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Resenha | Napping Princess: A Minha História Que Eu Não Conhecia

Escrito por Vini Leonardi

Publicado pela Editora NewPOP em setembro de 2019, esse volume único, além de uma leitura divertida e leve, é também um exemplar importante para o mercado, por ser uma excelente porta de entrada para o mundo das Light Novels.

Mas vamos começar do começo, e apresentar a obra: “roteiro” do filme de mesmo nome, que saiu em 2017 e foi pré-indicado ao Oscar de animação, a novel foi escrita pelo diretor Kenji Kamiyama (que você talvez conheça por ter dirigido, também, Ghost in the Shell Stand Alone Complex).

A história segue Kokone Morikawa, uma garota “caipira” que vive no interior do Japão com seu pai, o mecânico Momotarou. Com apenas três dias para a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Tóquio, o passado do pai de Kokone vem à tona da forma mais inesperada possível. Com isso, a garota se vê numa missão de salvá-lo de caras maus, tendo como arma apenas um tablet rachado e… As informações que ela consegue no mundo de seus sonhos.

O charme de uma Light Novel está em suas personagens, e o maior gosto de se ler uma série está em acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos protagonistas. Por conta disso, livros em volume único acabam sendo meio perigosos pois podem não dar tempo o suficiente para que você se importe com a personagem em questão.
Esse é um problema que eu não encontrei em Napping Princess: em poucas páginas, você já acaba se interessando por Kokone, já que ela é uma personagem tão… Como posso dizer? Intensa. Seja a sua versão do mundo “real” ou dos “sonhos“, ela está sempre fazendo algo, buscando algo. Não há um único minuto sequer pra parar e respirar.
Quer dizer, a menos que você feche o livro. Esse é um dos lados bons de livros né? Você pode parar pra respirar, se quiser.

Como essa imagem do filme mostra… A menina não para!

Para falar da história, acho que já posso ligar com o segundo ponto lá do parágrafo de introdução, sobre essa novel ser uma boa iniciação em Light Novels. De forma grosseira, podemos dizer que uma LN está no meio do caminho entre um Mangá e um Livro, e por causa disso, acaba afastando pessoas de ambos os extremos, com medo da semelhança com o outro lado.
E o que eu acredito é que Napping Princess poderia ajudar a trazer pessoas que gostam de livros de ficção, mas nunca se aventuraram em Light Novels, por serem “muito animê“. A história, mesmo se passando no Japão e dependendo de diversos clichês comuns da mídia, não soa como uma coisa “otaku“, por ter uma ambientação muito mais global.
Em 2020, apesar das iniciativas de guerra e de doenças fatais estarem tendo o maior foco nesse começo de ano, em breve voltaremos nossa atenção ao Japão, por conta das Olimpíadas. É um contexto onde as pessoas param de encarar o país como um “antro de otaquices” e provavelmente lembrarão que se trata de um lugar como qualquer outro. Justamente aqui que nossa história se passa, com todos os holofotes do mundo voltados para a pequena ilha asiática. Dessa forma, conseguimos apresentar, superficialmente, aquilo que você pode esperar de uma obra mais comum do gênero.

Inclusive, esse livro é genial por conseguir atrair pessoas de dois lados opostos da ficção, que normalmente nunca se encontram: aquelas que gostam de fantasia, e aquelas que preferem uma história mais realista. Tendo “dois núcleos” absurdamente diferentes, você pode se interessar mais por um do que por outro, e se divertir na parte que te agradar mais. Eu, por exemplo, fiquei muito intrigado com o mundo de Heartland no ínicio, enquanto as aventuras de Kokone no mundo real não me interessaram muito. Mas com o passar dos capítulos, me vi interessado mais com os acontecimentos de Tóquio do que do mundo fantasioso.

O último ponto que tenho a levantar sobre isso é a ausência de ilustrações. Uma das marcas registradas de Light Novels são seus desenhos internos, a maioria das vezes em “estilo mangá” (ou, como meu pai gosta de dizer, “que parece uns mangázinho“). É mais uma das características que acabam afastando potenciais leitores por passar a impressão de que o material é “muito animê“. Tirando a – belíssima, por sinal – ilustração de capa, não temos mais nada dentro, além de palavras: o miolo é praticamente um livro comum.
Isso pode assustar quem vem do mundo dos mangás, mas para quem está partindo do mundo dos livros, pode ser a bênção que eles precisavam.

Com toda essa baboseira de lado, vamos para a parte importante e o provável motivo de você estar aqui: vamos ser sommelier de lombada. O livro é no “Formato Pocket“, que a editora insistentemente lembra que não é um formato pocket pois é publicado assim no Japão. Dessa forma, você pode colocá-lo lado a lado com seus exemplares de Fate/Zero, No Game No Life, Toradora ou Shakugan no Shana, apenas para citar alguns de mesmo tamanho. Também segue a tendência recente, de vir com miolo em papel Polén Soft e capa cartonada, e se encerra com 246 páginas, fazendo-o não ser muito grosso. Honestamente, um belo exemplar para a sua estante.

Nas questões técnicas, eu devo dizer que não encontrei problemas com a versão nacional. A tão temida revisão da NewPOP vem melhorando nos últimos tempos, e nesse livro, me lembro de encontrar apenas um único erro que passou por ela. A adaptação e tradução também foram bem interessantes, optando por deixar o texto o mais “brasileiro” possível (sem honoríficos, com nomes na ordem ocidental, etc.) e colocando notas de rodapé apenas para conversões monetárias (afinal, ninguém é obrigado a saber quanto que dez mil ienes valem, né?). Foram escolhas que ajudam ainda mais a deixar o livro amigável para quem for marinheiro de primeira viagem.

Créditos da versão nacional.

No geral, uma leitura que não pesou no bolso e nem na cabeça, e que conseguiu me entreter por toda a sua duração. Recomendo a leitura para quem já está acostumado com Light Novels e para quem não está.

Se ficou interessado, você pode ter uma dessa só para você: a Light Novel está disponível e com desconto na loja da Amazon.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.