elite que sobrevoa os campos de batalha aplicando a justiça dos homens. Este futuro pai e guerreiro vai ter que superar grandes obstáculos, forjar um elo permanente de sangue com um réptil alado selvagem e encarar o seu monstro interior. O roteiro é da dupla Erick Santos Cardoso e Cirili S. Lemos e os desenhos são de Marcio R. Gotland.

 


À Moda da Casa – Editora Estronho

Baseada nos curtas-metragens Mal Passado e Snuff Said do cineasta Julio Wong, que assina o roteiro juntamente com Ser Cabral, À Moda da Casa narra um conto em que atores morrem ao participarem de filmes totalmente realistas onde as pessoas jantam os corpos das vítimas. A arte é de Kiko Garcia.

Como foi dito aqui antes, é praticamente impossível escrever sobre todas as HQs nacionais de qualidade lançadas em 2017. E lembrando que NÃO é uma lista de os melhores do ano. Acredito que melhor do que fazer listas, é compartilhar boas histórias com outras pessoas. Mas espero que possa ter ajudado o máximo possível em algum direcionamento. Alguns títulos estão bem fresquinhos, pois foram lançados recentemente na CCXP.

E que em 2018 o quadrinho nacional possa estar em patamares ainda maiores, mesmo com toda a concorrência que venha dos “supers” de fora. Tem que ter suor, raça e sangue. Então vamos fazer a nossa parte e prestigiar nossos artistas.

 

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Torre Entrevista | Dan Goldman

Um dos grandes lançamentos dos quadrinhos aqui no Brasil no final de 2017 foi com certeza Imobiliária Sobrenatural de Dan Goldman. Publicado pelo Plot! Editorial, o selo de quadrinhos da editora Alto Astral, e lançada oficialmente na CCXP, a HQ conta sobre uma empresa que vende casas desassombradas. Você pode ler a nossa resenha sobre Imobiliária Sobrenatural clicando AQUI.

Dan Goldman é autor de obras aclamadas pela crítica como Shooting War, Priya’s Shakti, 08: A Graphic Diary of the Campaing Trail entre outras. Apesar de ter morado no Brasil alguns anos atrás, Imobiliária Sobrenatural é o seu primeiro trabalho publicado no país.

Um dia, então, Felipe Castilho, editor da Plot! me falou que Dan Goldman estava vindo ao Brasil para lançar a HQ por aqui, e me falou que uma entrevista com o autor poderia ser realidade. Contato feito (obrigado Felipe!), Dan foi super gente boa, muito solícito e simpático, e recebeu as nossas perguntas que você, lindo leitor, pode ler a seguir:

Você está lançando finalmente Imobiliária Sobrenatural aqui no Brasil. E lendo a HQ percebe-se que a história é sobre crises com um tempero fantasmagórico. Crise no mercado imobiliário, crise no casamento, crise pela falta de dinheiro…  De onde surgiu a ideiade misturar isso tudo com esse tom de sobrenatural?

Nós vivemos num tempo de crise e senti que está piorando ainda mais. Quero falar sobre isso, porque essas épocas revelam nossas forças e fraquezas… e tudo isso é fonte de um bom drama. Quando um personagem não tem nenhuma outra forma de providenciar para a família ou para a empresa, o leitor entende a essência dele de verdade. É misturando esses dramas universais com coisas sobrenaturais e metafísicas, que a estrutura narrativa se conecta com conceitos que nos abrem as outras maneiras de experienciar a estória.

Foto: Papo Zine

Eu li que existiram planos para Imobiliária Sobrenatural se tornar série de TV ou até mesmo um longa metragem. Ainda existem essas possibilidades? E se viesse a acontecer como você veria a sua obra sendo adaptada para outra mídia?

Sim. Eu estou trabalhando com uma equipe de produtores em Los Angeles para adaptar o série para a tv a cabo. Meu sonho tem sido montar um show com ideias mais profundas sobre a vida depois da morte, amor e consciência em nossa “cultura-pop” (que contém mais pop e menos cultura) que ainda se mantém bem anti-intelectual.

A coisa mais importante para mim é a história, a narrativa. Acredito na ideia da narrativa transmídia que existem entre formas diferentes de mídia ao mesmo tempo (por exemplo, O Matrix)–e sempre penso qualquer forma de mídia servirá melhor a estória e as jornadas dos personagens.

No painel que você participou na CCXP, você falou que tem um projeto que é voltado para o Brasil. Poderia adiantar alguma coisa?

Quero que a história se mantenha em segredo, mas posso revelar que ela irá falar muito de corrupção espiritual nas cidades e nas florestas, a força venenosa do capitalismo, e o retorno dos espíritos nativos meio-esquecidos. Quando morei em São Paulo, gostava de passar meus dias em Sebos, tentando ler e entender alguns livros antigos de lendas e folclores brasileiros. Mas agora, já falei demais.

Você chegou a conhecer algum quadrinho de artistas brasileiros durante a CCXP ou por esse período que está aqui no Brasil?

Encontrei os trabalhos de Marcelo D’Salete em 2011 quando fui convidado para a Rio Comic-Con, e neste ano peguei o livro novo, ANGOLA JANGA, na CCXP. As obras dele são importantes, representando a face afro-brasileira antiga (e moderna) que a mídia nacional prefere ignorar por uma fantasia de ser branco e rico. Conheci também os trabalhos do ilustrador Kako, e dos excelentes quadrinistas Georges Schall, Hector Lima e Felipe Cunha.

Durante a CCXP, conheci as obras de Psonha, de Felipe Castilho e de Tainan Rocha que gosto muito. O show foi gigantesco, e por isso não tive bastante tempo na Artists Alley para conhecer todos os animais mágicos de lá.

Painel do Dan Goldman na CCXP.

Você é um dos grandes nomes no mercado de webcomics.  Este segmento não é tanto explorado aqui no Brasil como acontece nos Estados Unidos; por exemplo, a primeira empresa de quadrinhos online, a Social Comics, só apareceu aqui tem dois anos. Com todo o avanço que a tecnologia deu, o mercado evoluiu bem ou ainda tem mais a crescer?

Hoje em dia, eu acho que “webcomics” é uma nomenclatura bem do passado. HQs digitais precisam ganhar um nome novo porque as tecnologias de touchscreen, realidade-aumentada (e virtual, ou misturada) estão crescendo agora, e HQs tem que fazer parte na evolução da forma.

Atualmente você está com um projeto muito bacana, que ainda é inédito no Brasil: Priya’s Shakti em parceria com Ram Devineni e Lina Srivastava. Trata de um assunto bem delicado que é a violência contra as mulheres na Índia. E você esteve naquele país. Quando Priya’s Shakti foi lançado na Índia, inicialmente teve alguma rejeição?

Na realidade, não. Mas eu fiquei nervoso na época – sendo o único não-indiano na nossa equipe – mas foi mais por isso. Durante meses, eu fiz uma investigação cultural para representar a cultura indiana, roupas e artes e deuses deles. Se a cara do meu trabalho fosse inautêntica, a missão do nosso projeto não serviria os jovens, o que era o nosso objetivo.

Felizmente, a primeira HQ foi lançada e rapidamente viralizou, saíram muitas notícias, quando nós fomos para a Índia, fizemos workshops com os jovens e fomos indicados com honras pela UN Women (ONU Mulheres). Nosso segundo livro também foi viral.

Cena de Priya’s Shakti.

Eu fiquei sabendo que cópias físicas de Priya’s Shakti foram distribuídas em escolas rurais na Índia para servirem de projeto piloto para criar consciência em crianças e jovens sobre o mal da violação e sobre como as vítimas de estupro são tratadas. Eu particularmente achei fantástico isso. Era o ponto que vocês queriam chegar ao criarem a HQ?

Absolutamente. Nossa equipe conversou durante nove meses antes de escrever o roteiro: sobre como montar esse projeto e de que forma poderíamos criar consciência nesses jovens. Não queremos apenas criar diversão… queremos transmitir a mensagem do ativismo no mundo real dentro dos quadrinhos.

Você sempre foi bem ligado em política, e isso reflete em alguns de seus trabalhos ao longo da carreira. Você deve estar sabendo do momento conturbado que vivemos aqui no Brasil. Acho que as sucessões de escândalos de nossos políticos dariam até boas HQs. Nos estados Unidos, como você enxerga o início da “Era Trump”? Rende alguma história?

Não quero criar uma obra só contra o Trump. Assuntos políticos são pústulas na pele. Seria mais poderoso montar uma obra contra a máquina global que ele faz. Isso é um câncer de ego e ganância que está infectando todas as nações do mundo. Trump e Temer e nacionalismo e racismo e sexismo são sintomas de problemas muito mais profundos.

Quais são os planos para 2018?

Quero salvar o mundo — e depois, vou dormir.

Para quem não pôde ir à CCXP e quer mais uma chance de comprar Imobiliária Sobrenatural e conseguir trocar um bom papo, na Ugra Press em São Paulo, vai rolar o Plot Day com participação de Dan Goldman, Felipe Castilho e Tainan Rocha (de Realezas Urbanas). Saiba mais sobre o evento AQUI.

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Espante os fantasmas e venda conosco! Conheça a Imobiliária Sobrenatural

Você tem uma casa que está assombrada por espíritos, aparições fantasmagóricas ou encostos bizarros? Você precisa vender/alugar o seu imóvel, mas o clima pesado que os fantasmas fazem no local atrapalham o seu negócio? Os seus problemas acabaram! É só entrar em contato com a Imobiliária Sobrenatural que eles têm a solução para o seu problema. Uma coisa: não ligue para o jeito do paranormal Jude Tobin de agir. Pode parecer estranho, mas é eficaz.

O Plot! Editorial, o selo de quadrinhos da editora Alto Astral está lançando no Brasil pela primeira vez Imobiliária Sobrenatural, escrito e desenhado por Dan Goldman, a obra foi indicada ao Eisner Award. Uma curiosidade é que o autor começou a produção do projeto quando ele estava morando em São Paulo em 2010. A HQ fala sobre uma firma familiar onde a especialidade é “limpar” as casas assombradas e colocá-las à venda por um valor mais abaixo do mercado.

O livro começa inocentemente com um anuncio da imobiliária. Aqui, os personagens são logo apresentados para o leitor: Jude é o fenomenologista, Cecília, sua esposa, é a corretora, Rhoda cuida da parte de empréstimos e Zoya é secretária e uma fotografa espiritual. Ainda temos completando o cast principal o pequeno Iuri, filho de Jude e Cecília. No anúncio passa a ideia de uma empresa bem familiar, onde todos se dão bem. Bem, quando se vira a página não é bem assim…

A realidade é bem mais dura do que o anúncio prega. A tensão entre os membros da empresa chega a saltar das páginas. Nosso protagonista é um misto de herói cansado com um fracassado de marca maior. As suas roupas lembram o típico perdedor que vemos em filmes americanos. Jude Tobin é um homem que está no seu limite e vive atormentado. Jude tem o dom de pode enxergar e comunicar com os fantasmas, e assim convencê-los a seguirem o seus caminhos divinos. Algumas vezes ele tem que ampliar o seu dom com uso de drogas pesadas ou ervas estranhas que deixam as páginas como uma viagem alucinógena como música dos anos 70. E as crises que se instalam na sua vida aumentarem o seu tormento.

Dan Goldman usa bem como plano de fundo o enredo das casas mal-assombradas para falar sobre crise. Na trama vemos crise no casamento de Jude e Cecília, crise no ramo imobiliário, crise de cotidiano, crise sexual, crise financeira… e Jude é a balança que tem que segurar todo esse peso sem deixar cair nada no chão. E ainda cuidar dos fantasmas. Até uma crise com o seu finado pai, que ele insiste em ter um relacionamento que nunca teve quando o velho era vivo, está nesse samba todo. E Goldman sabe tratar de cada coisa muito bem, colocando uma por cima da outra sem ficar confuso, deixando os personagens como boxeadores nas cordas só esperando o nocaute. E essa angustia passa para o leitor no decorrer da leitura.

Imobiliária Sobrenatural tem uma qualidade gráfica muito peculiar. Muitas vezes as fotos do mundo real servem de plano de fundo para uma cena, ou a arte é enquadrada dentro de um modelo 3D criado por Goldman. A arte foto realista impressiona quando mescla com os personagens, o sol de Miami também está lá, bem forte e vibrante, hora em tons amarelos, ora em tons avermelhados. Quase sendo um personagem constante da HQ.  As explosões de cores como nas entradas no mundo dos mortos são surreais. É boa parte da diversão da leitura. São momentos em que destoam dos quadrinhos tradicionais que estamos acostumados a ler. Os formatos dos layouts de páginas e das letras são incríveis e de fácil entendimento. Não tem aquilo de ficar meio que perdido na página, mesmo com tanta coisa acontecendo e colorido ao mesmo tempo. Os fantasmas são de uma cor meio amarelado-verde-vomito, mas que são prazerosos de se ver. E quando a página está em uma confusão ordenada de cores, Jude pode tropeçar, e as coisas voltam ao normal como um passe de mágica.

Imobiliária Sobrenatural é aquela leitura que te deixa com algumas perguntas no ar, mas ela também não se preocupa em te responder nada.  A HQ mostra um lado bem romântico e humano sobre a morte. Mesmo que não seja tão romântico assim. Ela preza que a morte na verdade é uma construção. Que está construindo a próxima etapa da sua alma. Apesar de todas as cores e do sol convidativo da Flórida, é uma história de humor negro que não é tão alegre. Pois tudo está morrendo. Como casamentos, negócios, relacionamentos… mas trata tudo de forma atraente e com grande desenvoltura.

Dan Goldman acertou em cheio em Imobiliária Sobrenatural em todos os aspectos. Seja nos personagens, nos dramas vividos por eles, nas mensagens que a HQ passa (mesmo não tendo nenhuma responsabilidade em passar) e nas artes fantásticas.

Imobiliária Sobrenatural tem o formato em 24 x 17 cm, 208 páginas e já se encontra em pré-venda. O seu lançamento oficial será durante a CCXP- Comic Con Experience, e terá a presença de Dan Goldman.

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O selo Plot! lançará Imobiliária Sobrenatural e Realezas Urbanas na CCXP

Em julho desse ano, a Editora Alto Astral, oficializou o lançamento do seu selo nacional de quadrinhos chamado de Plot! Editorial. De lá para cá os primeiros passos foram ousados e de qualidade ímpar. O debute foi com Peek a Boo – A Masmorra dos Coalas da Psonha e logo depois veio Kombi 95 do Thiago Ossostortos, duas produções nacionais que chegaram colocando o pé na porta, tanto no quesito da história como na qualidade das publicações.

Agora com a chegada da CCXP –Comic Com Experience, o Plot! Editorial mostra o que vai apresentar no evento. A coletânea brazuca Realezas Urbanas e Imobiliária Sobrenatural, que é o primeiro título estrangeiro do selo.

Realezas Urbanas mostra em três histórias, no mundo de hoje, em meio de reuniões de negócios e na correria da era moderna, as mais célebres princesas e rainhas dos contos de fadas. Que se misturam entre as multidões e ganham as ruas das cidades em fábulas modernas. A coletânea foi escrita por um time de respeito composto por Rebeca Prado, Bianca Nazari, Barbara Morais e Tainan Rocha.

Barbara e Tainan escreveram “Fio da Navalha” uma releitura de um conto de Charles Perrault, que conta sobre o desaparecimento de uma mulher e a desesperada busca que a sua irmã começa por ela. Rebeca Prado escreveu “Flor de Magnólia”, sobre uma mulher que tem um império em suas mãos, mas vive cercada de velhos paradigmas. Já Bianca Nazari em “Mar de Sonhos” fala das aventuras e desventuras das escolhas de uma garota do interior em meio ao mar de gente, oportunidades e loucuras de São Paulo.

Realezas Urbanas tem capa de Mika Takahashi, formato 17 x 24 cm, 64 páginas e o preço de capa de R$ 34,90.


Imobiliária Sobrenatural é escrito e ilustrado por Dan Goldman, que também estará na CCXP, fala sobre uma firma familiar no ramo imobiliário comandado pelo casal Jude e Cecília Tobin. A especialidade é livrar os imóveis dos espíritos e coisas fantasmagóricas. Assim eles “limpam” a casa com o preço bem abaixo do mercado. Isso na verdade é mais um plano de fundo para toda a trama em que ocorrem conflitos amorosos, financeiros e sobre o cotidiano dos personagens. A obra foi indicada ao Eisner Award, o Oscar dos quadrinhos.

Imobiliária Sobrenatural tem o formato 24 x 17 cm, 208 páginas e já se encontra em pré-venda na Amazon Brasil com desconto de 20%.