Japonês é um povo estranho. Até quando falamos sobre coisas que já são estranhas normalmente, eles conseguem se superar e torná-las piores do que você podia imaginar. E o tema “Joguinhos online” é algo que claramente se encaixa nessa descrição. Sério, vocês já viram KanColle? Aquilo é bizarro demais.
Só que hoje, o Primeiras Impressões vai falar sobre um fato que só poderia ter sido desmentido numa obra de ficção vinda da Terra do Sol Nascente. Como tudo vindo de lá, o extenso e quase cansativo nome, Netoge no Yome wa Onnanoko ja Nai to Omotta? serve como uma sinopse para o show: “E você pensou que não existiam garotas na internet?“.
Primeiramente eu queria comentar sobre a ambientação do jogo. Ou melhor, a representação da representação do jogo no anime. Ficou meio confuso? Enfim:
Eles estão jogando um bagulho bem simples. Joguinho 2D, com habilidades clicáveis e tal, no melhor estilo Tibia ou Ragnarok Online (Inclusive, a cidade principal do jogo é extremamente parecida com Prontera, a capital do reino de Ragnarok…). Mas quando as cenas se passam dentro do jogo, somos levados pra um ambiente imersivo completo: O traço sofre uma leve alteração para um padrão mais pincelado; as imagens de fundo se tornam menos detalhadas, dando maior destaque para os personagens; o movimento parece mais fluido, devido as cenas de ação… Para, logo em seguida, voltarmos para o quarto do protagonista, e lembrarmos que o jogo é 2D baseado em Sprites, quando olhamos pro monitor do garoto. Isso torna os momentos online muito mais interessantes e visualmente agradáveis do que seria se ficássemos na câmera real o tempo inteiro.
Esse aspecto de MMORPG, que tem sido, nos últimos anos, uma mídia muito utilizada na cultura japonesa no geral (Não consigo lembrar da última temporada que NÃO teve algum anime com ambientação completa ou alguma relação com jogos), não permite meios termos. É algo que, obrigatoriamente, acaba sendo extremamente positivo ou demasiadamente negativo. Exemplos negativos, temos aos montes por ai (olá, Sword Art Online!), mas é difícil encontrar um positivo (que não seja Log Horizon)… Mas Netoge parece estar caminhando para o lado certo.
Assim, não me levem a mal, mas eu sou um cara que joga muito no PC. Devido a isso, eu tenho um conhecimento, no mínimo, ‘satisfatório’ sobre como MMORPGs funcionam. E alguns animes conseguem me ofender com a forma que eles retratam os aspectos do jogo (Até hoje alguém já entendeu como funcionam as lutinhas em SAO? Aquilo não faz sentido nenhum). Não é o caso de Netoge. O autor realmente sabe o que é e como funciona o sub-mundo dos malditos joguinhos de computador que sugam as suas almas.
Isso é um ponto positivo, por retratar de forma mais fiel (na medida do possível) a real ambientação de um jogo online. Eles utilizam um sistema e formação de combate que faz sentido; botam a culpa no healer quando alguém morre; reclamam quando o tanque puxa mais mobs do que o grupo pode aguentar; usam uma linguagem típica de jogos, com termos que você vê com frequência no Reddit…
Por outro lado, pode acabar não sendo tão apelativo ou engraçado para alguém que não seja chegado ou não conheça muito sobre joguinhos, como eu já comentei num outro post.

Mas chega de falar do jogo, e vamos falar sobre a vida real. Digo… Você consegue diferenciar os dois… Né?
O tema primário (ou a premissa) do anime beira a genialidade por misturar uma verdade absoluta com uma situação extremamente improvável. Esse contraste de real e inimaginável é um excelente mote pra comédia. E comédia é o objetivo do show. É óbvio que não existem mulheres na internet, mas quem iria imaginar que aquela garota que dá em cima de você online não é um velho barbudo brincando de shemale pra ganhar itens?
Acontece que isso é uma piada descartável. Você usa uma vez e ela não pode ser reutilizada. É ai que precisa entrar o tema secundário (ou o desenvolvimento) nem-tão-genial-assim. ‘Garota que vive no mundo da lua e não se toca das besteiras que faz‘ é um tópico bem batido e que eu consigo citar uns três que o usam só de cabeça. Não desmerecendo o uso do tema, que inclusive achei muito bem utilizado, mas é bom lembrar que já fizeram isso outras duas mil vezes antes.

O elenco de personagens foi muito bem construído em apenas dois episódios. Todos os protagonistas tem um design marcante (menos o rapaz, pois como já apontei diversas vezes, eles sempre são genéricos. Mas mesmo ele, em sua forma online, consegue ter seu charme), e uma personalidade bem definida. Desde o início, já é possível entender como eles funcionam e para onde eles estão indo, coisa que muitos animes demoram séculos para conseguir. Isso quando conseguem.
Inclusive, a garota principal, Ako, é simplesmente fofa demais. Meu deus do céu, como o Japão consegue fazer personagens tão bonitinhos e que dão vontade de apertar ai que cuticuti meu deus…
Er, digo…
Então, uma conclusão seria que é um anime extremamente engraçado se você gosta de MMORPGs no geral, mas tem uma comédia apenas mediana caso não goste. É um anime que tem bons traços e boa animação, com personagens bacanas e de personalidade forte logo de cara. E também é um anime que sabe como um jogo funciona e entende o que mecânicas como “Aggro” são.
Tipo, sério. Cêis tão ligados que um jogo que não tem Aggro não funciona né? Na moral, não façam jogos sem Aggro.

Eu costumo dizer que tenho um sistema de notas especial apenas para comédias, e Netoge ficará com um belo 9/10 no meu Comedômetro até o momento que eu tiver saco de ir atualizar o meu My Anime List outra vez.
A série pode ser assistida na Funimation, caso a barreira idiomática não seja um problema. Caso seja, algum beco escuro da internet pode servir.
