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Primeiras Impressões | Masamune-kun no Revenge

Escrito por Vini Leonardi

Com as sábias palavras do filósofo mexicano Don Ramón: “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena!”, começo essa postagem, que tem tudo para provar de uma vez por todas o fato de além de toda aquela história que levou a um pós-guerra traumático ser verdade e um claro exemplo da citação acima, também mostra que Japonês é um povo estranho.

Vindo de um mangá que começou sua publicação em 2012, que mesmo não tendo um volume de vendas colossal como alguns títulos, consegue se manter firme no mercado e parece não estar sofrendo pressões, temos a história criada por Hazuki Takeoka, um cara que se deu bem na vida logo de cara, acertando em cheio em sua primeira obra. Também possui a peculiaridade de ter a arte feita por uma artista coreana, mas esse é o tipo de informação que só é relevante pra quando alguma editora brasileira quiser licenciar o título.

Como uma clara resposta ao show que foi tema do último ‘primeiras impressões’, essa vingança nos traz um estilo de narrativa, que além de conseguir te prender completamente e logo de início apenas com ela mesma, também se esforça para possuir um elenco de personagens interessantes o bastante para serem levados em conta.
Cheguei a comentar sobre como existem obras que funcionam apenas por seus personagens e não possuem história alguma (Urara Meirochou, New Game!, etc.), e sobre obras que poderiam ter seus protagonistas trocados por portas que a história se sustentaria sozinha. Mas creio nunca ter falado dos outros casos. Masamune-kun nos traz um show onde não se tem nenhum dos dois pontos extremamente aguçados, mas que conseguiu encontrar um perfeito equilíbrio entre atores e roteiro, que elevou o nível da animação como um todo. Falemos sobre uma coisa de cada vez.

Como já é de praxe em obras orientais, o nome nos entrega uma (as vezes nem tão) pequena sinopse: Estamos vendo a vingança de Masamune-kun. Só a premissa de que um garoto mudou completamente de vida e se tornou alguém mais saudável e contente consigo mesmo, pode parecer estranha quando analisada de forma isolada, mas ao descobrirmos que tudo isso só ocorreu pois o menino estava sendo abastecido pelas chamas do ódio pelo bullying que sofria quando criança, já te traz perfeitamente qual vai ser o clima da obra como um todo. Ver qual será o próximo passo no plano diabolicamente planejado pelo protagonista, e principalmente, como ele irá executar essa tarefa, não é, admito, a coisa mais excitante ou inovadora do mundo, mas é, pelo menos, alguma coisa. Existe algo que possa gerar uma ansiedade no espectador, e histórias envolventes são justamente aquelas que te fazem ansiar por mais. Temos, assim, um roteiro que é efetivo o bastante.

Eu quando ele não amostra.

Eu quando ele não amostra.

O outro nó está em quem pratica essas ações. O protagonista que dá nome ao show, Masamune-kun, é um dos personagens mais bem construídos, carismáticos e relacionáveis que eu já vi. Não gostar dele é algo que beira ao impossível (e claro que, como eu falei isso, aparecerão um milhão de pessoas dizendo que o odiaram). O arquétipo que Masamune-kun representa no “presente” é justamente o protagonista estereotipado super popular e que parece ter tudo sempre a seu favor. O que o torna tão… ‘realista’ (com toda a liberdade poética para uso da palavra) é o seu ‘eu interior’, que ainda está intimamente ligado com o Masamune-kun do “passado”. Personagens que ‘fogem ao comum’ em animes são normalmente os mais convincentes. Sua infância quase que confundível com uma história ouvida no Domingo Legal, traz para nosso herói uma credibilidade quanto a sua ‘humanidade’, e faz sua mente ser mais próxima de uma pessoa real do que de uma ‘pessoa de anime’. Quando sua vida muda para o que seria mais ‘animêstico‘, ele esboça reações que eu mesmo me pego dizendo em voz alta enquanto assisto algo. O personagem é uma façanha incrível de criar uma identificação com a platéia sem precisar quebrar a quarta parede.

Os outros personagens, apesar de muito mais superficiais no quesito técnico, ainda são interessantes o bastante para que possam ser lembrados daqui há algum tempo. Isso faz com que haja um elenco que cumpre sua função.

Vai dizer que dá pra esquecer de um elenco desse nível?

Vai dizer que dá pra esquecer de um elenco desse nível?

Quando juntamos estes dois pontos discutidos acima, o resultado esperado é conseguirmos uma comédia ciente de si mesma e que consegue gerar situações cômicas tanto a partir do óbvio como do inesperado. E o show é justamente isso: uma mistura do óbvio com o inesperado. O rumo muda bruscamente entre esses dois ganchos, e o baque que essa alteração causa é um dos maiores responsáveis pelo efeito humorístico da série. É o terceiro princípio da comédia em ação. A sensação de nunca saber quando ou onde virá uma punchline é tão intensa que chega a ser pavorosa. É um tipo de comédia que, por trabalhar com extremos em sincronia, poderia ser comparada a de Sakamoto Desu Ga?, por exemplo. Ah, que saudades do meu garoto Sakamoto…

A produção técnica do show está de parabéns, aliás. Uma ótima animação do estúdio Silverlink. (Baka to Test, Strike the Blood), que mesmo não contando com cenas agitadas ou rápidas, consegue entregar uma fluidez de movimento impressionante; Personagens com designs bonitos, bem trabalhados, que garantem uma individualidade e que conseguem isso tudo sem soar absurdos são, com certeza, um ponto forte da obra, cortesia de Yuki Sawairi (que vejam só, é um estreante nesse papel!); uma seleção de músicas que amplificam de uma forma exorbitante (quase tanto quando a palavra ‘exorbitante’) a comicidade e até mesmo a seriedade dos momentos-chave da trama, uma excelente apresentação de Toshiki Kameyama (Sayonara Zetsubou Sensei, Baka to Test)… Isso sem contar o ótimo elenco de dubladores, escolha de abertura e encerramento, trabalho da diretora Mirai Minato (que trabalhou em ‘Fate/kaleid liner Prisma☆Illya’, mas que não consegui confirmar de jeito nenhum se é mesmo uma mulher) e muitas outras coisas que eu não consigo me lembrar agora. Desculpa, mas eu normalmente lembro só das coisas ruins, e Masamune-kun no Revenge não trouxe nada de ruim para a mesa até agora.

Eu procurando quem pediu a sua opinião.

Eu procurando quem pediu a sua opinião.

Ok, talvez eu pudesse reclamar do fato da mãe do protagonista ser uma criança, e que seu melhor amigo é claramente uma garota que foi desenhado como uma garota e dublado por uma garota, mas que decidiram dizer que é homem. Mas são o tipo de “erros” que só agregam ao fator inesperado que faz tão bem ao anime.

Com um começo explosivo (no caso, comigo explodindo de rir) e tendo o céu como limite para seu futuro, Masamune-kun no Revenge tem uma nota inicial de 9/10, e pode servir até de porta de entrada para várias coisas: como para alguém que não vê animes por achar seus personagens muito distantes de si; como para uma mudança de hábitos e quem sabe começar uma dieta; ou para o começo do fim das suas piadinhas ofensivas para com os coleguinhas, para que ele não tente se vingar de você no futuro.

O anime está disponível legalmente no serviço de streaming Crunchyroll, com novos episódios sendo lançados sempre nas quintas-feiras.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.