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Entrespaço | A arte de repensar a nossa vida

Escrito por Ricardo Ramos

“Mas, sinceramente, valeu a pena? Grande merda, passar por anos de estudos, testes, simulações, se você mal tem a chance de apreciar as estrelas. Caras, vocês foderam com tudo espetacularmente.”

Todos nós temos um sonho. Muitos perseguem para realiza-los. Alguns deixam pelo caminho. E quando você finalmente realiza, mas as pessoas o fazem parecer banal, simples como se não fosse nada de mais? Essa é a principal bandeira de Entrespaço de Daniel de Sousa. Transvestida na trama de um Astronauta, a HQ faz você pensar na vida. No que você realizou no que pode realizar, se valeu a pena todo o esforço e se deixamos as influencias de fora diminuir o que você realizou.

Desenhada e escrita por Daniel de Sousa a partir de um conto que o autor fez em 2011, a trama de Entrespaço, tem a Lua como cenário, um Astronauta precisa recuperar um aparelho perdido no velho satélite. O personagem então começa a pensar e refletir sobre como lutou para chegar até ali, sobre a sociedade como um todo, como somos marionetes para algumas pessoas e de como depois de realizarmos nossos sonhos somos simplificados pelas pessoas.

Um dos pontos fortes de Entrespaço é a arte. Quando o Astronauta se vê sozinho refletindo sobre a vida, Daniel usa bem o fator imensidão espacial para demonstrar como nesses momentos estamos sós. Vou dar um exemplo básico: quando você está na sua cama, antes de dormir e pensa na sua vida, naquela oportunidade que perdeu, no que deixou de fazer, ou aquela vitória que teve. É um momento solitário. É um momento em que você está em intimidade com seus pensamentos. Sozinho. Como se estivesse no espaço.

Eu conheci Entrespaço pelo Twitter (podem seguir o autor no @bomdiavermes )quando ainda estava sendo concebida pelo Daniel. O autor vira e mexe postava artes da HQ e era uma coisa mais linda do que a outra. Logo em seguida veio à campanha vitoriosa no Catarse e, finalmente, o grande lançamento durante o FIQ deste ano. Apoiei a campanha mas não tive como ir ao festival, e daqui de casa, lia os relatos de quem já tinha “consumido” Entrespaço. O que só aumentou minha expectativa. E depois que ela chegou, sim, eu me vi como o Astronauta.

A sua saga para chegar ao seu sonho de criança, com intensivos estudos, treinamentos regados a vômitos e giros em maquinas, até chegar no auge de finalmente ir para o espaço realizar uma missão de apenas 30 minutos. Pode se assemelhar ao que nos temos como sonho também. Quantas e quantas vezes você quer realizar algo, planeja, corre atrás, sofre, vence, pensa em desistir, levanta a cabeça, consegue e vence. Mas as pessoas ao seu redor simplesmente lançam um “não fez mais do que sua obrigação”. “Isso é besteira”. “Você deveria arrumar um trabalho de verdade”. “Olha, isso que você faz não é nada demais”. Banalizam o teu sonho. As suas conquistas.

O sonho do Astronauta era estar nas estrelas. Para isso ele dedicou uma vida de estudos e treinamentos. Para chegar finalmente e ir buscar uma peça que ficou perdida na Lua. O modo em que seus superiores tratam a missão que é o auge da vida do Astronauta é o que incomoda. Você chega no seu auge, e as pessoas vão sucateando sua vitória. Por isso a identificação com o personagem fica tão latente.

Mas, Entrespaço, também fala do ligar o f*da-se. Cara, você chegou no seu auge. Realizou o que mais queria. Chegou no resultado depois de tanto tempo de batalha. E aí? Vai deixar por isso mesmo? Vai deixar influências de fora diminuírem ou simplificarem o que foi conquistado? Tem que viver e valorizar o que alcançou. Tem que se orgulhar. Não ser arrogante, mas ser exemplo de quem lutou e conseguiu. O Astronauta não é uma pessoa cheia de si, daquela do tipo “só eu basta”. É um pensador contemporâneo. Que somente resolveu viver o que batalhou para a sua vida.

E você? Vai realizar o que quer para a sua vida? Vai deixar vozes de fora diminuírem o que você faz/fez?

Pense nisso.

Entrespaço tem formato 17 x 26 cm, 36 páginas em P&B com detalhes coloridos e ainda conta com (lindos) extras dos artistas Mario Cau, Eduardo Medeiros, João Pedro Chagas e Fabiano Lima. A HQ é a primeira publicação do Cavernna Comics, e você pode, e deve adquirir seu exemplar na loja online clicando AQUI.

 

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

Contatos, sugestões, dicas, idéias e xingamentos: ricardo@torredevigilancia.com