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Deus em Pessoa está dentro, fora e no meio de nós

Escrito por Marcus Santana

Cada indivíduo guarda dentro de si sua versão a respeito de Deus. Independente do “ismo” religioso que a pessoa escolhe seguir ele está lá. Inclusive se seu “ismo” começar com “ate” pois, afinal de contas, até para não acreditar é necessário ter uma noção do que se escolhe não seguir. Independente do nome ao qual você usa para designá-lo, Deus de fato está em todos os lugares e inclusive nas HQs, onde mesmo no mercado nacional já foram feitas tentativas de quadrinhos religiosos como Anjos de Deus, Smilinguido e o recentemente afamado Dudão, que apesar sua produção datar de meados dos anos 90, ganhou notoriedade em 2020 não só pelo seu conteúdo, mas também pela representação física dos personagens.

Porém, em Deus em Pessoa, o nosso famoso Divino aparece em sua forma definitiva. Finalmente o Todo Poderoso ressurge no meio de nós e, como consequência, tem um inestimável número de perguntas para responder, principalmente por sua suposta ausência tão duradoura.

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Aqui, Deus vive no mundo real finalmente entre nós. Mas, diferente da bíblia, sua maior criação já não é mais a mesma. Mais do que isso: o retorno do Senhor estimula o lado consumista do ser humano. Sua volta promove o lançamento de parques de diversões, livros, enfeites natalinos, pelúcias, jogos de quebra-cabeça e etc. Mas, por incrível que pareça, nada disso é muito diferente do que já vemos em nossas vidas, pois afinal de contas muitos já usam a religião como forma de exploração comercial.

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Como já dito, cada um tem sua interpretação específica do Eterno, que durante toda a HQ de Marc-Antoine Mathieu não tem seu rosto revelado e curiosamente, nenhuma religião ou seita específica é retratada durante toda a narrativa. Não vemos destaques a padres, pastores, rabinos ou qualquer outro líder por mais que, aqui na terra, são os maiores difusores de suas palavras sagradas. Isso não interessa em primeiro plano, mas sim a versão mais simples de interpretação individual.

A estrutura gráfica deste título é, perdão pelo trocadilho, bem conservadora. O traço de Mathieu é simples e as únicas cores usadas são preto, branco e cinza. Mas nada disso é um demérito ao fim das contas, pois o forte da narrativa está em seu texto repleto de reflexões profundas e filosóficas sobre a ciência, sociedade e religião. Assim como em seus ensinamentos expressos nos livros sagrados, a palavra torna-se protagonista em Deus em Pessoa.

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A edição a Comix Zone mantém o padrão de seus títulos anteriores. Para uma editora ainda jovem, é louvável a manutenção de um lançamento diferente a cada mês e ainda com a mesma qualidade em edição e acabamento. Neste último quesito, vale como menção o trabalho feito principalmente nas páginas 29 e 30, onde a tradução dos textos expressos nas placas protesto e capas de jornal foram totalmente traduzidas e adaptadas ao nosso idioma e na página 59, onde diversas fontes próprias tiveram que ter suas letras adaptadas para a escrita da mesma palavra, no caso, Deus.

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Para a editora, vale a pena apostar mais em títulos franco-belgas, pois esse é somente o segundo lançado até agora pela Comix Zone. Apesar da já citada jovialidade da editora, essa escola de HQ ainda tem um bem menor número de lançamentos se comparados aos quadrinhos argentinos lançados pela mesma. Igual David Byrne nos anos 90, a CZ faz um ótimo trabalho descobrindo a América tal qual Cristóvão Colombo e Vicente Pinzón, mas ainda falta uma maior exploração no Velho Mundo, e é esperado que Deus em Pessoa marque essa retomada que se iniciou em Boca do Diabo e que se espere que não fique só nesses dois títulos.

Deus está vendo. Está por aí, por aqui, por acolá ou dentro e fora de nós. Ele está inclusive nas nossas HQs, seja em seu conteúdo ou no material utilizado para sua confecção. Não adianta tentar retira-lo de sua cabeça, pois quando se menos esperar ele aparece de surpresa, assim como nessa obra.

Deus em Pessoa
Marc-Antoine Mathieu (roteiro e arte)
Érico Assis e Fernando Paz (tradução)
Audaci Júnior (revisão)
128 páginas
29 x 21 cm
R$79,90
Capa Dura
Comix Zone
Data de publicação: 03/2021

 

 

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Sobre o Autor

Marcus Santana

O que seria de nós sem quadrinhos?