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Como entrar no mundo dos animes | Parte 2: Gênero, número e grau

Se você não leu a parte um, largue de ser louco de querer começar as coisas do meio, e leia-a aqui.

Japonês é um povo estranho. E embora o título de hoje possa fazer parecer que iremos discutir a linguística oriental (que, convenhamos, também é estranha. Sabiam que não existe “espaço” em frases em japonês? Elesescrevemtipoassim, só que com runas lunares), vamos falar mesmo de outro assunto que envolve as três flexões de verbo.

  • GÊNERO
Não, não ESSA discussão de gênero...
Não, não ESSA discussão de gênero…

Da mesma forma que as suas tão queridas séries do Netflix são divididas em categorias, separando-as em coisas como “Romance”, “Terror”, “Psicológico”, “Só quero ver explosões” e “Amostra as teta” (e acho que “Game of Thrones” estaria em todas essas), animes também tem subdivisões, para deixar mais fácil a filtragem de o que você gostaria de assistir, ou o que será um lixo total.

O principal problema das pessoas que tem “preconceito” com anime é a ideia errônea de que todos eles são sobre ou A) Colegiais Seminuas ou B) Ninjas. Embora seja verdade que essas duas categorias cubram uns 90% de tudo que é lançado, ainda tem muita coisa que não cai no estereótipo das lendas urbanas do limbo.

Um dia eu planejo fazer uma série de posts contando detalhadamente sobre o que se trata cada gênero de anime, e o que eles têm a oferecer. Mas esse dia não é hoje, e por isso eu vou apenas explicar resumidamente o que se deve esperar de animações japonesas no geral, e como elas diferem de séries e sitcons americanas ou seja lá onde o Netflix esteja situado.

I) OS TRÊS PRINCÍPIOS DA COMÉDIA:

O primeiro princípio da comédia é a repetição… e o segundo princípio da comédia é a repetição. O humor japonês (não só o dos animes) segue uma vertente bem diferente do que o ocidental. Meu antigo professor de teatro, quando realmente aparecia para dar aulas, costumava dizer que “A verdadeira comédia é a desgraça alheia“, e isso resume bem a perspectiva que nós temos.

Animes diretamente focados na comédia existem, e são uns dos meus prediletos. Como foi dito no início, a repetição realmente é um ponto importante, mas ela sozinha não sustenta séries por mais de 100 episódios, como acontece com Gintama. Paródias também são muito mais comuns do que se espera (até por ser mais fácil de fazê-las, já que o risco de levar um processo por direitos autorais e/ou difamação é bem menor).

Porém, a verdadeira estrela das cenas de humor em qualquer mídia japonesa são o Boke e o Tsukkomi (E não, não estou falando grego. É japonês, lembra?). Também chamado de “Manzai”, esse tipo de comédia se centra em conversas onde o cara bobo (Boke) fala alguma coisa muito idiota, e o cara sério (Tsukkomi) reage, normalmente de forma exagerada. Isso pode gerar alguns problemas de “choque cultural”, pois a piada em si é a reação do Tsukkomi, e não o que supostamente viria depois. No começo você acaba esperando algo no nível de “O Gordo e o Magro”, onde após a conversação de uma ideia, o Magro acaba sendo convencido e quem se ferra é ele. Olha só, voltamos a desgraça alheia… Pois é, essa última parte se perde quando tratamos de Manzai. É só uma questão de se acostumar (e eu já escrevi um post inteiro sobre isso, lembra?). Isso acaba se tornando especialmente engraçado quando o dublador do Tsukkomi é ótimo em gritar.

Ah, o terceiro princípio da comédia? Bem…

II) UMA FATIA DE VIDA:

Perdão pelo título, não resisti.

Slice of Life” é o maior terror daqueles que não estão totalmente (ou suficientemente) acostumados com a cultura japonesa. É um gênero onde – na maior parte dos casos – não há super-poderes, não há organizações malignas tentando dominar o mundo e nem há ninjas (nem sempre). A trama se desenvolve, como o título sugere, apenas seguindo a vida de um grupo de pessoas. Os temas são tão diversos como o dia-a-dia nos permite, e os dramas são coisas rotineiras, com o objetivo de você conseguir, de certa forma, se espelhar naquela personagem, enquanto ela supera suas dificuldades (ou morre. As vezes elas morrem).

Embora existam alguns seriados onde não há nada de “extraordinário”, e você também acompanha a rotina dos personagens, o que as diferem dos animes (além da cultura fazer com que o dia-a-dia deles seja diferente) é a premissa de muitos dos problemas que se tornam a trama principal. Explico: Como japonês é um povo estranho, você vai ver que uma frase mal entendida numa conversa aleatória no meio do primeiro episódio, vai ser a causa de uma caçada vingativa por trinta e oito episódios, sendo que tudo poderia ser resolvido em questão de minutos, sentando e conversando. Não sou a melhor pessoa pra fazer uma comparação, pois nunca parei pra ver uma série Slice of Life completa, mas pela minha experiência assistindo “Meninas Malvadas” (que se você parar pra pensar, tem uma ambientação bem anime-like, cheia de garotas colegiais), as tramas diárias americanas costumam ser bem mais agressivas.

III) COM GRANDES PODERES, VEM GRANDES…

Mas, se você quer assistir o dia-a-dia de pessoas com a vida muito melhor que a sua, existe Novela pra isso, não é? O negócio é ver gente dando porrada umas nas outras, soltando energia pelas mãos e tal.

Super-poderes em animes costumam ser bem aceitos por vocês, visitantes das áreas menos obscuras da Torre. Isso se dá pois o que mais existe em quadrinhos, comics e HQs (que até hoje eu não sei se existe uma diferença entre os três) são pessoas com habilidades especiais e pouco questionamento sobre elas. Por isso, não me prolongarei muito nessa parte, e só farei o favor de citar Super Sentai pra vocês.

Super Sentai é um negócio muito grande lá no Japão. No ar desde 1975, essa série (com pessoas de verdade, não é uma animação) é o que deu origem à sua cópia ruim: os Power Rangers. Embora fosse mais válido eu citar que animes Shounen de lutinha normalmente são episódicos, com diversos vilões de pouca relevância pro enredo como um todo, apenas para que existam explosões… Acho que falar de Power Rangers é mais fácil e ajuda vocês a associar melhor o que estou dizendo. Além do mais, Super Sentai é uma referência do gênero como um todo, e diversos animes seguem tendências estabelecidas por ele.

Fora que depois eu faço um post sobre isso.

  • NÚMERO:
"Nossos segredos guardados, enfim revelados... nus sobre o sooooooooool!"
“Nossos segredos guardados, enfim revelados… nus sobre o sooooooooool!”

Falando em números… Logo o que vem a cabeça são os grandes. Mas pode desencanar que quando o assunto é desenho, a maior parte deles é pequeno (menos os preços das coisas, mas eu comento sobre isso lá em baixo). E no contexto gramatical que envolve esse post todo, podemos dizer também que é normalmente no Plural.

E já que estamos falando em Números, vou fazer a contagem usando apenas primos. É bom que vocês se acostumam ao enorme apelo familiar que temos nas obras japonesas (e consequentemente, suas complexas árvores genealógicas):

II) VINTE MINUTOS:

Tá, um monte de seriado também tem em média, vinte minutos de duração, e daí? Ah, é bom comentar que todos os animes tem, em média, vinte minutos de duração, né? Afinal, algumas séries tem o dobro do tamanho (e eu dropei Falling Skies por não aguentar assistir um negócio tão longo, mesmo tendo gostado do que vi).

E, embora o subtítulo sugira vinte, também existem os animes chamados “curtas”. Talvez você os curta. Categorias variam, de coisas de três minutos, a coisas de quinze minutos. Um ponto interessante a se notar é que todos, independente de sua duração, precisam ter um tema de abertura e/ou encerramento (que são importantes. Tipo, muito importantes. Posso comentar outro dia sobre). Isso leva a situações onde um curta tem três minutos, mas metade dele é o encerramento, dando um tempo útil de menos de 90 segundos.

Tão curto quanto, será essa parte do post.

III) DOZE EPISÓDIOS:

Até hoje, eu não entendo a lógica (se é que existe uma lógica) do número de episódios que uma série tem por temporada. Cada hora é um número, e cada série tem o seu. Como o Japão é um pouco mais metódico que o ocidente, por lá a coisa é diferente, e temos – quase – tudo nivelado (embora tenhamos programas que começam em horários como 15h37). Dentro de cada temporada (que explicarei no próximo número primo), tudo precisa ter a mesma duração. A programação da TV nipônica é bem mais rígida, e não dá pra simplesmente mudar algo para o horário nobre, só porque começou a fazer sucesso.

Daí o padrão adotado foi o que eu já tinha explicado num post anterior: O número de episódios de um show precisa, necessariamente, ser um múltiplo de 12 + 1. As vezes algumas abominações aparecem, como coisas de 10, 15 ou 18 episódios, mas elas são sempre compensadas na temporada seguinte.

E já que estamos falando de aberrações e episódios, um comentário rápido sobre OVA’s. Sigla pra “Original Video Animation“, são episódios que não fazem parte de uma temporada propriamente dita. Eles normalmente tem a mesma duração de um episódio normal (embora possam ser menores ou maiores), e retratam coisas pouco relevantes para o enredo principal (implicando que os episódios normais são relevantes). Seria o equivalente a “Episódios Especiais” de séries, que contam alguma coisa que aconteceu fora dos acontecimentos da série principal, ou tem algum comentário dos diretores, ou coisas assim. Não vejo série o bastante pra saber se algo mais existe.

V) QUATRO TEMPORADAS:

Não, a palavra “Temporada” acima não tem a mesma semântica que na frase “The Big Bang Theory tem uma porrada de temporadas”. Embora a palavra seja empregada nesse sentido, também para animes (i.e. “Naruto tem uma porrada de temporadas”), o termo, no contexto, implica outra coisa.

O período de aproximadamente treze semanas, onde diversos shows são lançados e estão com número de episódios semelhantes, é chamado de “Temporada”. Como uma pessoa com habilidades medianas em matemática consegue supor, quatro temporadas totalizam 52 semanas, também conhecido como um ano. Outra coisa que temos quatro durante o ano são as estações; daí, as temporadas são batizadas com a estação onde elas ocorrem.

Em Janeiro, temos a Temporada de Inverno; Em Abril, a Temporada de Primavera; em Julho, a Temporada de Verão; e em Outubro, a Temporada de Outono. Vale lembrar que as estações do ano no hemisfério norte são invertidas, por isso a associação mês-estação não faz muito sentido pra nós.

Se há alguma diferença entre as temporadas? Teoricamente, todas são iguais, não havendo nenhuma vantagem ou desvantagem entre escolher uma ou outra pra lançar o seu desenho. Na prática, alguns feriados afetam a competição por vagas em determinados períodos do ano. Por exemplo, coisas lançadas em Outubro terão seus Blurays vendidos próximo ao Natal (e daí a fama de Outubro sempre trazer os melhores shows).

Conhecer o conceito de “Temporada” é importante pois o ano inteiro haverá coisas sendo lançadas, mas se você quiser acompanhar algo desde o início, precisa saber quando elas começam. Também é importante pra saber quando algo em específico vai começar, ou pra se preparar mentalmente pra nova leva de fanboys alucinados que virá poluir suas redes sociais.

  • GRAU:
Nem é bem disso que estamos falando, mas pelo menos tu não apareceu com um termômetro.
Nem é bem disso que estamos falando, mas pelo menos tu não apareceu com um termômetro.

Só percebi que não faço ideia de o que “Grau” significa, gramaticamente, depois que escrevi o resto do post inteiro… Bem, seja lá o que for, vou usar esse espaço pra explicar conceitos que soam diferentes pra quem não conhece o submundo das animações japonesas.

I) Grande parte dos animes são ADAPTAÇÕES:

Esse é um ponto que costuma ser estranho para pessoas que são acostumadas com séries. Embora hoje em dia estejamos tendo bastante conteúdo com origem em outras fontes (vide esses milhões de seriados sobre heróis… Inclusive eu dropei Supergirl no episódio dois), a grande maioria dos roteiros são originalmente escritos para o show.

E enquanto isso pode não ser algo extremamente relevante, é algo que eu gostaria de comentar, pois muitas vezes, o anime pode sofrer com problemas na adaptação de seu conteúdo original para animação. Diversos tipos de problemas, sendo um deles o que eu comentarei a seguir.

II) Grande parte dos animes são objetos de PROPAGANDA:

Dezessete temporadas no ar? Horário nobre na televisão? Alta qualidade de produção? Isso tudo é importante, mas não o foco principal da maioria esmagadora dos animes.

Como comentado acima, a maioria das animações são baseadas em outras coisas. Seja um Mangá (espécie de ‘comic japonês’), uma Light Novel (Uma série de livros curtos, de 100 a 200 páginas, que normalmente possuem linguagem mais leve e com Kanjis menos complexos, daí o nome, ‘light’), uma Visual Novel (Jogo onde você encarna um protagonista e lê a história dele. Opções aparecem em momentos-chave, e fazem você tomar rumos diferentes no desenvolvimento) ou um joguinho de celular, o maior foco dessas adaptações não é o produto novo, mas sim o antigo.

Animes são feitos, acima de tudo, para promover; fazer propaganda; divulgar; jogar panfleto pro alto sobre… A sua obra original. É muito comum que shows acabem em momentos de tensão (malditos cliffhangers!) ou ao fim de um arco que claramente não é o que o encerra. Isso serve para atiçar as pessoas a irem buscar a continuação no seu local de origem.

Às vezes o Cliffhanger é literal...
Às vezes o Cliffhanger é literal…

III) Quem determina a continuação de algo são SUAS VENDAS:

Esqueça essa conversa de ibope, audiência, número de visualizações… Quem manda no negócio dos animes são as vendas posteriores.

Sabe aqueles box com Bluray (ou DVD, se você for macaco velho/pobre, igual eu sou) que contém todos os episódios de uma série, tem uma capinha bonita, e vende por uma fortuna nas Lojas Americanas? O que dá lucro para quem produz os animes é justamente isso.

Um show comum, com 1-cour de duração (12~13 episódios), normalmente venderá quatro ou cinco “volumes” de Blurays. Um volume trará entre um e três episódios da série e normalmente algum bônus como um pequeno especial de cinco a dez minutos, e custa em média uns ¥7,000 (o que dá uns R$230).

Pode parecer caro pra caramba… É porque é caro pra caramba, propositalmente. Não vou me detalhar em como funciona a venda de Blurays no Japão, mas esse artigo da Anime News Network (que está em inglês, infelizmente) se dedica a explicar isso.

Voltando ao assunto, o que importa é que pessoas que compram esses volumes existem, e o que determina o futuro de uma série, é a quantidade de malucos que pagaram o preço de um pulmão por ela.

 

 

 

Inclusive, pegar a audiência desprevenida é o terceiro princípio da comédia.

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Como entrar no mundo dos animes | Parte 1: O Choque Cultural

Japonês é um povo estranho. Vocês devem saber disso. E por isso mesmo que, pessoas que se envolvem demais nesse meio, acabam ficando tão estranhas quanto (veja eu, por exemplo!).

Mas, sendo o mais clichê que consigo pensar, é errado julgar um livro pela capa. Por causa desse ditado mais batido que argamassa na betoneira que estamos aqui hoje reunidos. Eu reuni dados de vários (uns… sete?) de vocês, usuários das partes menos obscuras da Torre, buscando informações relevantes sobre os motivos que os fazem não querer e/ou não terem vontade de assistir animes.

Essa série de posts servirá para quebrar alguns mitos que vocês têm, assim como dar dicas, recomendações ou simplesmente alguns toques, para quem sabe, fazer vocês lerem mais as minhas postagens que faço com tanto carinho.

  • O CHOQUE CULTURAL

Entenderam? Botei em fonte Impact, pois “choque” é um “impacto”… Hahaha.

Isso que eu chamo de CHOQUE CULTURAL.
Isso que eu chamo de CHOQUE CULTURAL.

A primeira coisa que você precisa entender com bastante clareza é: Você VAI estranhar o que está vendo. E isso é absolutamente normal. Muita gente encara essa “estranheza” como uma indicação de que isso não é algo feito pra ela… E embora isso possa ser verdade para alguns, não deve ser a regra.

Deixe-me explicar melhor: Por mais que existam milhões de fãs pelo mundo todo, “Anime” sempre foi (e sempre será) uma coisa feita por Japoneses, para Japoneses. E por conta disso, os ambientes; as situações; os personagens e suas atitudes; tudo isso será feito se baseando na convivência e na cultura de lá.

Sei que com a globalização, a internet e tudo mais, isso pode soar como mentira, mas acredite em mim: O Japão fica DO OUTRO LADO DO MUNDO! Sim, é verdade! Com um raio de 6.371 quilômetros, se traçarmos uma circunferência que passa por São Paulo e por Tóquio, fazemos vários arredondamentos (haha, arredondamentos. Estamos fazendo círculos, haha) e com uma continha que aprendemos na sexta série chegamos a uma distância de estrondosos 18.532,97 quilômetros daqui lá (Que, segundo meus cálculos, dá bem mais que 20.000 Léguas Submarinas. Ou não, nunca li esse livro).

Com essa distância toda, é normal de se imaginar que as pessoas que vivem por lá possuem hábitos e costumes diferentes dos nossos. Se dentro do nosso próprio país já existem diferenças culturais marcantes (como aqueles cariocas que chamam erroneamente “bolacha” de “biscoito”), como não haveria com o outro lado do mundo? Se acostumar com o modus operandi dos japonesinhos é o primeiro passo para começar a, de fato, gostar do que você está assistindo.

Não sei o que é mais inimaginável: Essa churrasqueira de Gremlim ou alguém usar luvas de cozinha num churrasco.
Não sei o que é mais inimaginável: Essa churrasqueira de Gremlin ou alguém usar luvas de cozinha num churrasco.

E se parar pra pensar, isso não é tão difícil assim. Você, caro leitor das partes menos obscuras da Torre, o que lia antes de vir pra cá? Alguma notícia sobre The Flash? Quem sabe um comentário sobre o trailer de Batman vs Superman? Pra ser sincero, não importa. Sabemos que, indiferente do que você estava fazendo antes de vir pra cá, essa coisa era, de alguma forma, relacionada com uma cultura estadunidense ou oriunda dela (e se não estava, bem… Só finja que estava e siga o exemplo). Lá, eles fazem coisas completamente diferentes do que nós fazemos aqui no Brasil. E você acha isso normal, você julga isso como algo comum. Tu não sai por ai falando “Nossa, eu não gostei daquele filme lá. Achei muito estranho! Magina que eles foram fazer um churrasco, e só tinha hambúrguer! Quem diabos faz hambúrguer num churrasco?“.

A cultura estadunidense (que faço questão de chamar assim, já que também sou americano e não faço metade das coisas que eles fazem) é tão impregnada no nosso dia-a-dia, que acaba sendo aceita subconscientemente. Nós nem nos questionamos mais quando vemos pessoas comendo bacon no café da manhã, ou correndo pela rua com copos do Starbucks, ou comemorando um feriado em Julho, o mês mais deprimente e sem feriados que existe. Você já se acostumou a lidar com essa diferença. O choque cultural já não é tão grande.

Entenderam onde eu quero chegar? No começo pode ser estranho ver os personagens comendo arroz no café da manhã, ou chamando os conhecidos pelo sobrenome. Pode ser engraçado lidar com todas as garotas usando saia o tempo inteiro, ou casais de namorados morrendo de vergonha de dar as mãos… Mas é uma questão de tempo até você começar a entender que é assim que funciona por lá, e simplesmente passar a aceitar sem levantar questionamentos. Se agora você evita, por se achar a diferentona ali no meio, dê mais uma chance, que você pode acabar gostando.

MAS QUE ABSURDO! NINGUÉM AVISOU QUE ESSE POST ERA 18+?

Como dito acima, esse é apenas o primeiro ponto. Ainda há vários outros para serem levantados, mas que não o faremos nesse post pois depois daquele último sobre a temporada de outono, eu não vou escrever coisas gigantes nunca mais.

Em breve teremos mais.

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Fall 2015: Uma análise da temporada até então

Japonês é um povo estranho, assim como sua programação na TV. Dividindo seu ano em quatro temporadas (e batizando-as com as respectivas estações do ano onde elas acontecem), as séries são alocadas em bloquinhos e se encaixam igual Tetris.

Isso significa que a maioria das séries estão sempre no mesmo número de episódios, numa determinada época. E em dezembro, a maioria dos animes que estrearam em outubro (na famigerada temporada de outono) já passaram de sua metade, e estão caminhando para seu final.

Isso também significa que é um ótimo momento para que pessoas que acham que tem algum conhecimento escrevam textos sem noção nenhuma falando sobre opiniões pessoais de desenhos que ainda estão inacabados. E é ai que eu entro.

Vamos fazer um geralzão na temporada de outubro, comentando como que estão os shows até então, dando dicas e recomendações (daquelas positivas e daquelas negativas) para que você, que pegou o bonde andando, possa ter uma noção de o que poderia assistir.

Lembrando que séries que são continuações não aparecerão. E que as imagens ilustrativas são, muitas vezes, bem enganadoras.

  • Comet Lucifer (MAL)
Isso na cabeça dele era pra ser um óculos?
Isso na cabeça dele era pra ser um óculos?

Comet Lucifer é o primeiro por nenhum motivo além de ordem alfabética. Não há nenhuma razão especial para estar no topo.

Você conhece alguma história que é tão confusa, com um desenvolvimento e consistência tão mal-elaborados, que os próprios personagens não são capazes de agir como um ser humano normal devia? Bem, agora conhece.

Usar do mistério para criar um clima bacana na história é normal. Diversos autores usam disso e se saem muito bem. Inclusive é um dos pontos fortes que eu cito sobre Gangsta. O problema é quando o mistério é grande demais e mantido por tempo demais.

Não há nenhuma, absolutamente nenhuma explicação de o que diabos está acontecendo na história. Sabemos que tem uma guria que está sendo perseguida por caras maus. Fora isso? Mais nada. É episódio atrás de episódio de conflitos envolvendo o protagonista defendendo a princesinha de maníacos, estupradores, sequestradores, líderes de organizações secretas… Mas não entendemos por qual motivo esses caras lutam. Nem os vilões, nem os mocinhos.

Mas ainda dá pra assistir pela animação e ambientação né?“… Não exatamente. As cenas de ação são em 3DCG horrendo e aquele tema de “cores fortes” que o anime passa não é trabalhado muito bem. Um trabalho bem porco do Estúdio 8bit.

  • Concrete Revolutio: Choujin Gensou (MAL)
E ainda por cima usa franja de emo…

Se você está assistindo One Punch Man (o que você obviamente está), a temática desse aqui já está metade construída. Só troque o protagonista careca por um cabeludo (e puxa, o cabelo ainda é rosa cintilante) e a comédia satírica por uma trama mais típica de quadrinhos.

Inclusive, esse é um dos animes mais comic-like dos últimos tempos. Pra vocês, leitores das partes menos obscuras da Torre, isso pode ser um ponto positivo. Os cenários são repletos de pontilhismo; os fundos são feitos com formas bem básicas e pintados com cores sólidas; Todo o resto é extremamente extravagante, com cores espalhafatosas e chamativas. O conjunto da obra realmente parece ter sido tirado de uma história em quadrinhos. Ótimo trabalho do Estúdio Bones.

A história começa tão bobinha como a de One Punch Man (que, no improvável caso de você realmente não estar acompanhando, eu comento mais abaixo), mas com o desenvolvimento, percebemos que existem dois momentos distintos, que são contados paralelamente. Seria o passado e o presente, ou o presente e o futuro? Quando que o “passado” irá explicar o que levou ao “futuro“? São tipos de narrativas típicas de comics e que não se vê todo dia.

  • Dance with Devils (MAL)
O cachorro parece mais carismático que a guria, não?

Pegue todos os pontos ruins de um Reverse-Harém e junte com todos os pontos ruins de um musical cancelado da Broadway. Aí adicione um pouco de Crepúsculo. Cria-se assim Dance with Devils.

Como de praxe, temos uma garota principal sem personalidade alguma, que acaba no meio de um cenário irreal cercada de homens que são mais bonitos, bem desenhados e femininos que ela. Ainda bem que citei Crepúsculo ali em cima, pois até que eles são parecidos.

O anime é mais ou menos um “musical“. O que significa que todo episódio, um cara bonitão metido a malvado vai começar a cantar uma música. Mas, diferente de espetáculos bons (ou até de medianos), a sequência ritmada não adiciona em nada à trama, apenas conta, com rimas horríveis, tudo que já aconteceu no episódio, e tudo que já sabemos. Essas cenas são normalmente aquelas que apresentam pontos-chave de qualquer conto –  Por exemplo, o momento que Christine visita o túmulo de seu pai, no clássico “O Fantasma da Ópera” – mas não é o que acontece com a série.

Meu ‘eu’ interior teve uma vontade imensa de ver isso inteiro, só para poder reclamar de tão ruim que é. Mas você não precisa fazer isso, se não quiser.

  • Gakusen Toshi Asterisk (MAL)
Tanta tecnologia e ainda não inventaram um uniforme menos ridículo?

Nada como começar uma história mostrando uma luta totalmente descontextualizada entre dois personagens que eu nunca vi na vida, e com uma cinematografia que tenta juntar dois efeitos e não consegue ser efetivo em nenhum deles.

Escola especial feita pra treinar adolescentes que sem motivo nenhum tem poderes especiais de combate e precisam lutar entre si por também nenhum motivo aparente. Protagonista é especial e diferente de todos em sua volta e não sabemos o porquê. Ele se envolve com diversas garotas que do nada começam a querer entrar em suas calças, e não entendemos também qual a causa dele se importar tanto com elas, já que o mocinho tem um objetivo claro a cumprir e ajudá-las só o atrasa mais e mais.

Não entendo essa paixão do estúdio A-1 Pictures em animar Light novels que são todas parecidas entre si (Sword Art Online estou olhando pra você). De qualquer maneira, esse show se enquadra na descrição que eu dei acima (junto com dezessete milhões de outros), e pode ser a sua dose semanal de clichê genérico, caso queira.

“Essa música é sobre a experiência de assistir Asterisk”

Só saiba que o gênero está melhor representado por outra série, que eu comento abaixo. A diferença? Enquanto Asterisk já foi confirmado como sendo 2-cour (quando o anime passa na TV por duas temporadas, ou seja, terá 24 episódios), Rakudai Kishi no Cavalry, o seu clone-primo-rival terá apenas doze episódios. Se isso será o bastante pra fazer com que o provável “desenvolvimento da trama” compense, temos que esperar.

Tua conta e risco.

  • Heavy Object (MAL)
Tem outro Objeto Pesado que está levantando aqui…

Objetos” é um nome até que bem adequado para as coisas que existem nesse anime. Temos bolas gigantes cheias de canhões que andam por ai em velocidades absurdas e que são as armas definitivas na nova ordem mundial.

Esse aqui é baseado numa Light Novel escrita por Kazuma Kamachi. O nome pode soar familiar, já que é o mesmo cara que escreve a quase epopeia que é a série de To Aru Majutsu no Index. Diferente do irmão famoso, Heavy Object é uma história de ficção científica. O que não muda, porém, é o protagonista sem noção que vence lutas titânicas no melhor estilo Davi e Golias.

E as esporádicas cenas de fan-service totalmente dispensáveis. Que acontecem com uma frequência relativamente alta. Embora sempre no momento certo. Ou devia dizer… “Nunca no momento errado“. Afinal, quando é o momento certo de se ter safadezas bidimensionais?

Se o tema de “um futuro não tão distante” te agrada, pode ser uma boa pedida. Interessados em geopolítica e o xadrez que é o jogo de dominação mundial… Não esperem muito nesse começo; mas acredito fortemente que será um tema bastante abordado no futuro. Vale lembrar que Heavy Object terá 24 episódios para tentar chegar nesse tal “futuro”.

  • Starmyu: High School Star Musical (MAL)
As cores dos cabelos deles acabam me fazendo pensar que eles são tipo power rangers…

Caras, por quê?

Uma versão masculina de todos aqueles animes de idols que são tão famosos (e usados com frequência na tiração de sarro do público geral da animação japonesa). Mas enquanto os personagens são, claramente, do sexo masculino, com aparência e vozes de homens… O jeito que eles agem e as atitudes deles dizem outra coisa.

Se o que faz coisas para homens vender, são “Peitos”… Então o que faz coisas pra mulher vender, são “homens de sexualidade duvidosa“. Não sou uma garota, então não consigo entender o que é tão legal em caras fazendo coisas de mulher. Aceito esclarecimentos, se alguém entender. A área de comentários desta postagem pode ajudar.

  • Lance N’ Masques (MAL)
Olha o tamanho desse cavalo, amigo!
Olha o tamanho desse cavalo, amigo!

Lembra daquilo que eu comentei na resenha de Hazuki Kanon? De que japonês é capaz de transformar qualquer coisa em algo bizarro? Bem…

Contos de cavalaria, grandes representantes da primeira geração romântica européia… Repensados como um paraíso lolicon (Wikipédia te ajuda) em pleno século XXI.

A série tenta muito, mas muito, passar a impressão de que tudo e todos ali são fofinhos, bonitinhos e ingênuos. É algo tão forçado que acaba tornando a atmosfera que eles mesmos queriam criar, em algo insuportável. De forma análoga, a impressão de “mundo fantasioso” que se espera, não é suficiente; você quase não consegue sentir a atmosfera que eles te prometem na sinopse.

Mesmo sendo dirigido por Kyouhei Ishiguro, que fez um trabalho sensacional em Shigatsu wa kimi no uso no ano passado, o show parece não ter consistência o bastante pra se manter. E creio que o fato dele ser baseado em uma Light Novel com apenas dois volumes lançados, seja parte do problema.

  • One Punch Man (MAL)
Opa, spoilers?

Cem flexões, cem abdominais, cem agachamentos e dez quilômetros de corrida… Todo santo dia.

Acho que essa vai ser a parte mais desnecessária do post inteiro. Afinal, metade do planeta Terra já está assistindo One Punch Man. Não tenho porque argumentar motivos para você começar a vê-lo. Mas para as outras 3,6 bilhões de pessoas, segue abaixo.

Sabe todos aqueles esteriótipos e clichês de Shonen? Protagonista extremamente poderoso derrotando inimigos inderrotáveis? “O ser mais poderoso do universo” é derrotado e duas semanas depois alguém cinco vezes mais forte aparece? Esses e outros pontos são levantados e usados de forma impecável numa das obras aclamadas como uma das melhores paródias de gênero que existe.

O fantástico de One Punch Man é que ele pode agradar tanto quem gosta, como quem NÃO gosta de Shounen. Se você gosta, ele é um exemplar recheado de ação, lutas lindamente animadas e uma comédia interessante. Caso não goste… Ele tira sarro de tudo que caracteriza tal classificação e usa um humor requintado para conseguir fazer isso sem ofender os fãs do primeiro exemplo.

Só cuidado que bem… Como tudo que acaba virando excessivamente conhecido… Alguns fãs não são muito agradáveis de lidar.

  • Ore ga Ojou-sama Gakkou ni “Shomin Sample” Toshite Gets Sareta Ken (MAL)
Eu totalmente não roubei descaradamente essa imagem do site da Funimation, juro!

Ufa, respira. Sei que ler o título todo cansou.

Inclusive, obras com títulos gigantes e que servem como 80% da sinopse são bem comuns no Japão. Essa, por exemplo, se traduz para “História onde eu fui raptado por uma escola de madames para ser um ‘exemplo de pessoa comum’“.

O negócio é tão imbecil quanto soa, não tenha dúvida disso. O estúdio Silverlink, conhecido por fazer obras maravilhosamente bem animadas, parece estar usando todos os recursos que possui com o próximo anime da lista, e não sobrou muito pra esse. O que foi uma ótima escolha, se me permitem dizer

“Como podemos mostrar o quão sem noção essa guria é? / Faça ela ficar empolgada ao jogar um Vita”

Apesar de uma premissa… digamos… “inovadora” (aspas são importantes. Eu gosto de aspas), a série não vai muito além do esteriótipo que o gênero passa. Metade das cenas são de fan-service totalmente desnecessário e a outra metade são de piadas saturadas.

Mas tem umas referências legais.

  • Rakudai Kishi no Cavalry (MAL)
Sabe que eu já vi essa imagem umas vinte vezes, mas só reparei que a roupa da Stella tá rasgada agora?

Se você já viu pelo menos, digamos, uns quinze animes em toda a sua vida, a chance de você ter passado por um tipo que eu gosto de chamar de “Harém Escolar Mágico Genérico” é bem grande.

Gosto bastante desse nome, e me orgulho de tê-lo criado, pois é muito auto-explicativo. Rakudai Kishi no Cavalry é, sem dúvida, um exemplar do gênero Harém Escolar Mágico Genérico. E isso diz mais do que eu precisaria. Porém, eu não estaria citando a regra geral de forma tão esquiva assim, se não fosse pra dizer que temos uma possível (destaque para a probabilidade que essa palavra trás) exceção.

Diferente de Asterisk, citado acima nesta postagem, Rakudai é uma ovelha negra em diversos pontos. Ele basicamente “corrige” diversos absurdos que são corriqueiros no gênero, e com isso, transforma a obra em algo que é mais realista dentro de seu próprio universo.

Fora que temos personagens muito queridos por todos. Um exemplo é a nossa Princesa de um País longínquo de cabelo rosa genérica No.2, a dona Stella Vermilion. Sua popularidade é comprovada por esse tweet que está totalmente dentro do contexto:

Isso claramente está falando da personagem de Rakudai Kishi no Cavalry.

E minha consciência, de redator e de fã, ficaria pesada demais, se eu não citasse as maravilhas que a Silverlink está fazendo. Cada iene adquirido com a venda de objetos baseados em garotinhas de oito anos em poses e posições suspeitas (NSFW) foram bem investidos.

Para todos os outros detalhes, vide comentário sobre Asterisk. É sério.

  • Subete ga F ni naru (MAL)
Meias coloridas são legais, mas por favor, use os pares…

Por algum motivo, o sub-título desse aqui é “The perfect insider” (que se traduziria pra algo como “O informante/infiltrado perfeito“). Seria algum spoiler descarado que você só percebe depois de assistir? Seria uma localização ruim? Seria o resultado de japoneses tentando soar cult ao usar inglês? Sexta, no Globo Repórter.

Com uma apresentação de trama e personagens muito bem estabelecida desde os primeiros instantes do episódio inicial, você pode julgar rapidamente se esse é um show para você ou não. Em poucos momentos você consegue entender que o clima do anime será pesado o tempo inteiro, você percebendo ou não.

Direta e indiretamente, a série aborda temas existencialistas filosóficos que eu, particularmente, não recomendaria para pessoas que estão passando por momentos instáveis na vida. Apenas para evitar a fadiga. Porém, dependendo da sua mentalidade, o tema pode soar tão imbecil que a série pode vir a ser uma comédia. Coisa normal em temas muito “profundos“.

  • Taimadou Gakuen 35 Shiken Shoutai (MAL)
Vento: funciona em apenas 20% dos personagens de anime.

Ah, é verdade. Temos um terceiro Harém Escolar Mágico Genérico nessa temporada. Como poderia me esquecer? Para mais informações no gênero, conferir Asterisk e Rakudai, acima. Você acham que eu estou brincando, né? Bem que eu queria. Bem que eu queria…

O que temos de diferente é que aqui nós treinamos caçadores de magos, e não magos em si. Super inovador, não? Um grupo militar cheio das maiores, mais poderosas e tecnológicas armas de fogo disponíveis para a humanidade… E um protagonista usando uma espada. Como eu sempre digo, o protagonista tem que ser diferente, não tem? É quase que uma vontade de querer ser hipster.

Um dos pontos a ressaltar é que, até então, a série tem sido muito episódica. Não houve um grande desenvolvimento da trama real, de o que fará a história andar. E como serão só doze episódios, ser episódico até o oitavo não é muito interessante. Mas justamente por ser desse jeito, pode acabar sendo algo mais leve de assistir, já que não existe um compromisso tão grande de ambas as partes.

  • Valkyrie Drive: Mermaid (MAL)

Bem… Uma série de ação… Muito… “Animada”… Onde garotas se divertem… Juntas… E se unem… para batalhar pelo que sonham… Com vigor e suor em seus rostos…

Pera ai, elas tão NUMA IGREJA?!

Tá bom, é um bagulho lésbico. Felizes?

Temos várias gurias que andam por ai brigando entre si, e metade delas se transformam em armas quando são “estimuladas” pela outra metade. Não podíamos esperar menos de uma obra original enviada pro estúdio ARMS (que produziu obras-primas do gênero, como Queen’s BladeHyakka Ryouran. Se é que me entende).

Bobo” tem sido uma palavra que eu vejo sendo usada com frequência pra descrever esse anime. Mas não o bobo de ingênuo. Mas sim o bobo de… ridículo. E a maioria é assim mesmo, então tudo bem. Temos uma premissa sem pé nem cabeça, cujo único intuito é manter o declínio populacional japonês; uma animação razoável que provavelmente será melhor nos blurays; uma tempestade sem fim de censura que pode ser evitada usando vídeos de canais pagos; entre outros pontos.

É uma boa escolha caso você queira se divertir.

Se é que você me entende.

  • Young Black Jack (MAL)
A cabeça dessa menina não é proporcional não…

Uma mistura entre Doctor House e Surgeon Simulator. Favor não confundir com a adolescência daquele ator que fez Escola de Rock.

Ver um graduando em medicina com perícia em facas, em plena guerra do Vietnã. É isso o que você terá que lidar. Citei Surgeon Simulator ali em cima porque metade dos episódios vão ser quase iguais ao jogo: Um cara aleatório aparece na frente do médico com pouco ou nenhum contexto e ele irá cortá-lo ao meio.

Normalmente, em seriados médicos, o drama é construído a partir da sua afeição para com o personagem que está quase morrendo. Por gostar do personagem, por acabar se apegando a ele, que você torce para que a cirurgia dê certo, para que ele se recupere, e coisas do gênero. Só que não é bem assim que funciona em Young Black Jack. Acabamos assistindo aqueles programas didáticos que passam no Discovery.

E quando ele não está cortando pessoas que nunca vimos antes, Jack está por ai refletindo sobre assuntos pouco relevantes, e passando horas num mesmo lugar. Se prepare para encarar a mesma sala por quinze minutos.

E isso resume os lançamentos de outubro. Me façam prometer que eu nunca mais vou fazer uma postagem tão grande quanto essa, por favor. Quaisquer dúvidas, procurem no Google, não sou seu empregado.

Nah, até respondo. Só comentar aí. Comenta, vai. Por favor.

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Indicação | Usagi Drop

Porque o simples às vezes mostra o que há de melhor na humanidade.

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Resenha | Hazuki Kanon wa Amakunai (Vol. 01)

Japonês é um povo estranho. Um dos esteriótipos que é muito marcado na cultura doentia deles é a dos “Valentões de Colégio“. Diferente do ideário ocidental (principalmente o Estadunidense), os valentões de olhos puxados não saem por ai derrubando livros de nerds. Eles vão atrás de confusão pela rua enquanto vestem seus uniformes, para trazerem fama de durões para seu local de estudo – e demarcar território, quase como você fazia no GTA San Andreas.

E claro que, como tudo que existe na face da terra, algum mangaká louco conseguiu transformar esse conceito em algo moe. O trabalho de Kobashiko (autor não muito conhecido, mas trabalhou em alguns mangás spin-off da série iDOLM@STER.) em “Hazuki Kanon wa Amakunai” (“Hazuki Kanon is not sweet“, em inglês) é o exemplo perfeito disso. Ele fez tal tema – normalmente com cara de Shounenzão das massas – virar um mangá de comédia-romântica (kind of) em 4-koma.

Aliás, o mangá é um 4-koma… Coisa que eu só percebi na metade do capítulo 2… Eu realmente tava achando o negócio sem sentido nenhum, e bem… Claro que não teria sentido, eu estava lendo errado! Voltei pra reler e foi tipo usar Flash na Digglet’s Cave, saca?

Caso não saibam, um 4-koma é um tipo de mangá onde cada página possui duas colunas de quatro quadros cada (daí o nome). O sentido de leitura é diferente do mangá original: Normalmente, se lê da direita para a esquerda, de cima pra baixo. Num 4-koma, se lê por coluna: primeiro os quatro quadros da coluna da direita, e depois os quatro quadros da coluna da esquerda. O restante das regras se mantém.

Abaixo, uma imagem altamente trabalhada por especialistas de edição, mostrando resumidamente a ordem de leitura de um 4-Koma:

Vemos o dia-a-dia escolar da protagonista, Hakuzi Kanon, dar uma reviravolta. Sempre de cara fechada, ela tem fama de delinquente. Pode não ser inteiramente verdade, mas também não é inteiramente mentira. Seus motivos, muitas vezes, acabam sendo mais nobres do que aparentam.
Sempre por ai arranjando brigas sem querer e matando aulas na enfermaria, suas diversas fachadas começam a cair quando sua vida se encontra com a dos amigos de infância Tamaki Daichi (um cara meio sem noção que nunca larga sua câmera de vídeo) e Kihou Tomoka (a típica garota animada mas que esconde uns segredinhos bizarros).

Depois que Tamaki acaba se fascinando por Hazuki, e a filma sem permissão, ele vai atrás dela, para poder realizar seu recém-formado sonho de filmá-la mais vezes. Atrás de seu amigo, Kihou acaba se juntando ao novo grupo que se encontra na enfermaria em todos os intervalos.

Enfermaria, aliás, que é o reino, império, território e capitania do lendário (auto-proclamado) Blackhole Jun, aka BJ. O enfermeiro da escola, que parece estar na casa dos 30, mas age como um adolescente desiludido. Kuroanada (seu nome “real”, por mais que não goste) age como o professor que é, quando necessário. Esse tipo de personagem acaba sendo um dos meus prediletos em qualquer obra, por adorar o giro extremo que ocorre nas personalidades delas.

Nos treze capítulos do primeiro volume, somos apresentados aos personagens, e rapidamente nos envolvemos com eles. Não por termos alguma trama envolvente ou uma história bem elaborada, mas justamente pelo contrário: é um mangá leve, tranquilo, que sempre te dá um ar fresco. É uma ótima pedida para relaxar. Muita gente chama obras assim como simplesmente “chatas”, mas é por não gostar do gênero, por preferir coisas mais pesadas, com mais ação. Não os culpo, gosto é algo que varia muito. Tem gente que gosta do que eu gosto, e tem gente com gosto ruim.

Atualmente, existem dois volumes lançados no Japão, com o primeiro (e parte do segundo) traduzido pela Doki para o inglês. Caso você esteja meio pra baixo, arranje um pirulito (não o da Hazuki, por favor!) e pegue pra ler esse mangá.

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Análise | Gangsta. #7 a #12

Lembra daquele dia em 2001? No comecinho de setembro? Você, criança alegre, que se preparava para ir para o colégio, estava sentado no sofá, com uma bisnaguinha numa mão e um Toddynho na outra, super ansioso para o desfecho da luta de Goku contra Majin Bu e Babidi. Depois de uma semana inteira de gritos, ele finalmente se transformaria pela primeira vez, em Super Sayajin 3. Quando, do nada, o programa é interrompido para comentar sobre alguma coisa de aviões batendo em torres. Foi mais ou menos assim que o anime de Gangsta. terminou sua exibição nas televisões japonesas. Mas já voltamos para comentar sobre isso.

A segunda metade da série continuou nos moldes da primeira. Em cada episódio, uma pequena parte daquele caótico e complexo mundo nos era explicado. Doze ou treze movimentos eram feitos por baixo dos panos (e isso não foi uma piada com prostituição, juro!) mas apenas um ou dois nos eram revelados. Uma característica que o autor Kohske colocou na obra, e a levou de forma esplêndida por todo o caminho, é a de nunca dar informações além do necessário. Ele quer ter o controle total da situação, e por isso sempre precisa ter algo na manga para nos fisgar quando for preciso.

O passado dos Handymen já nos fica mais claro depois de certos episódios. Embora ele ainda esteja com clima de aula de matemática – com mais dúvidas do que respostas – nos foi mostrado exatamente o suficiente para que, ambos os pequenos Nicolas e Wallace caíssem na nossa zona de “ain, tadinho deles!” (Curiosidade literária babaca, um recurso muito semelhante é usado por Jorge Amado, aclamado escritor baiano, no livro “Capitães da Areia”). Nenhuma história consegue seguir se o público não tiver uma conexão com os protagonistas. Mostrar apenas o que era necessário para criar um afeto para com os personagens foi uma jogada de efeitos positivos tanto em curto quanto longo prazo. Agora, ela serve para que tal conexão citada acima exista, e nos faça “torcer pelos mocinhos”. No futuro, poderá vir a servir como uma forma de quebra de paradigma, ao mostrar o outro lado que ele não quis que nós víssemos agora.

Intimamente ligado às vivências de nossos heróis, está a história da própria cidade. Cidade esta que recebe sutilmente, personificação na forma dos próprios moradores. Ela funciona como um organismo vivo, e as pessoas que vivem nela são partes desse sistema complexo. Todos os acontecimentos ali retratados se interligam de forma extremamente orgânica. Um naturalismo (da escola literária) leve no ambiente, que já era mais visível nos Twilights: os seu instinto animalescos, as vezes, sobrepujam o pensamento racional (Como por exemplo, Nic usar doses extremas de Uppers para poder enfrentar seus oponentes; ou Doug aceitar trabalhos que obviamente não deveria, apenas pelo desejo de lutar).

Mas voltando ao assunto citado ironicamente no primeiro parágrafo. Caso não tenha ficado claro: o anime terminou no meio de um arco. Próximo do clímax do desenvolvimento – ou, pelo menos, num ponto alto dele – o show simplesmente acabou. O por quê disso? Um motivo simples: não tinha muito mais o que animar. O mangá, que é lançado mensalmente no Japão (isso quando o autor não está doente demais para escrever), possui apenas seis volumes. Os doze episódios da animação foram suficientes para adaptar quase todo o material original. Só para dar uma ideia, o arco onde o anime termina (do grupo de Hunters com nome feito pelo Google Translate) ainda está acontecendo no mangá.

Talvez a discussão correta a ser levantada é se foi um bom momento para realizar a adaptação. Tivemos esse final meio vascaíno por não haver mais nada pra colocar depois. Mas o ritmo que o anime teve foi razoável o bastante para eu poder dizer que está bom. Talvez se tivéssemos esse arco já concluído, o show tivesse que dar sebo nas canelas pra conseguir terminá-lo de forma digna. É um problema enfrentado por muitas adaptações (e as vezes até obras originais), devido à natureza da programação televisiva japonesa: Suas séries precisam ter, necessariamente, um número múltiplo de 12 (com margem de erro de um para mais ou para menos) episódios para ir ao ar. O seu ritmo precisa acompanhar essa estimativa. Se o diretor decidir ir muito rápido, pode acabar o material original antes do prazo (além de ouvir reclamações no Reddit e 4chan de que o anime está rushado); se ele ir muito devagar, a experiência se tornaria massante e não avançaria a história. Being Director is suffering.

Caso o anime tenha te deixado frustrado, uma notícia talvez boa, talvez ruim, é que, graças ao enorme amadorismo da indústria brasileira, o mangá de Gangsta. será publicado em terras tupiniquins. A JBC comprou os direitos da obra e a veiculará em formato bimestral, a R$ 13,90 cada. Por outro lado… a frustração fica ainda maior quando se leva em conta que o estúdio Manglobe, que animou a série – e nos deixou o que será, possivelmente, o maior cliffhanger da história dos desenhos chineses – declarou falência poucas semanas depois do fim do show. Embora mudanças de estúdio aconteçam entre temporadas de um mesmo anime, elas são raras (porque ninguém gosta de mexer nas fezes alheias), o que diminui drasticamente as chances de uma continuação acontecer, mesmo se as vendas de Blurays forem boas (o que eu garanto: não serão).

Final horrendo ou não, isso não afeta o que foi construído ao longo de treze semanas (pois tivemos um episódio recap entre o nono e o décimo, chamado de 9.5). O show como um todo foi excepcional para quem gosta do gênero; pra quem não é muito chegado em animes mas gosta de filmes políciais hollywoodianos; ou simplesmente pra quem finge ser superior por só assistir seinens 2edgy4me. Pelo menos, aprendemos hoje que nunca se deve encerrar nada pela metad

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Análise | Gangsta. #1 a #6

O que temos quando juntamos um samurai surdo, um gigolô de tapa-olho, uma ex-prostituta com dependência química e uma cidade regada pelo crime? A resposta (que bem que poderia ser um novo filme do Tim Burton, estrelando Johnny Depp) está na obra da mangaká Kohske.

Com seu primeiro volume lançado em 2011, Gangsta. (com o ponto, para alegria de Eurico Miranda) é um mangá que acompanha as vidas de Arcangelo Worick e Nicolas Brown na cidade fictícia de Ergastulum. Cidade tal que nos fica bem claro, logo ao início da narrativa, que não se trata de um lugar onde você gostaria de passar as férias: drogas e prostituição preenchem cada esquina; cartéis, gangues e máfia são os que mandam nas ruas; corpos derrubados em combate profanam vielas; o dólar-turismo está em alta, etc.

Uma adaptação para anime foi aprovada e, com a temporada de julho, nos trouxe as desventuras dos Handymen para as telinhas nipônicas. Dirigido por Shukou Murase (um pouco famoso por seu trabalho como roteirista de Samurai Champloo) e animado pelo não-tão-famoso estúdio Manglobe (que animou Deadman Wonderland; The World God Only Knows e o infame mas divertido Samurai Flamenco), Gangsta. aparece como uma opção que se destaca no cenário atual – que é dominado pelo “moe” e pelo apelo sexual desenfreado que está levando o Japão ao declínio populacional – por ser uma obra que, perdão pela liberdade tomada, eu não encontraria melhor descrição do que “Edgy“.

Os protagonistas, casualmente chamados de Worick e Nic, são conhecidos na cidade como os “Handymen” (um termo inglês para algo como “quebra-galhos” ou “faz-tudo”). Num lugar onde várias partes precisam trabalhar mutualmente, mas não conjuntamente, para manter um equilíbrio delicado de forças, um grupo neutro é essencial para limpar a sujeira daqueles que tentam abalar as bases do sistema. É exatamente aqui que nossos mocinhos entram: eles tomam serviços tanto da polícia quanto da própria máfia, para resolver qualquer perturbação da “paz”.

Logo no primeiro episódio, conhecemos Alex, uma prostituta que era forçada a trabalhar numa área próxima à base dos Handymen. Mais tarde, descobrimos que ela era empregada por um zé-ruela que tentou criar uma nova facção na cidade, rompendo o tão querido equilíbrio de forças. Após acabar com a ameaça, Worick decide por “levá-la como espólio”, e ela se junta ao grupo como secretária.

Se esse papinho de guerra de gangues, limpeza e corrupção não foi o suficiente pra te comprar, pode sentar que ainda tem muita coisa pra jogar no ventilador. Como se todo esse cenário torpe não bastasse, temos ainda um fator de ficção-científica na história: Em Ergastulum, existem os Twilights. Não, eles não brilham no sol. É assim que são chamados os homens e mulheres que possuem uma alteração genética, que lhes dá capacidades físicas sobre-humanas, em troca de possíveis deficiências corporais e uma vida bem mais curta que o normal.

Consequência (ou causa, ainda temos seis episódios para esclarecer isso) de um tipo de droga usada no passado durante uma guerra, os Twilights – também chamados de “Dog Tags“, por causa de suas identificações militares (veja imagem abaixo) – sofreram perseguições por parte dos humanos “normais”, e muitas questões éticas foram levantadas para chegar a algum lugar nesse conflito, embora não tenha dado muito certo. Por vários anos, os Twilights viveram num estado de escravidão; tendo poucos – ou quase nenhum – direito civil, totalmente subjugados pelos “normais”.

Foi só após proposta por parte de uma das três famílias, e muito bate-boca (a maioria resolvido na base da porrada) que os Twilights conseguiram voltar a sociedade – ou tentam. Caso respeitassem As três leis impostas a eles pelos “normais”, poderiam ter direitos – quase – iguais ao de qualquer humano (provável referência à Isaac Asimov, criador das leis da robótica).

Piadas a parte, Gangsta. se aproxima muito mais de filmes hollywoodianos de temática policial e toques cômicos (Como um Bad Boys um pouco mais sério) do que da mídia em que ele realmente se originou. Apenas o fato dos protagonistas serem homens formados, na casa dos trinta anos, já mostra uma distância entre os milhares de colegiais que normalmente vemos em animes salvando o mundo e desafiando leis físicas para cair em cima de peitos (e que não me levem a mal, eu gosto deles também!).

Com uma classificação etária de R-17+, o show não tem pudor e mostra cenas de violência explícita e sexo implícito (com o que a TV japonesa permite) ao longo de todos os episódios. Eles adoram te lembrar que essa cidade é o berço do caos e não medem esforços pra reforçar essa lembrança a cada cinco minutos.

E como não pode faltar, a trilha sonora de Gangsta. é sensacional. Confesso não ser o maior apreciador de músicas de fundo do mundo; mas as que estão presentes nesse show são muito bem colocadas, e aumentam a imersão no clima tenso que está quase o tempo todo presente. Mais importante para pessoas alheias e desinteressadas ao estudo musical (como eu sou), os temas de Abertura (“Renegade” por STEREO DIVE FOUNDATION) e Encerramento (“Yoru no Kuni” por Annabel) são muito contagiantes e emocionais (respectivamente, embora não exclusivamente).

Para não acabar transformando essa análise num resumo, deixo minha língua parar de correr por aqui. Garanto que só contei o essencial para te dar uma visão ampla do que esses seis primeiros episódios nos mostraram, e que sua experiência com a série será maravilhosa (se gostar da temática, claro).
Caso inglês não seja um problema, e você curta ficar na legalidade, o serviço de simulcast Funimation transmite os episódios nas madrugadas de domingo. Por mais que eu não seja fã da empresa (mas isso é assunto pra outra postagem) essa é a única alternativa.

https://www.youtube.com/watch?v=L2xpcZn0nOI

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Resenha | Parasyte #01

“Vocês não percebem que
nós somos dotados apenas por sermos humanos.
Nós somos predadores absolutos.
Nós não temos sequer um inimigo.
Talvez aqui estejam outros animais nos observando
e pensando que, um dia,
nós iremos derrubá-los.”

Let Me Hear – Fear, and Loathing in Las Vegas

Com tais palavras temos o início da música de abertura do anime de Parasyte (Kiseijū), mangá de horror e ficção-científica criado por Hitoshi Iwaaki e publicado em 10 volumes entre 1988 e 1995. A publicação deste clássico no Brasil foi anunciada pela Editora JBC e a primeira edição pode ser encontrada atualmente nas bancas, e graças a ela, podemos observar todos as camadas desta obra que vai além dos exageros típicos, lidando com diversas questões sociais e biológicas dos seres vivos.

Antes de mais nada devemos abordar alguns aspectos sobre as relações entre os seres. Na natureza, todo ser possui algum tipo de relação com outro, seja ela harmônica ou desarmônica. Na biologia caracterizamos inicialmente estas relações como intra-específicas e interespecíficas. No primeiro tipo podemos encaixar relações entre seres de uma mesma espécie, como sociedades, colônias ou canibalismo (as duas primeiras, harmônicas, visto que todos os seres colaboram uns com os outros, e a terceira, desarmônica pois alguém sai perdendo). Já as interespecíficas são caracterizadas pelas relações entre seres de diferentes espécies, e aí encaixamos coisas como o mutualismo, o predatismo e o parasitismo.

Mas quais seriam as diferenças entre estas três principais relações interespecíficas? O mutualismo é caracterizado pelos participantes mantendo uma relação de dependência e se beneficiando reciprocamente da associação entre eles. Já o predatismo, como o nome sugere, se dá quando um ser mata um outro ser, de outra espécie, para lhe servir de alimento. E por fim, o parasitismo se dá quando um ser vive no corpo de outro, denominado hospedeiro, com o objetivo de retirar alimentose de modo geral estes parasitas trazem-lhe apenas prejuízos. Existem outros tipos de relações interespecíficas, mas no caso de Parasyte, apenas estas três bastam para um desenvolvimento sobre a obra.

Em Parasyte temos dois protagonistas: Shinichi Izumi e Miggy. Este segundo é simplesmente um parasita alienígena de uma raça que, aparentemente, se apodera do cérebro dos seres vivos e iniciam comportamento canibal, visto que o ser possuído pelo parasita perde o controle sobre seu corpo, morrendo no processo. Além desta característica (na nossa visão) atroz, a área onde o parasita habita também se torna mutável, podendo assumir outros aspectos ou densidades corporais, incluindo uma enorme elasticidade e velocidade. No caso de Miggy o parasitismo não saiu como o esperado e ele passou a habitar somente a mão direita de Shinichi. Com a falha, esta relação acaba se tornando também um mutualismo, com ambos agindo juntos (unidos, por motivos óbvios) para sobreviverem e desvendarem os mistérios acerca dos parasitas alienígenas canibais.

Somente a proposta de Parasyte já deveria conquistar diversos leitores. Mas a obra vai além disso, abordando também questionamentos sociais e biológicos acerca do próprio ser humano. Em determinados momentos podemos observar Shinichi questionando o canibalismo dos humanos parasitados, julgando tais atitudes como horrendas, e Miggy contrabalanceia tais questionamentos com respostas como: “Nós estamos apenas exercendo a nossa biologia. Alimentação é algo natural e intrínseco a todo ser vivo. A vida de seus semelhantes é tão importante assim? Pra mim, a preservação da própria vida sempre virá acima de tudo.” Com tais palavras, também abrem-se as questões sobre o parasitismo do ser humano em relação à Terra. Afinal, nós devastamos o planeta, cometemos atrocidades, nos alimentamos de outros seres… Nossa vida é tão importante assim? É necessária esta quantidade absurda de seres humanos? E podemos julgar uma criatura que está apenas exercendo seu comportamento natural?

Através do convívio com Miggy, um ser frio e calculista que se importa apenas com o que fizer bem à ele, Shinichi começa a valorizar cada vez mais a vida como um todo. Não somente a vida humana, mas também o direito de viver dos animais, dos insetos, de tudo. E também a questionar sua própria ideologia sobre a preservação da vida humana. Será que somos tão importantes ou exclusivos assim? E eu devo combater, ou até mesmo matar estes seres que estão aniquilando meus semelhantes? Aparentemente, sim. E isso cria um embate ideológico mostrando a ideia mais pura de defesa à humanidade encarnada em Shinichi, e o egoísmo somada à autopreservação característica de Miggy.

O primeiro volume termina levantando uma questão: quem cederá? Shinichi virá a se tornar alguém mais frio graças à esta relação, ou Miggy passará a compreender os bons lados da humanidade? Quem se tornará o predador, e quem será a presa? Em algumas cenas o autor deixa bem claro que os parasitas são os predadores. Mas será que isso pode vir a mudar? O ser humano, tido como o topo da cadeia alimentar, voltará a assumir tal posto, mesmo com a presença de seres tão poderosos?

E se os seres humanos não fossem o topo da cadeia alimentar? 

Abordando tantos assuntos interessantes, desenvolvendo uma excelente trama, sendo muito bem ilustrado e contendo ótimas ideias, Parasyte é, para mim, o melhor lançamento de mangá do ano. A edição da JBC está sendo lançada com uma qualidade incrível que inclui laminação fosca e belíssimas ilustrações (dos kanzenbans japoneses) nas capas, papel de boa qualidade, além de ótima tradução e revisão.

Vale lembrar que tudo o que foi dito neste texto foi extraído somente do primeiro volume. A história pode dar uma guinada assombrosa e tomar rumos completamente diferentes, mas isso apenas atiça ainda mais a nossa curiosidade como leitores. Qual será o destino da dupla Shinichi e Miggy?  Por quais outras situações extremas eles passarão?

Parasyte é um mangá mensal, contém cerca de 220 páginas em papel offset e será completo em 10 volumes. O preço é de R$16,90, e a distribuição, por fases. O anime pode ser assistido através da plataforma Crunchyroll.

https://www.youtube.com/watch?v=MrEX23xl-eM

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Planetes #1

Muito além do que lixeiros espaciais.

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Análise | Gate: Jieitai Kanochi Nite, Kaku Tatakaeri #1 a #6

Gate: JieItai Kanochi Nite, Kaku Tatakeri, ou somente GATE, é uma série de novels escrita por Takumi Yanai e publicada desde 2010 no Japão. Em 2011 a obra começou a ser adaptada para os mangás, e na mais recente temporada de animes de 2015 finalmente obtivemos sua versão animada. Animação esta feita com um esmero absurdo.