Música Vitrola

Resenha | Villains – Queens of Stone Age

Escrito por Ricardo Ramos

“Todo mundo aqui vai dançar!”

No último dia 25/08 foi lançado oficialmente Villains, o novo disco do Queens of Stone Age. O sucessor do incrível …Live Clockwork (2013) chegou depois de uma extensiva campanha nas redes sociais com a massiva divulgação das (belas) artes do álbum por cidades da Europa e dos Estados Unidos.

Uma dessas campanhas um vídeo lançado em 14 de junho na página da banda onde o vocalista e líder Josh Homme é submetido a um teste de polígrafo e a medida que ele vai respondendo as perguntas, as suas mentiras vão confirmando os detalhes sobre o novo trabalho. A última pergunta do teste é: “Você gosta de dançar?”. Homme, com um tom de voz irônico responde: “Sim, eu gosto”, e pisca para a câmera.

Bem, Villains se trata de realmente isso. Dançar.

Com produção de Mark Ronson, famoso por trabalhar com Amy Winehouse, Adele, Bruno Mars, Robbie Williams, Lily Allen, Christina Aguilera entre outros artistas um tanto quanto distantes do estilo do Queen of Stone Age, mas que se tornou um belo casamento. O novo trabalho da banda tem um quê de dançante, remexe  com sonoridades, digamos, vintages, e ao mesmo tempo mantém a banda com um som atual.

As músicas brincam com elementos dos anos 60, 70, 80 e entrega um produto moderno e gostoso de ouvir. Algumas faixas, como “Feet Don’t Fail Me”, são três estilos de músicas diferentes, e que em momentos remetem (sem comparar, é claro) a David Bowie.

Os fãs mais antigos podem sentir falta dos diversos riffs hipnotizantes pesados tradicionais de trabalhos anteriores do grupo. Agora, o fator dominante é o groove, que corre solto durante praticamente todas as músicas de Villains, e diga-se de passagem, fez bem para os caras. A excelente música “Domesticade Animals” é um excelente exemplo de como o groove é importante nesse trabalho. Quando você pega um produtor, que está acostumado a trabalhar com artistas popstars que não são de arriscar muito em suas gravações, e compra a ideia da banda e ainda incrementa o bolo, tem resultados fantásticos.

Pode-se dizer também que a parceria entre Josh Homme com Iggy Pop ano passado (o vocalista produziu o ultimo disco Post Pop Depression) deu frutos. Ele deve ter escutado muitas conversas da lenda do punk com o Bowie durante os dias históricos que passaram em Berlim gravando o iconico The Idiot. Devem ter acentuado o gosto pelo retrô.

Mas não se engane que é um álbum de ode ao passado. As guitarras e o gingado do Queens of Stone Age ainda se encontram lá. “The Evil Has Landed” tem uma pitada de Led Zeppelin com riffs ferozes típicos do DNA da banda.  Já “The Way You Used to Do” traz a rockabilly onde são distribuidos riffs à vontade, dando um ar agitado, dançante e vivo para a canção. Ambas as canções vemos o dedo de Ronson na produção. Apesar da guitarra enfurecida de Troy Van Leeuwen, que sempre está em boa forma, ditar o ritmo e o destacado groove que sai do baixo de Michael Shuman, uma personagem estende a mão e coloca o ouvinte para dançar: a bateria de Jon Theodore. Frenética, enlouquecida e incendiária, o instrumento não soa como o normal e torna as músicas convidativas para “remexer as cadeiras”. O produtor deu uma importância peculiar para ela.

Entre as nove faixas, encontram-se as baladas “Fortress” e “Hideaway”  que dão uma cortada no ritmo de Villains, algo que parece até proposital. Já em “Un-reborn Again” apesar de ser meio cansativa, vale o destaque para o vocal de Homme, que interpreta a canção com variados tons. “Head Like A Haunted House” reencontramos a rockabilly depois de uma possível reformulação, em um riff rápido e mortal. E o encerramento com “Villains of Circunstance”, um tom intimista sobre um poema que fala sobre as coisas improváveis que acontecem na vida. Como o caminho é feito de vitórias e derrotas e nos apresenta diversos vilões das circunstâncias. Ela chega ser melancólica em alguns pontos, e dançante em outros.

Se você, lindo leitor(a), não conhece a carreira do Queens of Stone Age, e pedisse minha singela opinião, eu falaria que Villains não é um bom álbum para começar a ouvir os caras. O disco de estreia Queens of Stone Age (1998), Rated- R (2000), Songs for the Deaf (2002) ou o já citado aqui …Like Clockwork (2013) seriam melhores escolhas. Villains faz mais sentido para quem já conhece a banda e acaba sentindo essa “evolução” musical dançante proposta por eles e bem executada em vários pontos. Mas ao mesmo tempo, os fãs ardorosos da banda irão torcer o nariz para o recente trabalho. Sim, aquele papo de perder a identidade, não serem mais o que eram antes, flertando com o pop… ele nunca morre no rock.

 Mas se o Queens of Stone Age faz um Villains um trabalho marcante e sólido na carreira, e quer colocar a galera para dançar… bem, é melhor os headbangers deixarem o mal humor de lado e começar a se remexerem. E muito.

 

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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