Detective Comics

“Deus está acima de nós e ele usa uma capa.”

Em uma roda de discussão sobre super-heróis, sempre há aquela pessoa a qual acredita na ideia do Batman com o preparo. Você, caro leitor, já deve ter testemunhado muitos comentários acerca desta questão tanto para o bem, quanto para o mal. Enquanto alguns indivíduos por causa disso, o elevam a um grande patamar, outros, o inferiorizam. O que me atrai no Cavaleiro das Trevas é a tragédia. Pois a morte de Thomas Wayne e Martha Kent já ganharam tantas re-interpretações e significados no decorrer dos anos. Conferindo à tragédia, mais camadas.

Quando a pessoa usa “Frank Miller” e “preparo” na mesma frase, eu já olho meio assim:

Entretanto, não posso culpar as pessoas em relação a questão do preparo. É algo enraizado no personagem desde a LJA por Grant Morrison. Entretanto, havia um bom motivo: O título comparava os heróis da DC aos Deuses do Olimpo. Assim como também pode ser justificado pelo amor do escocês à Era de Prata, seus absurdos e as resoluções de casos inimagináveis. Ele é o Melhor Detetive do Mundo e pronto. Contudo, ainda há uma grande distinção entre Batman e Bruce Wayne por parte da audiência: Um precisa ser perfeito, o outro, não.

Esta pequena introdução serviu apenas para contextualizar a análise do quadrinho o qual abordarei neste singelo artigo: Cold Days. Esta história faz parte do atual volume de Batman, compilando as edições #51 à #53, tendo sido finalizada semana passada.

Grant Morrison não fez nada de errado.

 

SPOILERS SOBRE BATMAN #50 A SEGUIR 

Depois de ser largado no terraço por Selina, Bruce Wayne está quebrado, pois aquilo que estava tão perto de alcançar foi tirado dele: Sua felicidade. Três mulheres foram assassinadas. O padrão das mortes é o mesmo: Cérebros com baixa-temperatura. Logo, Batman sabe quem é o assassino: O Senhor Frio. Violentamente, ele arranca a confissão do vilão. O caso vai ao tribunal, onde alguns cidadãos de Gotham devem dar seu veredito sobre o caso. Embora pareça óbvio para alguns quem é o culpado, não é óbvio para Wayne.

Cold Days aborda uma questão interessante a qual não me recordo ter lido em outras HQs do personagem: O Complexo de Deus. Em certo ponto da história, Bruce pergunta se uma das mulheres dentro da sala, usa uma cruz. Ela responde que sim e pergunta logo em seguida se ele acredita em Deus e ele responde: “Eu costumava acreditar.” Depois desta declaração, voltamos ao flashback da morte de Martha e Thomas Wayne, o momento trágico o qual marcou o nascimento do Batman. Contudo, aqui, ele diz que ele encontrou Batman, assim como pessoas dizem que encontraram Deus.

“Deus está acima de nós e ele usa uma capa.”

“Então, basicamente, ele comparou Batman a Deus?” Sim, mas não com o intuito de defender o Morcego, ou se opor a ele. Ele faz esta comparação para questionar a fé cega dos cidadãos no vigilante. Não apenas porque ele as salvou inúmeras vezes, mas porque elas acreditam que ele trará esperança eterna para Gotham.

Ele está acima da lei, pois é o Batman, mas não deveria. Ele deveria ser tratado como um cidadão normal, com direitos e deveres e não, ser elevado ao patamar de uma figura divina, pois ele pertence a raça humana e é tão imperfeito quanto nós. Nem sempre ele é o Melhor Detetive do Mundo.

Aqui, neste quadrinho, ele admite isso. Ele não conversa com bandidos, ele apenas os chuta na cara, toda vez. Talvez os vilões não estejam obcecados por eles, talvez estejam apenas se defendendo, pois sabem que o Morcego os caçará. Como um dos civis diz durante a narrativa: “Em Gotham, você precisa permanecer com a arma em suas mãos.” Tom King, mais uma vez, renova o personagem, trazendo novos questionamentos. Acompanhado da belíssima arte de Lee Weeks, com seus traços minimalistas. Cold Days é uma história perfeita.

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Sobre o Autor

João Guilherme Fidelis

"Mas sabe de uma coisa ? Sentir raiva é fácil. Sentir ódio é fácil. Querer vingança e guardar rancor é fácil. Sorte sua, e minha que eu não gosto deste caminho. Eu simplesmente acredito que esse não é um caminho" - Superman (Action Comics #775)