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O poder da oratória em Judas e o Messias Negro

Escrito por Tassio Luan

Oratória é a arte de falar em público de forma estruturada e deliberada, com a intenção de informar, influenciar, ou entreter os ouvintes. A oratória refere-se ao conjunto de regras e técnicas adequadas para produzir e apresentar um discurso e apurar as qualidades pessoais do orador.

Grandes figuras históricas tinham como principal característica o dom da oratória e como consequência, arrastavam multidões em seus encontros e conseguiram influenciar toda uma massa com discursos memoráveis que reverberam até hoje em nossa sociedade. Por conta disso, é essencial que essas histórias continuem sendo contadas para o grande público para conhecer mais a fundo sobre os principais ideais que montaram esses movimentos sociais.

Estamos em 2021 sob o eco do importante Black Lives Matter (BLM), que voltou com força no ano passado com a morte de George Floyd após uma abordagem policial. Judas e o Messias Negro veio com esse propósito de trazer a voz potente e revolucionária de Fred Hampton na década de 1960 como o líder dos Panteras Negras. Afinal, a oratória de Fred era realmente potente como de Malcolm X e Martin Luther King?

Daniel Kaluuya (Corra! e Pantera Negra) se destacou como um gigante na multidão numa interpretação fantástica no papel do líder deste movimento e o reflexo disso veio com a sua vitória ao receber a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante na premiação do Oscar do último domingo (25). O ator conseguiu transmitir uma energia poderosa em cada discurso dado ao longo do filme e você conseguia perceber como a sua voz chegava para todos na mesma potência.

A cena do auditório já próximo do final representou bem esse poder de falar com o público de uma forma que todos compreendessem. Esse é um bom orador. Fred conseguia repassar a sua mensagem para o público presente. Seu discurso é bastante inflamado e conquistador. Sua lábia é excelente e envolvente. Você quer estar ali e ouvir, quer participar e agir também. O título do longa não está ali de bobeira, pois realmente tem um Messias Negro. É como se estivéssemos numa igreja ouvindo a palavra do pastor e ficamos admirados com suas palavras fortes. Ninguém quer tapinhas nas costas. Muito pelo contrário, a mensagem só possui o efeito desejado quando é feito para te causar reflexão e indignação sobre tudo que acontece ao nosso redor. Coincidência, né?

Bill O’Neal é o nosso Judas ao se infiltrar nos Panteras Negras para espionar todo o movimento planejado pelo grupo. Lakeith Stanfield também teve uma atuação notável, porém faltou um melhor aproveitamento no que diz respeito na forma de seu personagem verbalizar algumas coisas. Apenas um mero detalhe que não atrapalha totalmente no desenvolvimento deste infiltrado. Suas expressões são os pontos fortes.

O núcleo do FBI é bem aproveitado, uma vez que a agência se tornou a grande antagonista deste movimento e tentaram minar suas ações. Bill foi o Cavalo de Troia nesse plano e sua dinâmica com Roy Mitchell (Jesse Plemons) segue o filme de forma fluída. Quem merece também o reconhecimento é Martin Sheen irreconhecível como o J. Edgar Hoover. Assim como Hampton, o diretor do FBI possui um discurso inflamado e potente. Sendo um excelente orador e tendo como a sua plateia seus agentes. Seu poder aqui é convencê-los do perigo de ter esse grupo solto por aí. Funciona muito bem.

Judas e o Messias Negro foi composto por produtores negros: Shaka King, Charles D. King e Ryan Coogler (Pantera Negra). A direção de Shaka não deixou a peteca cair e o roteiro não ficou para trás. Ele foi bem desenvolvido para contar a história real dos Panteras Negras e toda a articulação de Bill até o assassinato de Fred. Quer saber mais sobre? Leia aqui .

Nota: Diamante 

E aqui me despeço. Espero que tenham gostado do texto e fiquem ligados para mais críticas dos principais filmes desse atual Oscar.

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Sobre o Autor

Tassio Luan

Biólogo. Explorador do horror cósmico e de universos desconhecidos.