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Digimon Adventure: é um bom reboot sem apelar só para nostalgia

Escrito por Gabriel Faria

Digimon é uma das franquias de maior sucesso internacional do Japão, constantemente se reinventando com novos produtos, de jogos a animações. Produção original da Toei, a incursão mais recente do estúdio no universo de Digimon Adventure (ao qual pertencem as séries Digimon Adventure 01, 02, os filmes, e tri.) foi o filme Last Evolution Kizuna, disponível no momento apenas em terras nipônicas e que foi criado com a promessa de encerrar o ciclo da série original comemorando seus 20 anos de vida. Mas grandes franquias nunca terminam, sempre se transformam. E Digimon Adventure: (o “:” faz parte do título) chega na temporada de abril de 2020 para cravar essa máxima de forma certeira.

Um dos animês mais aguardados da temporada, Digimon Adventure: é um reboot da série clássica original de 1999. Taichi, Agumon e seus amigos Digiescolhidos irão novamente se aventurar no Digimundo, e agora de uma nova forma, pois como dito acima, esta nova série recomeça a franquia do zero.

Taichi, se preparando para um acampamento (uma óbvia referência à série original) vê sua mãe e irmã (Hikari, futuramente uma Digiescolhida) em perigo após uma pane nos sistemas de trem de toda Tóquio. Quando tenta salvá-las, acaba sendo levado ao Mundo Digital de onde a pane nos sistemas tecnológicos do mundo real está se originando por conta do ataque de um vírus misterioso.

Digimon Adventure: começa, em poucos minutos, referenciando o material clássico porém apresentando sua trama de nova forma, diferente. O reboot transparece essa vontade do estúdio de reapresentar a franquia para uma nova geração de crianças, respeitando os visuais clássicos que marcaram época e ao mesmo tempo trazendo novas músicas, trilha sonora distinta e criando um mix de situações que lembram a série Adventure e o filme Our War Game!, de 2001, apelidado de “o filme do Diaboromon“.

O design de série clássica é aplicado numa animação moderna, criando uma boa mistura das duas coisas.

E analisando apenas o que foi entregue no episódio de estreia, a Toei não poupou esforços em muitos aspectos técnicos que foram duramente criticados em séries anteriores do estúdio, como Dragon Ball Super. A animação deste Digimon está linda, e vale ressaltar que esta série vem como estreia do horário que era dedicado exatamente ao Dragon Ball, e depois, a GeGeGe no Kitaro.

É possível que os fãs da franquia original (e consequentemente do Adventure 2 e tri.) sintam de forma brusca as mudanças, colocando a primeira série ao lado desta. Não há menções a Butterfly ou Brave Heart. A trilha incidental é diferente. Detalhes como os brasões dos Digiescolhidos já são apresentados. A relação entre as crianças também parece tomar rumos completamente diferentes do original e o Digimundo propriamente não foi mostrado ainda, mas todas as mudanças são boas. Continua sendo Digimon, mas visando um novo público, enquanto ainda presta suas homenagens à história da franquia.

Taichi e Agumon se encontram pela primeira vez.

Parece que Digimon Adventure: terá um desenvolvimento mais lento e comedido que a temporada antiga. O primeiro episódio da temporada de 1999 introduzia os conceitos dos Digimons, do Digimundo, das primeiras Digievoluções e todos os principais Digiescolhidos de uma só vez no decorrer de seus 20 minutos. Este, traz apenas Tai e Izzy, com um gancho no final com outro herói querido dos fãs. E a aventura se situa apenas em Tóquio e na Net, trazendo também a nova forma de Digievoluir dos monstrinhos.

E a modernização dos visuais e desenrolar da história também é aplicada nas tecnologias. Depois de 20 anos, é previsível que a interação dos garotos com a internet, celulares e outros devices seja mais ligada diretamente ao funcionamento do Mundo Digital. Parte dessa interação foi muito usada em tri. e a promessa da Toei é de que agora os acontecimentos do Digimundo influenciarão diretamente na vida das pessoas na Terra, causando panes e possivelmente até mudanças naturais.

Digimon Adventure: moderniza o que os espectadores já conhecem muito bem sem apelar totalmente para o valor sentimental da coisa toda. O elenco de dublagem apresentado na estreia, porém, faz um bom trabalho em aproximar as vozes das características já conhecidas de cada personagem (Tai é dublado por Yuuko Sanpei, a dubladora que dá voz ao Boruto e outros personagens famosos), conversando também com o coração do fã de longa data. A nostalgia não é direta e barata, apelativa. Ela cria um sentimento que traz memórias distantes sem perder a sensação do novo.

E parte da magia de Digimon é justamente a recriação. A franquia possui muitas séries, algumas cronológicas e outras não, mas todas de alguma forma apresentam novidades respeitando conceitos pré-estabelecidos. E Adventure especificamente se prova como o mais sólido dos Digianimês, com fôlego para mais 20 anos de aventuras e amizade entre humanos e criaturas digitais.

A nova série está disponível no serviço de streaming Crunchyroll com transmissão simultânea com o Japão (aos domingos de manhã por lá, aos sábados à noite para nós no ocidente).

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.