Música Vitrola

Chromatica é um planeta morno, mas que tem lá seus melhores dias de verão

Escrito por Pedro Alonso

“Esta é a minha pista de dança pela qual lutei” – Lady Gaga, Free Woman

Lady Gaga lançou hoje (29) Chromatica, seu sexto álbum solo de estúdio, e oitavo na sua discografia como um todo. Inspirado no cenário da música dance dos 90 e início dos anos 2000, Gaga tem o propósito de cantar e celebrar suas dores e tristezas na pista de dança,  nos levando à uma viagem ao planeta Chromatica, onde as músicas do álbum estão sendo tocadas. O grande problema é que, Gaga, como criadora do planeta Chromatica poderia ter deixá-lo sua temperatura mais elevada, e não tão morna quanto parece.

Que Lady Gaga é um dos nomes mais versáteis e talentosos da sua geração, já é de conhecimento geral. Desde quando surgiu, lá em 2008 se apropriando da música pop em seu estado mais puro e até mesmo sendo um sinônimo para o gênero, Gaga reinventou seu som e imagem diversas vezes. Já passou por músicas mais sombrias derivadas do eurodance, já flertou com a cena underground da EDM (Eletronic Dance Music), e até mesmo experimentou o rock e o country em suas canções. – E na grande maioria das vezes, sempre com maestria –
Após quase 6 anos sem fazer o pop dançante que a levou para o estrelato, Stefani retorna às pistas de dança, pena que, é um retorno bem aquém do esperado.

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Chromatica começa bem promissor, a primeira faixa do álbum é uma interlude orquestral, intitulada de Chromatica I soa como o início de um filme, e quando se interliga com a seguinte faixa, Alice, constrói a atmosfera necessária para comprarmos a ideia do álbum. O primeiro bloco do disco conta também com Stupid Love, primeiro single que, embora não seja um grande destaque, ainda funciona como boa música pop. Logo após vem a dupla  Rain On Me, parceria com Ariana Grande e Free Woman, duas das melhores canções do disco. Sendo a última citada, uma grande ode à música house/dance dos anos 90, algo que lembra o tipo de música que Whitney Houston poderia fazer. Fun Tonight, a música que encerra o primeiro bloco do álbum, não é um destaque ao mesmo nível que suas colegas de set, mas ainda funciona dentro do conceito de “música para chorar dançando”.

O problema de Chromatica começa agora. A segunda etapa do álbum inicia com outra interlude, desta vez Chromatica II que faz a melhor transição do disco com 911. Porém, esta canção, está longe de ser algo realmente bom. 911 é a primeira vez que na qual Gaga revisita algo que fez em sua carreira. A música tem aquela sonoridade do pop em sua mais pura essência, entretanto é chata demais e repetitiva, soando até mesmo superficial, e sem ser proposital, o que é um grande problema. A faixa parece um descarte do The Fame, seu álbum de estreia de 2008.
Em seguida, mais uma decepção.

Plastic Doll é uma música produzida por Skrillex, e por isso, para quem conhece o trabalho do DJ, era de se esperar que uma colaboração justo com Lady Gaga fosse algo bem mais fora da caixinha, mas infelizmente, a cooperação é apenas uma música pop qualquer, sem sal, açúcar ou qualquer outro tempero. Continuando a derrocada do álbum, temos Sour Candy, parceria com o grupo coreano BLACKPINK. É uma outra parceria que tinha grande potencial, mas desaponta. Não que seja de todo mal a canção, mas ela sai do nada e vai para lugar nenhum, mesmo usando um sample muito bom e clássico da música house (Que já foi usada até por outros grandes nomes como Katy Perry em Swish Swish, e Nicki Minaj em Truffle Butter).

Pelo menos, a segunda parte do disco tem sua pepita, a música Enigma que não usufrui somente dos elementos eletrônicos que o gênero dance proporciona, mas também toma pra si – com louvor –  elementos orgânicos de instrumentos reais, como saxofone. Entretanto, o nível volta a cair com a faixa sucessora, Replay. Mais um pop sem graça, superficial e datado.
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Ao chegar na última parte do álbum, iniciada pela interlude Chromatica III, damos de cara com sua maior surpresa, Sine From Above, parceria com ninguém menos que Elton John. Era de se esperar algo mais slow tempo, ou até mesmo uma balada vindo de Gaga e John, porém, a música é nada mais que o ápice da disco music da década de 90 mesclado com piano e um leve toque experimental, é definitivamente uma obra prima, um presente. 1000 Doves, está em um local muito complicado no disco, por ser a sucessora de Sine From Above, mantém a expectativa em alta, mas, não é grande coisa, mesmo que não seja ruim.

E por fim, chegamos a Babylon, que não é só a melhor opção para encerrar o disco como também é a melhor música de Chromatica. Se Free Woman é a síntese do house noventista e Sine From Above e Enigma representam a maestria da mistura entre os elementos orgânicos e industriais, Babylon é a alquimia perfeita das três canções. Fora que, além de acompanhar de um maravilhoso coral, a música soa como uma irmã mais nova de Vogue da Madonna, hit dos anos 90. Babylon tem o poder de nos teletransportar diretamente para a melhor pista de dança de uma balada no auge da madrugada.

Não que Lady Gaga ainda precise provar alguma coisa para a indústria, seja em sua versatilidade, talento ou atitude artística. Mas Chromatica é bem além do que ela pode nos entregar,  é um álbum bem morno no conjunto de sua obra. Ele até consegue funcionar como um bom álbum pop porém, não é de longe o melhor trabalho e nem o mais genial de Gaga, muito pelo contrário, periga a se tornar o seu mais fraco com decorrer dos anos. Chromatica representa bem uma noite na balada, pois nele há músicas maravilhosas que funcionam perfeitamente bem como grandes trilhas sonoras dos melhores momentos de uma madrugada, mas também músicas extremamente pobres, chatas e superficiais que no mínimo funcionam como trilha sonora do momento de se retirar da pista de dança e ir ao banheiro ou bar.

Nota: 7.0/10

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Sobre o Autor

Pedro Alonso

Sou estudante do 2º período de Jornalismo e apaixonado por cultura pop. E assim como Justin Timberlake fez em seu 3º álbum de estúdio, estou vivendo minha 20/20 Experience.