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Evil Eye (2020): A história se apoia num conceito religioso para abordar relacionamento abusivo

Escrito por Tassio Luan

Reencarnação é o processo pelo qual o espírito, estruturando um corpo físico, retorna, periodicamente, ao polissistema material. Esse processo tem como objetivo, ao propiciar vivência de conhecimentos, auxiliar o espírito reencarnante a evoluir.

      –  Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas.

Neste mês de outubro, Amazon Studios junto com Blumhouse Productions lançou sua antologia de filmes formada por: The Lie, Black Box, Nocturne e Evil Eye. Estou aqui para falar brevemente deste último. Afinal, do que se trata esse filme e qual motivo comecei o texto usando uma definição sobre reencarnação? Pois bem, eu explico. A trama mostra a grande preocupação de Usha Kharti quando sua filha, Pallavi, começa a se relacionar com Sandeep. O roteiro resolve fugir do padrão e resolve adicionar esse elemento religioso para trazer mais suspense. Mas e aí, será que deu certo?

O que chama atenção no roteiro é a forma como ele vai lidando com a superstição de Usha, seja no bracelete para combater o mau-olhado ou o mapa astral guardado na gaveta servindo como principal apoio para conhecer os prováveis genros. São coisas simples que vão tomando uma nova proporção aqui. A proteção consegue beirar ao exagero que chega a criar uma atmosfera claustrofóbica para Pallavi e conseguimos sentir esse peso no decorrer da trama.

Usha passou por uma relação abusiva quando era mais jovem e por causa do trauma gerado, ela adotou um sistema rígido para sua filha com potenciais caras para seguir num relacionamento, porém nunca dava o fruto esperado devido a resistência de Pallavi em se acostumar com essa política adotada. O longa não demora muito para apresentar Sandeep e tudo segue bem até algumas coincidências começarem a incomodar essa mãe já bem protetora.

Conforme Usha vai se fechando sobre o avanço bem rápido da relação do casal, o roteiro brinca com os telespectadores sobre a consequência disso. Estamos lidando com um caso de reencarnação ou é apenas fruto da imaginação de uma mãe zelosa? O suspense acaba sendo arrastado até termos uma resposta definitiva sobre a situação, mas foi bem trabalhado. Não tem sustos ou qualquer elemento de horror que te faça pular do sofá, mas a tensão consegue te prender positivamente.

Fica notável como o plot da reencarnação é apenas um pano de fundo para lidar com o assunto delicado da violência doméstica, porém que precisa ser discutido. A ideia de reviver o horror no passado através de um corpo reencarnado é apenas a triste analogia do parceiro não saber lidar com um término, por exemplo, e começar a perseguir constantemente sua ex-parceira por não aceitar essa condição imposta. O terror psicológico que pode ocasionar um fim trágico para a mulher, como quase ocorreu com Usha. Isso é exemplificado no decorrer do filme, o que acaba enriquecendo bastante o debate.

Deixo abaixo o trailer de Evil Eye para atiçar a curiosidade:

Então, envolver religião com relacionamento abusivo deu certo? Deu. Poderia ter dado muito errado, mas o filme conseguiu conduzir bem e como mencionado anteriormente, o assunto religioso foi apenas um coadjuvante para o verdadeiro protagonista na história. Poderia ter sido apenas um filme direto em sua proposta de debater o assunto? Claro que poderia, mas o charme foi exatamente apresentar um pouco desse realismo fantástico. Porém, vale lembrar que a violência doméstica não foi minimizada em nenhum momento.

E dessa forma, me despeço. Que eu tenha conseguido convencê-los a dar uma chance para Evil Eye. Para finalizar: Não se calem. Denunciem! 

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Sobre o Autor

Tassio Luan

Biólogo. Explorador do horror cósmico e de universos desconhecidos.