Para os telespectadores de produções televisivas, é compreensível sentir um misto de emoções quando sua série favorita está chegando ao fim e por conta disso, muita expectativa é criada para ver os desfechos dos personagens e se isto, será agridoce ou agradável. O primeiro é capaz de derrubar toda a trajetória do show e ficar na memória apenas a decepção causada (oi, Game of Thrones), enquanto o segundo traz um certo alívio e a sensação de missão cumprida. É neste quadro que se encaixa Big Little Lies.
Começo de forma merecida a rasgar seda para a maravilhosa Meryl Streep e sua interpretação fantástica como Mary Louise. Sua entrada na atual temporada foi magistral e pontual. A atriz conseguiu deixar o público com ódio diante de suas intenções para com os netos e sua acidez sempre presente nos diálogos com as Cinco de Monterey. Precisávamos de uma presença assim, que já contava com Nicole Kidman e Shailene Woodley. Aliás, outra atriz se destacou bastante: Zoë Kravitz.
Sendo a pessoa responsável por empurrar o Perry das escadas, vimos Bonnie apresentar todo o estresse após um evento tão traumático como este. Se na temporada anterior, só aparecia para trazer atrito com Madeline por conta da filha, aqui conseguimos acompanhar a sua evolução e como Zoë tem o bastante para oferecer quando o roteiro permite que a mesma receba a devida atenção. E isso foi catapultado com a chegada de sua mãe, abrindo desta forma, feridas que não tinham sido cicatrizadas completamente. Fico grato por ter presenciado uma atuação louvável, nada caricata para representar alguém com dor e precisando lidar com seus demônios internos.
Posso definir esta temporada numa única palavra: Provação. Assim como a Bonnie, as outras mulheres do grupo nomeado pelos moradores como Cinco de Monterey também precisaram lidar com difíceis lições e encontrarem forças para se reerguerem. No caso de Madeline, envolveu seu casamento que estava por um fio devido a descoberta de sua traição. Reese Witherspoon mostrou estar bem confortável neste papel desde o ano de estreia da série e nos acostumamos com sua personagem de forma que nos importamos com ela completamente.
Celeste foi simplesmente um fenômeno da natureza. Ao perder o marido, ela também se perdeu. Apesar de todo o abuso sofrido, ainda o considerava como esposo e amor de sua vida. O seu desgaste emocional foi ao limite com a possibilidade de perder seus filhos para a sogra. Com isso, fomos apresentados para a cena muito bem construída do julgamento. As atuações de Kidman e Streep foram os pontos altos nesse clímax.
Quando Corey entrou em sua vida como interesse romântico, Jane se sentiu mais uma vez claustrofóbica com a violência sexual sofrida e acompanhamos a partir disso, um processo de confiança que a mesma estabeleceu para ele até se sentir mais confortável com essa nova fase de sua vida. Confesso que na primeira temporada não imaginaria ver Woodley numa atuação exemplar e gostei de morder a língua. Sendo uma das minhas favoritas, foi bom vê-la se curtindo e permitindo-se. Desfecho melhor que esse não existe, não é mesmo?
Renata é Renata. Simples! Tantos adjetivos para defini-la, mas que nem dá para colocar em ordem. A socialite precisou lidar com a possibilidade de não poder mais viver sua rotina de poder e luxo. Não bastando esse pequeno detalhe, ainda descobre numa audiência pública ter sido traída. O que ela faz diante de tudo se desmoronando? Surta até cansar. Foi uma boa ideia colocá-la numa situação inimaginável, pois permite que Laura Dern mostre um lado que não tínhamos visto de Renata. Sem deixar o jeito cômico dela de ser, é claro.
Quando a cena final revela que estas personagens resolveram contar sobre a morte de Perry, temos o melhor desfecho que a equipe interna de Big Little Lies poderia entregar para os seus telespectadores. Não precisávamos saber as consequências da confissão. Prisão? Trabalho voluntário? Nunca saberemos, porém não importa. O final em aberto não causa frustração e sim, a sensação de missão cumprida.
Big Little Lies deixará saudades mesmo com vida curta, porém é melhor reconhecer o momento certo de finalizar uma história do que permanecer com ela e causar o temido desgaste gerador da grande frustração de seriadores quando sua série favorita chega ao fim.