Serial-Nerd

Stranger Things e a força cativante de Hawkins nessa quarta temporada

Escrito por Tassio Luan

[Texto atualizado com a segunda parte da temporada]

 

Acompanhar um elenco mirim ao longo dos anos numa mesma produção é carregada por um misto de emoções pelos fãs. Um exemplo claro disso foi a adaptação cinematográfica de Harry Potter. Foram 8 filmes acompanhando o crescimento dos atores, tanto físico quanto no que envolviam suas tramas. Enriquecendo ainda mais a mitologia da saga. Então, a maturidade seria o tom que define essa evolução diante de nossos olhos. Após três temporadas, eis que Stranger Things alcançou esse status maduro e o resultado foi além das expectativas.

O mundo perfeito da infância foi embora e no lugar entrou a melancolia da adolescência. Os personagens não são mais os mesmos que assistimos nos anos anteriores e essa energia da mudança foi composta de forma distinta. Eleven tentando sobreviver ao bicho-papão do ensino médio sem seus poderes (perdidos na reta final da terceira temporada). A mesma garota que enfrentou criaturas inconcebíveis para os habitantes de Hawkins, agora deixava a ansiedade dominá-la só de pensar na escola. O roteiro trouxe um acerto em devolvê-la ao chão com dramas que nós passamos na vida escolar: bullying foi um deles.

O gancho deixado anteriormente começou a ser desenvolvido aqui para o Will: sua orientação sexual. O jovem estava passando por um turbilhão na sua mente e não tinha ninguém que desse a mão e o guiasse para o melhor caminho do entendimento. Aonde o Filho Chora e a Mãe Não Vê é a expressão para defini-lo. Para mim, a interpretação de Noah Schnapp foi muito boa. O medo do julgamento e a dor de uma paixonite em segredo deixaram-no numa expressão mais melancólica até agora. Esse plot não teve um encerramento, então é possível que tenhamos um avanço em termos de sinceridade.

Max enfrentou o luto pela perda do Billy e tentou encontrar forças da melhor forma possível. Lucas viveu o dilema de largar sua vida nerd para entrar no maravilhoso mundo dos atletas. Já os outros jovens estavam vivendo o peso do relacionamento e outros nem tanto. Nancy e Jonathan não sabendo se comunicar. Enquanto Steve e Robin só querendo um mozão pra ficarem coladinhos.

Só que tudo isso foi esquecido quando uma nova ameaça surgiu para mostrar que nada será como antes. Assim como foi nessa primeira parte, deixarei os plots separados também. Para deixar mais divertido, será do regular ao excelente.

O núcleo do Will e cia. foi o que mais deixou a desejar nessa quarta temporada. A parte dramática envolvendo Eleven e Will, o ataque na casa e a aparição de Suzie foram os pontos relevantes. Sem a El, aí que o plot perdeu ainda mais o interesse. Fora isso, nenhum destaque que valha a pena ser mencionado. Argyle entraria como destaque cômico? Deixo essa para vocês.

Viva a Mãe Rússia! Com a revelação de que o amerrricano estava vivo, veio a curiosidade para saber como ele fugiria da prisão. Joyce e Murray provaram ser uma dupla bem dinâmica antes, e continuaram com esse mesmo clima gostoso de assistir. Só que deram uma deslizada na neve bonito em arrastar essa trama por óbvia conveniência.

Tinha tudo para ser ligeiro e jogar logo os personagens no caos de Hawkins mais uma vez, porém resolveram atrasá-los com traições, fuga frustrada e reencontro com um velho inimigo. Este último aceitei até como pedido de desculpas, uma vez que rendeu uma sequência bem sangrenta. A introdução de Tom Wlaschiha foi bacana e deu vontade de ver mais dele na segunda parte. Se não reconheceu o ator, Valar Morghulis para você!

Não tem jeito, né? Eddie foi o mais novo personagem de Hawkins que ganhou um espaço em nossos corações. Justo então que estivesse imerso no melhor núcleo. Os que permaneceram no bairro tiveram que se unir novamente após perceberem que o mal não tinha sumido completamente dali e iniciaram uma longa investigação para descobrir o que diabos estava acontecendo.

A trama foi tão fluída, interessante, gostosa e emocionante que esqueci completamente a longa duração dos 7 episódios imposta pela Netflix. Essa foi a força cativante de Hawkins, pois os personagens certos estavam onde deveriam ficar. A química foi tão consistente quanto antes. Queremos mais de Erica na equipe e sendo bastante afiada. A eloquência de Eddie e no aguardo do solo de guitarra na segunda parte. Queremos mais Max, Lucas, Dustin, Nancy, Robin e Steve, por favor.

Numa referência digna ao Freddy Krueger (inclusive, Robert Englund fez uma pontinha na série), o nosso vilão trouxe um lado mais sombrio e assustador para a trama. Até sua voz evoca bons arrepios nos diálogos e sua mitologia não deixou a desejar. Vecna passou uma vibe de último vilão, sendo assim questiono como será a quinta e última temporada caso ele seja derrotado.

Menção honrosa para a participação de Jamie Campbell na trama de Eleven após embarcar em sua própria jornada para deter Vecna. Sem dar muitos detalhes, só queria deixar pontuado como o ator deixou esse núcleo melhor. Assim como da Rússia, sofreu um certo arrasto para o bel prazer do roteiro. Só que até que valeu a pena esperar mais um pouquinho para o desfecho graças ao Jamie.

Apesar desses mínimos pontos negativos, o 4A de Stranger Things veio com um saldo bastante positivo. Tramas, referências e toda a nostalgia que a década de 1980 traz para quem curtiu essa época. Caso a qualidade continue na segunda parte, podemos esperar um excelente desfecho e um ótimo preparatório para a derradeira última temporada.

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A primeira parte da atual temporada de Stranger Things teve uma qualidade muito boa ao longo de seus sete episódios e por conta disso, deixou uma grande curiosidade sobre os eventos para os últimos episódios. Somando o fato que a produção prometeu um desfecho sangrento para a nossa turminha de Hawkins, os fãs criaram na cabeça uma narrativa de que o Finale poderia apresentar o mesmo toque de tragédia que tornou Game of Thrones num hit.

Mas será que essa narrativa teve o desejo atendido?

A expectativa de uma pessoa pode ser medida pelo grau do fator surpresa que a trama pode apresentar ao longo de uma temporada. Quanto mais surpresas, melhor. Então, quanto mais mortes melhor para o seu público? Ficariam satisfeitos de ver parte dos personagens principais morrendo? Chorariam? Xingariam? Enfim, são inúmeras variáveis para considerar nesse ponto. Só que devemos pensar na questão mais importante antes desse desenrolar: Os Irmãos Duffer teriam coragem de matar algum principal?

A decisão de matar o Eddie e deixar Max ”morta” foi uma quebra de expectativa pela galera que ansiava para o perigo mortal bater na porta daquela pessoa que estava na trama desde a primeira temporada. Os sinais estavam ali, certo? Parecia que perderíamos Steve a qualquer momento e Nancy ficou muito perto de se tornar a quarta vítima de Vecna, porém o roteiro pegou os dois no colo para proteger a todo custo.

Como uma tentativa de pedido de desculpas, usaram o personagem mais carismático que entrou na quarta temporada e para piorar, não foi uma morte inesperada. Estava tudo caminhando para aquele momento e a história de Eddie permitia esse sacrifício. Pela primeira vez na vida não estaria fugindo de algo. Estaria indo de encontro ao problema. Só que isso não quer dizer que sua morte não seria sentida. Eu senti e creio que muitos também tiveram a mesma sensação. Foi aquele misto de tristeza com a frustração de vê-lo sendo desperdiçado dessa forma. Imaginem o quanto ele poderia agregar na guerra que vai desabar na quinta temporada. E aquele solo de guitarra eternizou o Eddie para sempre em nossos corações.

O caso da Max foi ainda mais problemático e também inesperado. Ao menos para mim que não peguei esse spoiler, imaginei que ela conseguiria escapar tranquilamente daquele plano de invadir o covil do vilão. O flerte com a morte veio na primeira parte e retornar com a personagem como alvo ficou batido. Claro que era a solução para ter o foco direcionado e não precisar passar boa parte do episódio tendo que imaginar quem seria a quarta vítima. Running Up That Hill de Kate Bush tocou novamente e aconteceu numa das melhores sequências dessa reta final e trouxe todo o significado nessa despedida para a personagem. Assim como deixou mais empolgante a derrota, por ora, de Vecna.

A morte da quarta vítima foi concretizada, ou seja, o plano apocalíptico teve início. Só que quando Eleven a trouxe de volta, esse plano deu uma breve pausa. Causou apenas um terremoto e algumas mortes bem secundárias (Foi tarde, Jason). A sequência final revelou que o Mundo Invertido estava de fato em Hawkins. Isso significou a morte definitiva de Max naquele momento ou já estava morta antes? Apesar de terem sido covardes em seguir com essa condição do coma, conseguiram o objetivo de deixar os fãs teorizando sobre o desfecho dela. Enquanto isso, poderá ser chamada de Max de Schrödinger.

Vecna não morrendo deu aquele breve aceno aos filmes de terror onde o infame serial killer acaba sumindo e retorna depois para concluir seu plano. Com Hawkins sendo atacada por criaturas, o vilão dará um jeito de reunir suas forças novamente para liderar na destruição da cidade.

O plot de Will ganhou uma nova dimensão quando expressou o seu sentimento para com Mike, porém nas entrelinhas. O Noah conseguiu transmitir todo o sofrimento de um amor platônico e somando o fato desse medo de ser julgado pelos demais por ser gay. O personagem recolheu-se no seu casulo e passou a sofrer no escuro. Jonathan foi a mão necessária para colocá-lo um pouco na luz. Ele não precisou falar nada, pois a tentativa do choro no silêncio foi o suficiente para acender o alerta. A conversa deles na cozinha e trouxe um certo alívio pro Will. Seria o primeiro passo para assumir na próxima temporada? Veremos.

Apesar de umas decisões tortas em sua reta final, a quarta temporada de Stranger Things consolidou-se como uma das melhores até agora. Agora chegamos no início do fim e o destino de Hawkins está nas mãos dos bravos membros do Hellfire.

Nota: Ouro.  

P.s. 1: A sequência do deserto ficou do c******.

P.s. 2: Dr. Martin foi tarde.

P.s. 3: THIS IS MUSIC!

P.s. 4: Para quem ainda não conhece a música que a Max ouviu mil vezes:

Ainda não foram assistir? Vão antes que sintam aquele arrepio na nuca.

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Sobre o Autor

Tassio Luan

Biólogo. Explorador do horror cósmico e de universos desconhecidos.

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