“E se o foguete que atravessou o universo com um bebê a bordo, caísse em uma fazenda coletiva da União Soviética ao invés da pacata Kansas…”
A Editora Panini confirmou que vai publicar um encadernado com os três volumes de Superman – Entre a Foice e o Martelo ainda em 2017. O anúncio caiu como uma bomba de felicidade para os leitores que há tempos esperam a republicação da minissérie escrita por Mark Millar em 2003.
“A ideia da história me passou pela cabeça na época que eu li Superman #300 quando anda era apenas uma criança” disse Millar na época do lançamento. “Era uma história imaginária onde o que aconteceria se o foguete do Superman tivesse caído em águas neutras entre EUA e a URSS e ambos os lados estavam correndo para reivindicar o bebê.”

A trama, muito mais do que conhecida, mostra um Superman criado na extinta União Soviética, doutrinado pelos ideais comunistas e que assume o poder máximo do partido com a morte de Stalin. Os Estados Unidos, com medo de serem dominados, contratam Lex Luthor, que é considerado o maior gênio do planeta para matar o Homem de Aço. Ambientado na Terra 30, Entre a Foice e o Martelo foi publicado pelo selo Túnel do Tempo e mostra as versões dos personagens da DC Comics como, por exemplo, Jimmy Olsen, como um espião da CIA, Lois Lane esposa Luthor, Batman é um radical anarquista que se opõe ao regime do Superman… aliás temos aqui um grande confronto entre os dois heróis.

O regime comunista do Superman se torna perfeito depois que ele começa a usar seus poderes para ajudar as pessoas do seu país, a característica nobre do personagem sempre presente, mas dessa vez, não com os valores políticos americanos, e acaba se tornando exemplo a ser seguido por todas as nações mundiais, o que acaba acontecendo, com exceção dos Estados Unidos e do Chile.
A visão apresentada por Mark Millar sobre comunismo e capitalismo exercido pelos americanos, revela os pontos positivos e negativos de cada modelo econômico deixando que o leitor pense sobre a nova versão geopolítica do mundo aplicada na história. Algo que reflete na política mundial, com as falácias e embates de Donald Trump e Kim Jong-Un, que a cada dia que passa flertam com uma nova Guerra Mundial. E por que não trazer uma “ponta” disso para o momento partidário aqui no Brasil.
Com tantas ideias de Direita e Esquerda, que pessoas defendem com unhas e dentes, assim como são defendidos também os “ídolos” construídos por redes sociais de cada, mas quando olhamos bem de perto percebemos altos e baixos em ambas. Entre a Foice e o Martelo é uma obra que rompe o tempo, e a ideia que ela propõe a torna bem atual em alguns momentos.
Millar fez uma importante pesquisa sobre história para escrever a obra. Os fatos, lugares, figuras históricas e principalmente não entregou uma União Soviética caricata, mas ao mesmo, de fácil entendimento para o leitor que seja mais leigo no assunto.

E a falta de poder mundial dos Estados Unidos é muito explorada na história também, quando Lex Luthor entra em cena para combater o Superman que é considerado uma ameaça. Os sucessivos fracassos acabam alimentando obsessão do cientista ao decorrer dos anos, o que afeta sua vida particular com sua esposa Lois Lane. As inúmeras tentativas de Luthor e dos EUA em se mostrarem uma nação forte, reflete a realidade de como o país lida em diversos pontos da política mundial, sempre indo contra aqueles que são considerados ameaças aos americanos. Mas uma bela sacada de Millar. A disputa entre o Homem do Amanhã e a Maior Mente da Terra, tem sua reviravolta quando Brainiac se envolve na história de forma magistral.
Entre a Foice e o Martelo tem tudo que uma boa história em quadrinhos precisa: um enredo forte, personagens bem construídos, uma mistura bem feita entre realidade/ficção e não perde o fato de ser história em quadrinhos. O final, surpreendente, lembra ao leitor que estamos lendo um gibi.
Superman – Entre a Foice e o Martelo, foi indicada para o Prêmio Eisner em 2004 e têm na sua equipe criativa, além de Mark Millar, artes de Dave Johnhon e Kilian Plunkett.