A aventura perdida de Douglas Adams (O Guia do Mochileiro das Galáxias), novelizada por Gareth Roberts, nos mostra uma incrível aventura do Quarto Doutor. E será o livro inaugural de uma série de resenhas de Doctor Who!
‘Doctor Who: Shada‘ foi o primeiro livro de Doctor Who a ser publicado no Brasil. Em 2014 a editora Suma de Letras anunciou que estaria lançando dois livros da série, sendo o primeiro deles a aventura perdida de Douglas Adams.
Antes de mais nada, deve-se saber que Shada é uma aventura perdida pois deveria ter sido um episódio da série clássica, ainda em 1979. Problemas com a produção impediram que este episódio fosse totalmente filmado, sendo abandonado no meio do caminho. Com o roteiro ainda preservado, a BBC acabou deixando a novelização a cargo de Gareth Roberts, que captou muito bem o tom da aventura.
Shada começa de uma forma despretensiosa. O Doutor (na época interpretado por Tom Baker, a quarta encarnação do personagem) e sua companheira Senhora do Tempo Romana II (interpretada na série por Lalla Ward), acompanhados de seu fiel câo-robô K-9, respondem a um pedido de socorro de um amigo chamado Professor Chronotis, na Universidade de Cambridge. Este Professor, que conveniente, nada mais é do que outro Senhor do Tempo (assim como o Doutor, do planeta Gallifrey), porém ele vem sofrendo de problemas de memória devido a sua idade muito avançada. O motivo da emergência: um livro desapareceu.
Chronotis estava na posse d’O Venerável e Ancestral Livro das Leis de Gallifrey, até um aluno da Universidade chamado Christopher Parsons levá-lo emprestado por engano antes da chegada da dupla de Senhores do Tempo. Isso dá início à busca do Livro, coordenada por Doutor, Romana e K-9, enquanto um outro ser enigmático (e antagonista da aventura) chamado Skagra também pretende obtê-lo com o objetivo de conquistar o universo.
Além de Christopher, uma garota chamada Clare Keightley também faz parte da história ativamente, sendo a dupla os ‘companheiros eventuais’ do Doutor, tão comuns no seriado. Skagra deseja obter o livro de Gallifrey pois ele é a chave para Shada, o grande mistério em torno da história. E o Doutor deve impedi-lo.
O roteiro transporta de maneira perfeita os trejeitos de todos os personagens da série. Presenciamos um Doutor bem-humorado, sarcástico e inteligente, uma Romana inteligente, forte e ao mesmo tempo delicada, um K-9 fiel e ativo, tudo exatamente como o seriado. E além dos recorrentes, o desenvolvimento de Chris e Clare, além do arco do vilão, também são muito bem escritos.
Gareth Roberts (e Douglas Adams antes dele, obviamente) narra tudo de uma maneira ágil, com um texto leve e capítulos curtos, sendo geralmente cada capítulo situado em um momento da história. Tudo pelo que os personagens passam não é previsível de forma alguma, fazendo com que você se surpreenda a cada página virada e se envolvendo ainda mais com o que está sendo contado ali. E o desfecho não só surpreende como é muito bom de todas as formas possíveis.
A editora Suma de Letras fez um trabalho primoroso de edição, tradução e revisão, tornando a marca de ‘primeiro livro de DW publicado no Brasil’ ainda mais memorável. O livro contém cerca de 338 páginas e foi publicado ao preço de R$ 39,90. Muito justo. O único pontinho negativo é a ausência de uma fonte mais caprichada na capa, como na edição estrangeira. Mas aí já é pedir muito.
Por mais que todos os elementos-chave da série estejam presentes, você não precisa necessariamente conhecer Doctor Who ou ter assistido algum episódio do Quarto Doutor para curtir o livro, apesar de ambos os fatores colaborarem bastante para total apreciamento da obra. Fãs de aventura, ficção-científica ou apenas um bom livro podem – e devem – ler tranquilamente. E, quem sabe, vir a se tornar fã da série, compondo um fandom que vem crescendo cada vez mais no Brasil.
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