Depois de praticamente três anos de espera, finalmente tivemos a possibilidade de assistir ao tão aguardado e prometido, “Os Novos Mutantes”, que tentou trazer os filmes de heróis para o tão amado terror. Josh Boone (A Culpa é das Estrelas) dirige o longa, e traz a construção de personagens adolescentes nessa trama, cada um sendo bem diferente um do outro.
Para começar, o filme passa longe de ser um terror de fato, ele tem suas cenas mais voltadas ao susto e de mostrar o trauma de cada personagem, e isso chega a ser o máximo. Para pessoas mais velhas, essas cenas provavelmente não causarão o mesmo efeito como em alguém mais jovem, o que foi pensado pelo diretor; é como aquele filme de quando você é criança e tem uma cena estranha que te marca para sempre? Sinceramente, essa abordagem mais leve de terror consegue se encaixar no tom do longa, mas talvez algo mais pesado e voltado para um público adulto seria melhor para uma inovação no gênero de heróis, e para o próprio filme.
A melhor parte do filme se dá pelas personagens, cada uma cativa um tipo de espectador. Na trama, a protagonista é Dani Moonstar (Blu Hunt), que é uma garota tímida e que não controla seus poderes, ela tem um ótimo amadurecimento ao longo da história, e tem uma química natural e bem construída com a personagem da Maisie Willians, Lupina. Quem rouba a cena é a Illyana Rasputin, interpretada pela Anya Taylor-Joy, que tem uma as personalidades mais fortes do longa e provavelmente a melhor atuação; seria ótimo poder explorar mais essa personagem que foi tão bem adaptada. Já o polêmico Roberto da Costa, interpretado pelo brasileiro Henry Zaga, não tem muito fogo para seu personagem, que mais serve como alívio cômico. Comparando seu personagem dos quadrinhos com o do filme, ele realmente foi bem deturpado e com uma origem de superpoderes bem inferior em peso dramático, mas consegue se encaixar no elenco. Charlie Heaton também é um pouco mais apagado, porém, traz um personagem forte e provavelmente o mais dramático, ele também atua muito bem. E para finalizar, temos a Alice Braga como uma cara misteriosa para os mutantes, e faz isso com maestria, você nunca sabe o que esperar dela e quais são suas motivações, encaixou perfeitamente.
Comentando mais sobre a história do filme e seu roteiro, é algo mais difícil. A história se passa no mesmo universo de Logan (2017), e vemos referências incríveis ao universo perdido dos X-men, mas o problema vem na duração. O longa tem aproximadamente uma hora e quarenta de duração, e isso dificulta um pouco o desenvolvimento, e também a falta de atenção dos estúdios da FOX trouxeram mais complicações nisso, tem muitos pontos desse filme que poderiam ter sido explorados com uma maior profundidade e cuidado, mas acabou sendo deixado de lado. A história é simples, mas te engata e vai crescendo de forma harmônica, alguns diálogos são fracos, e alguns bem pesados (como comentários fazendo piada com abuso e alguns apelidos racistas, o que é péssimo, e que podem afetar espectadores mais sensíveis). Mas de resto, é bem divertido de se assistir e ver como a história se desenrola. Muitos momentos dão a impressão de um filme adolescente, como mencionado anteriormente, e isso traz elementos ótimos para a maior apreciação e conexão com os quase-heróis. Um ponto que merece palmas nesse filme, é por ser o primeiro longa de super-heróis com um beijo LGBTQI+.
Comentando as partes técnicas, agora fica um pouco mais difícil do filme se segurar. A montagem é muito estranha, vemos como os dias se passam com praticamente o mesmo corte várias cenas seguidas, o problema é que, além de uma sensação estranha na edição, é claramente visível um erro de continuidade durante essas transições. Em sua fotografia, também não há um charme como em produções mais recentes, ela é bem simples, mas se arriscasse mais na coloração e movimentações diferentes, seria uma ótima adição à experiência. No termo de efeitos, durante o início e meio, eles são bem mais simples e lembram algo como efeitos usados em séries, mas o final do filme é um espetáculo de efeitos para todos os cantos, que trazem cenas de luta que são um dos maiores pontos fortes do longa. Mas para atrapalhar essa imersão, a trilha-sonora do longa é abafada no processo, algo que é triste, já que ela é muito boa, às vezes parece que ela nem está lá de tão baixa.
Concluindo, ‘Os Novos Mutantes’ é uma experiência divertida e que rende um bom entretenimento, mas tinha potencial para muito, muito mais. Talvez a culpa dessa falta de qualidade deva ser por conta do estúdio, a aquisição da FOX pela Disney, vários adiamentos, orçamento muito baixo e falta de regravações fizeram os erros desse filme se destacarem. Se houvesse um período de rever gravações, roteiro, uma edição mais firme e provavelmente uma direção com mais liberdade, esse filme se tornasse tudo aquilo que ele prometeu. O futuro dos mutantes é incerto, e provavelmente pessimista, mas seria de bom grado ver alguns desses personagens voltando em um futuro, quem sabe, não vemos a Illyana em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura? Sonhar não custa nada. Para os fãs que esperavam ansiosamente para esse filme, podem se decepcionar um pouco, mas devem sair satisfeitos e felizes de finalmente poderem assistir.
Nota: 2,5/5
‘Os Novos Mutantes’ estreou em 22 de outubro de 2020 nos cinemas brasileiros. Caso vá assistir nos cinemas, cuide-se do novo COVID-19, verificando as orientações de higienes sanitárias vigentes em sua região.