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Crítica | Power Rangers

Escrito por Gabriel Faria

Um dos blockbusters mais aguardados do ano, o novo filme dos Power Rangers, franquia da Saban Entertainment, chega aos cinemas trazendo uma visão mais profunda e até então pouco explorada em todo o legado da série, tratando os jovens de uma forma que pode não agradar quem gostaria de ver somente faíscas e robôs gigantes.

Ao tomar consciência da destruição iminente da Alameda dos Anjos, os cinco adolescentes escolhidos para serem os novos Rangers iniciam seu treinamento. O que pode soar como uma trama genérica típica de toda a franquia, no longa dirigido por Dean Israelite (Projeto Almanaque) acaba tomando o aspecto de um filme de drama adolescente, onde os personagens e suas características são os principais charmes.

A história soa como um filme de origem típico de super-heróis. O roteiro de John Gatins apresenta aos poucos todos os pontos essenciais e protagonistas das duas horas de duração com o único objetivo de reintroduzir este universo aos espectadores. Mais da metade da fita é dedicada exclusivamente aos cinco Rangers e ao background de cada um. Jason (Dacre Montgomery), Kimberly (Naomi Scott), Billy (RJ Cyler), Zack (Ludi Lin) e Trini (Becky G.) formam um grupo bem diversificado e com bastante química, contendo seus próprios problemas pessoais da vida de um adolescente, que vão desde o bullying até suas orientações sexuais e transtornos nervosos. A única coisa que todos têm em comum é a sociedade os julgando como “crianças problemáticas”, além da clara necessidade de se tornarem algo mais.

Funcionando bem dentro da mitologia apresentada, o encontro e a união de pessoas tão diferentes lidando com a descoberta de seus poderes e aprendendo juntos sobre as mazelas que os cercam, superando todos seus traumas e dificuldades, acabam por deixar os personagens sem uma forma inteiramente superficial, tornando possível se identificar com algum (ou mais de um) deles, do líder ao alívio cômico. O Billy de RJ Cyler, especialmente, rouba a cena.

Além dos cinco e de seus desenvolvimentos como heróis e seres humanos, parte da aventura obviamente é feita de fanservice e cenas bregas (a famosa galhofa) típicas da série. Zordon (Bryan Cranston) e a afetadíssima Rita Repulsa (Elizabeth Banks) compartilham um passado sombrio, apresentado no filme. A já citada vilã possui os planos clichês de qualquer inimigo dos Power Rangers: destruir o mundo, pura e simplesmente. Tamanha galhofa é tão clara (como deveria ser, dada a temática do filme) não somente em cenas específicas, mas no desenrolar da trama como um todo. Por mais que a profundidade moral de cada um dos Rangers seja algo diferente, tudo é tratado de forma que irá remeter ao que está na tela: heróis coloridos lutando contra monstros alienígenas.

Alpha 5 (Bill Hader) foi modernizado para este universo. Apesar dos trejeitos típicos do Alpha original, que tornam a comparação inevitável, este Alpha é muito mais ativo e age como um professor, física e psicologicamente. Ainda assim, você reconhece o personagem, um ponto positivo de todas as caracterizações do longa. No saldo geral, todo o elenco entrega boas atuações. Ai ai ai ai ai, Zordon.

Obviamente, existem problemas. A maneira despretensiosa como algumas situações são tratadas algumas vezes incomodam, gerando até um desconforto. Porém, não dá para dizer que algo assim não é proposital. As cenas de ação (contidas no terceiro ato, mais acelerado que os dois anteriores) são bem feitas, com coreografias ninjas que remetem ao estilo de luta dos Rangers no decorrer dos anos, porém duram pouco e demoram demais para acontecer. Os grandes destaques acabam sendo os Zords, que partem para a batalha prestando uma homenagem, e possuem visuais e efeitos bem convincentes, algo não tão positivo e deslumbrante quando falamos do grande inimigo físico criado por Rita, também prestando uma homenagem. O clímax da batalha também é fraco, e o peso da destruição não é sentido.

A trilha sonora é outro ponto com pouco destaque. Apesar das músicas se encaixarem na proposta adolescente e dramática do filme, quando os heróis partem para a ação falta algo que empolgue mais que uma música do Kanye West. E a parte instrumental da trilha também chama pouca atenção.

Ao optar pelo desenvolvimento de seus personagens e não pela ação pirotécnica do começo ao fim, Power Rangers entregou o que propôs desde seus primeiros trailers: uma aventura adolescente, destinada aos adolescentes, que mostra como você pode ser um super-herói mesmo com todas as suas falhas. Tomando este rumo, quem espera algo extremamente despretensioso e com ação desenfreada pode se decepcionar, mesmo com o feeling típico de estar assistindo algo da franquia.

Acima de tudo, o filme é honesto no que se propôs, e a cena pós-créditos é promissora, feita para agradar os fãs, dando o gancho ideal – e inevitável – para uma sequência. E os Power Rangers estarão lá para salvar o mundo novamente.

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.