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Gus – 2. Belo Bandido | Distância e novos ares

Escrito por Gabriel Faria

Criação do famoso quadrinista francês Christophe Blain, autor de “Isaac, o Pirata“, Gus é uma série composta até o momento por quatro volumes que narram as aventuras de três bandidos numa temática de faroeste, lidando com dinheiro (provido de assaltos), bebidas e principalmente com as mulheres.

Após apresentar todos os personagens desta fantástica série de western no primeiro volume, chamado Gus – 1. Nathalie, Blain utiliza a segunda edição para mudar um pouco o foco, trazendo novos ares para os leitores. Enquanto no primeiro álbum os três “heróis”, Gus, Clem e Gratt tinham seus momentos de protagonismo, esta edição é focada quase inteiramente em Clem, nas suas aventuras de ação e amor, com breves participações de seus parceiros bandidos.

Arte de Christophe Blain.

Arte de Christophe Blain.

Apesar de Belo Bandido iniciar com uma história quase inteiramente protagonizada por Gus em mais uma desventura amorosa, dela em diante a relação entre os três parceiros se distancia. A distância entre eles só é retomada nas aventuras finais, e durante todo o álbum Clem lida com outra distância, a dele com relação a sua esposa e filha, e também de sua amante. Os foras-da-lei se separam graças a formas diferentes de pensar, especialmente com relação a Clem, que utiliza seus roubos para retornar à família com tudo do bom e do melhor.

As saidinhas de Clem e Isabella, sua amante fotógrafa, movem boa parte dos contos. O ator utiliza os dois personagens para contar histórias do passado e também imaginar possíveis futuros, aprofundando ambos e situando o leitor com relação a vida pessoal e íntima de cada um deles. Em dado momento, a vida de ambos parece inclusive se alternar, com o bandido e a fotógrafa trocando de posição. E tudo com relação aos dois é sempre retratado de forma picante e aventuresca, como o romance entre eles é mostrado desde o início. O extremo oposto das desilusões de Gus, o azarão.

Clem, em: Um Dia de Fúria.

Blain faz brincadeiras com a arte de maneira ainda mais primorosa, retratando cenas ágeis e bem humoradas em cada uma das páginas. O autor invade o pensamento e as viagens mentais dos personagens em diversos quadros de uma forma criativa e as cores de Alexandre Chenet e Walter dão o ar da graça de diversos cenários e situações, criado um aspecto único para cada ambiente.

Em certa altura, o bom humor é substituído por uma dose de drama familiar e nostalgia, algo que ressalta bastante o pensamento mais maduro de Clem em comparação com seus amigos. A convivência dele com todos ao seu redor e a forma como o autor imagina a profissão de Ava, esposa de Clem, adicionam outra camada de dramaticidade para as narrações. No fim das contas, todo o núcleo que circunda este protagonista é explorado bastante de uma forma convincente.

Capa nacional do segundo volume da série.

Capa nacional do segundo volume da série.

O segundo volume desta coleção não só mantém o ótimo nível do início da série, como também explora ainda mais este mundo e cria laços mais fortes com o leitor. Apesar da mudança de foco, Blain prova-se capaz de continuar contando suas “histórias de homens” mesmo enveredando para outro lado, sem perder sua forma cativante de criar gibis, que prende a atenção de todos. Trazida ao Brasil pela SESI-SP Editora, a coleção continua na França com mais dois álbuns, e fica a torcida para que tudo relacionado a este universo tão bem desenvolvido seja publicado por aqui.

Gus – 2. Belo Bandido é um álbum de 88 páginas em formato 29,1 cm x 21,2 cm, contendo lombada quadrada, capa cartão e preço de capa sugerido de R$ 35,00.

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.