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O devaneio do ‘pós-terror’, um movimento falso ou revolucionário?

Ao passar dos anos, os filmes de terror tem ganhado sua notoriedade. Corra! (2017) foi o primeiro longa do gênero à ganhar um Oscar. Temos o mais novo projeto do Robert Eggers, The Lighthouse (2019), que foi o vencedor no prêmio da crítica em Cannes, o festival mais importante de cinema. Com toda essa transformação no mundo do horror, o crítico do The Guardian, Steve Rose, criou um ‘movimento’ para a nova onda de filmes: O tão comentado “Pós-terror”.

Segundo Rose, o movimento é classificado como filmes de terror que saem do habitual. Sem os famosos jump-scares que grandes franquias usam (Invocação do Mal), sem litros de sangue sendo jorrados; sem ter os mesmos clichês e subvertendo o que o gênero estava saturando. Trazendo histórias e questões profundas como racismo (Corra!), a culpa religiosa (A Bruxa), a dor e o luto (A Ghost Story), desigualdade (As Boas Maneiras) entre outros. Porém, o problema da existência disso já começa daqui. Para entendermos e criarmos uma concepção sobre ‘o que é o terror?’, precisamos dialogar e falar sobre os subgêneros que esses filmes carregam.

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Desde o primeiro filme em curta metragem de terror, Le Manoir du Diable (1896), ganhávamos o gênero que viria se tornar um dos maiores e mais produzidos no cinema. Para se desenvolver e criar novas formas de assustar o público, o horror ganhou suas vertentes, e para decidirmos o que é o ‘pós-terror’ e entendermos se o argumento de Rose tem coerência, temos de analisar cada um:

• Físico (ou gore)
O gênero que é o mais difícil de ser visto por pessoas sensíveis por conter muito gore (violência, desmembramento explícito, canibalismo e etc). É um tipo de horror que vai lhe causar nojo e que necessita de muito sangue, muita violência visual, e isso não é necessariamente ruim. Filmes que se destacam nesse tipo de longa são Jogos Mortais e A Serbian Film.

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• Monstros
Drácula, Frankenstein, Lobisomem, Homem-Invisível, Godzilla, os mais icônicos nomes dos monstros do cinema. Durante a época de 20 até 60, a maioria dos longas eram sobre as monstruosidades, e todos tinham uma história moral e até profunda, dialogando com dualidade, guerra e outros assuntos. Dois memoráveis nomes desse tipo de longa são Cloverfield e Nosferatu (que receberá um remake dirigido por Robert Eggers).

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Assassinos (e Slasher)
Jason, Freddy Krueger e Michael Myers, chegou a hora de vocês! Utilizando dos subgêneros físico e psicológico, filmes desse tipo costumam brincar com a mente   dos protagonistas, apresentando assassinos frios e que são implacáveis, cometendo massacres usando armas brancas e deixando corpos por onde vão. Violência  gráfica aos montes e um terror para deixar tanto o espectador quanto os personagens totalmente aflitos. Grandes nomes desse gênero são Halloween e Chuck – O  Brinquedo Assassino, ambos receberam filmes na atual década.

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• Sobrenatural
Provavelmente um dos gêneros mais ricos da lista, podendo contar com seus vários tipos: bruxas, fantasmas, casas mal assombradas, found footage (que também pode ser encontrado nos outros subgêneros), e vários outros. Quando se fala de terror, o sobrenatural é o que simboliza tudo isso, e também o gênero que mais se popularizou em blockbusters, mantendo franquias, séries e bilheterias exorbitantes. Longas que marcaram e definiram o que é o sobrenatural no cinema são Atividade Paranormal e Invocação do Mal. Também podemos citar de um dos maiores e mais assustadores filmes dessa linha, O Exorcista.

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Psicológico
Ansiedade, calafrios, apreensão, tudo isso misturado em um filme para brincar com a sua concepção de verdade e mentalidade. Se os filmes destacados por Steve Rose como pós-terror tivessem que ser um subgênero, todos se encaixariam nesse. Com enredos extremamente bem trabalhados, histórias que tiram a zona de conforto de quem assiste, suspense e uma pitada de arthouse. Provavelmente esse é o gênero com mais filmes consagrados pela crítica e prêmios. Babadook, It – A Coisa, A Bruxa, Corra!, Eraserhead, O Iluminado, Suspiria e vários outros se destacam por seu diferencial e por serem ótimos filmes que constroem esse subgênero de ouro.


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Agora temos em mente os principais vertentes dessa longa história do terror no cinema, finalmente podemos dialogar. Com base no que sabemos, os gêneros podem se misturar, como A Bruxa ter elementos de um terror psicológico junto com o sobrenatural, e não há problema algum com isso. Agora, precisamos entender o que levou o crítico a usar o termo ‘pós-terror’.

Quando utilizamos a palavra ‘pós’ em qualquer coisa, significa que essa coisa está saindo do que seria tradicional, como por exemplo, pós-rock: Esse movimento se deu quando o gênero do rock se tornou algo mais experimental, bem distante daquilo que se ouvia na época de 1980. Geralmente, as bandas desse movimento são mais instrumentais do que vocais, mais uma diferença do tradicional. E pensando no contexto do ‘pós-terror’, o que Ao Cair Da Noite (2017), filme citado por Steve Rose, trás de novo? Já existem muitos filmes sobre grupos tentando sobreviver em cenários pós-apocalípticos. A Bruxa, Corra! e A Ghost Story trazem novas histórias, mas isso não significa que isso o torna revolucionário ao ponto de criar um movimento. Os elementos de cada subgênero ainda estão empregados neles, a tensão do Psicológico, o Sobrenatural, e o Assassino.

Temos as visões e os traços autorais de cada diretor nesses filmes, mas também não é algo que muda no terror, temos isso em filmes bem mais antigos, como em O Bebê de Rosemary. Um fato tanto curioso de se analisar, é que na matéria feita por Rose, ele apenas cita filmes mais puxados ao psicológico, e o que isso tem a dizer sobre o pós-terror? Uma classificação que exclui e que inferioriza.

Você diria que Halloween é ruim? Ou que Atividade Paranormal não deu uma nova visão do terror para o cinema? Pois bem, é exatamente isso que essa falsa ideia promove. É a mesma coisa que inferiorizar o gênero inteiro do terror e falar “Olhem! Agora os filmes de terror são bons, então vamos colocar um nome de pós e pronto. A partir de agora tudo é ótimo!”. No terror, temos espaço para falar de monstros gigantes, assassinos e também criar uma história menos convencional. Ao falar que um filme mais artístico, fora do convencional não é terror, e sim pós a isso, é como dizer que ser chamado de terror é um insulto, como se o gênero fosse falho. Cada tipo de filme, cada tipo de gênero merece sua atenção, artístico ou não, todos podem ter sua importante para moldar o que de fato define o que é terror.

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Em conclusão: Não, ‘pós-terror’ não existe, o terror não mudou nada nos últimos anos. E não merece ser difamado por conta dos novos longas e novas visões. Fãs sabem que um bom filme, sendo de qualquer subgênero, é terror e ponto. Devemos respeitar os clássicos, aprender com eles, toda essa abordagem de histórias complexas, enredos bem construídos e a questão artística já está desde o inicio dos primeiros longas. Agora, é aguardar mais e criar esperanças para que o terror continue sendo muito bem trabalhado, admirado e expandido.

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Sobre o Autor

Eduardo Kuntz Fazolin

"I dwell in Possibility" -Emily Dickinson

Graduado em Produção Audiovisual pela FAPCOM, amante de música estranha e gosto controverso para video-games. Meu amor em escrever sobre tudo isso, é o mesmo amor que Kanye sente por Kanye.